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SEJAMOS TODOS FEMINISTAS, CHIMAMANDA NGOZI ADICHIE
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Resenha: Sejamos todos feministas, Chimamanda Ngozi Adichie

Chimamanda Ngozi Adichie ainda se lembra exatamente do dia em que a chamaram de feminista pela primeira vez. Foi durante uma discussão com seu amigo de infância Okoloma. “Não era um elogio. Percebi pelo tom da voz dele; era como se dissesse: ‘Você apoia o terrorismo!’”. Apesar do tom de desaprovação de Okoloma, Adichie abraçou o termo e começou a se intitular uma “feminista feliz e africana que não odeia homens, e que gosta de usar batom e salto alto para si mesma, e não para os homens”. Sejamos todos feministas é uma adaptação do discurso feito pela autora no TEDx Euston, que conta com mais de 1,5 milhão de visualizações e foi musicado por Beyoncé.

A resenha de Sejamos todos feministas é um pouco diferente porque foi o primeiro livro escolhido para discussão e debate no Beco Club, grupo de leitores VIPs do Beco Literário, e foi produzida por todos que participaram. Dessa forma, ela será apresentada aqui em forma de diálogo, com a devida assinatura de cada um dos Becudos que participaram.

O livro fala o quanto é importante que todos conheçam sobre o movimento feminista. Conta sobre suas primeiras impressões e o quanto foram negativas, pois as pessoas que desconhecem deturpam o movimento, pois quem desconhece acha que é sobre o odiar o gênero masculino, mas não é isso, trata-se de igualdade e equidade entre os sexos. A autora fala que podemos sim ter poderes socioeconômico e políticos equivalentes ao do homem. E o quanto incomoda não se considerar subjacente perante a uma sociedade extremamente patriarcal, machista e misógina. É possível e necessário que todos apoiem o movimento, pois é sobre todas as mulheres e seus direitos, é sobre não se acuar quando quisermos conquistar algo. Eu acho que esse livro da Chimamanda deveria ser lido por todos, pois é uma forma didática e rápida de explicar que não é sobre ódio, é sobre acordar, levantar e fazer algo. — Mayara da Silva Esteves

Achei ela super didática na forma de abordar o tema, a linguagem clara que faz com que a gente entenda facilmente. Eu tinha lido Americanah dela e gostei mto da linguagem também, fiquei curiosa pra ler os outros livros. — Danielle Rocha Gonzales

Bem, primeiramente, o livro, como já foi dito, é de uma leitura simples e objetiva. Nas primeiras páginas, a autora conta como foi o primeiro contato com o título de feminista, demonstrando através de fatos por ela vividos. Mas enfim, isso, nesse momento, não é tão relevante quanto o fato dela evidenciar um fato bastante interessante, que ao meu ver foi, de certa forma, inconsciente: feminismo é mais que uma palavra. É simples ver que ela por si só já era feminista antes mesmo de saber definir o que é isso. Um ponto importante que ela destacou é que o machismo às vezes é inerente à sociedade em situações simples, como o fato de o homem sentir-se obrigado a pagar tudo durante o encontro (ato que é visto como romântico) ou no simples fato de a mulher se sentir obrigada a se vestir como um homem, pois passa a visão de que será ouvida (mesmo que inconsciente). Ademais, a autora destaca a importância de salientar que o feminismo não é um movimento de oposição a homens. Pelo contrário, a ideia de tornar um mundo com maior equidade de gênero deveria ser vista como algo bom, inclusive para os homens. Outro ponto importante é a negligência que homens e mulheres têm para com a questão de gênero, ou seja, muitos deixam de lado as discussões que envolvem esse tema, por ser tudo como irrelevante ou delicado. Por fim, não se pode negar a existência do machismo, já que, num exemplo prático, se numa sala houver um homem pobre e uma mulher rica, embora de classe e estrato socioeconômico mais elevado, o homem pobre tem o benefício de ser homem. Para finalizar esse texto enorme, eu preciso falar sobre as duas últimas páginas: homens e mulheres muitas vezes não reivindicam o título de “feministas” mesmo que sejam em pequenas atitudes. O simples fato de se negar a receber menos exercendo a mesma profissão, torna uma mulher feminista. O simples fato de um homem reconhecer o problema e tomar as rédeas de uma luta contra a desigualdade o torna feministo. Então, lutemos por igualdade, lutemos por justiça, sejamos todos feministas. — Pedro Henrique de Jesus

Só um adendo homens que apoiam o movimento são pró-feminismo. — Mayara da Silva Esteves

Para mim, foi uma leitura cansativa, pois eu já tinha o conhecimento e pensamento como o que ela expressa no livro… E, mesmo assim, acho que é um livro que deveria ser lido e estudado por todos. Eu faço parte de um grupo de mulheres no intuito de empoderamento e empatia. Falamos muito sobre vários assuntos, principalmente, situações que englobam a discriminação e o machismo. E é bem difícil de acreditar q este assunto seja novo para a maioria das pessoas. — Jaqueline Pereira

Eu sou homem, mas eu acredito que o feminismo foi se vulgarizando como um movimento parecido com o Black Block: o Movimento Social de perturbação da paz. Por isso, talvez, as mulheres não se sintam representadas pelo feminismo. — Pedro Henrique de Jesus

Isso acontece porque a mídia deturpa, não é interessante para o patriarcado ver que mulheres não “obedecem” mais o que é imposto a elas. — Mayara da Silva Esteves

O problema no feminismo está o radicalismo, que, convenhamos, existe em tudo. — Jaqueline Pereira

Além de tudo eu acho que é uma questão muito histórica. Minha mãe, por exemplo, conversa comigo e fala coisas que eu mesmo a repreendo, porque, de certa forma, lhe foi imputada como normal. — Pedro Henrique de Jesus

Não dá pra militar apenas através da tela de um computador. Claro que a internet ajuda muito na disseminação do movimento, ajuda a chegar a diversos lugares. — Mayara da Silva Esteves

Quando pontuo o fato de eu ser homem, é por conta da questão de lugar de fala. — Pedro Henrique de Jesus

Claro, todo meio de comunicação tem seu lado ruim. Por isso temos que aproveitar o que tem de melhor para fazer o que é bom. Eu vou recomendar para que assim que puderem, lerem alguns livros de Bell Hooks e Angela Davis. Por tudo o que já li e discuti sobre, o que mais precisa são as mulheres aprenderem a se respeitar. Falta empatia. O dia que a mulherada aprender que uma apoiando a outra todas conseguirão crescer a distância que existe hoje entre os gêneros será mínima. — Jaqueline Pereira

Como eu disse, a intenção vai ser sempre separar as mulheres, pois sabem que mulheres juntas e unidas conquistam coisas, principalmente liberdade. Por isso é bom sempre conversar com as pessoas do nosso convívio sobre o assunto. Um passa pro outro, pro outro e pro outro, quando formos ver, já chegamos lá. — Mayara da Silva Esteves

Outra questão bem interessante foi o fato de o livro ser uma adaptação de um discurso dela. Não foi algo que ela sentou e escreveu. Ela se levantou e falou, depois resolveu escrever. Ou seja, se fôssemos colocar outro título na obra seria “Descubra agora se você é feminista” — Pedro Henrique de Jesus

Isso é tão legal. É uma mulher de voz, isso enche nossos corações e principalmente das mulheres negras que são representadas de duas formas. — Mayara Cristina dos Santos Ferreira

Então, antes de começar a falar do livro, gostaria de dizer que ele veio na hora certa. Comecei a fazer um curso chamado Escola de Liderança para Meninas esse ano, e lá temos oficinas que falam sobre tudo que as meninas têm o direito de saber, porém a maioria não tem interesse, e um dos principais temas foi o feminismo. Quando vi o livro, eu fiquei louca pra ler e ver o ponto de vista da autora sobre o tema, e me identifiquei muito quando ela fala ouviu ser chamada de feminista como uma ofensa. O livro aborda um tema tão importante para nós, meninas, que estamos conquistando cada vez mais nosso lugar e não deixando ninguém nos calar… tão importante, mas também triste saber que muitas não veem desse jeito. Ainda mais os homens. O episódio em que ela e o amigo vão sair, e finalmente cai a ficha dele de que há sim essa diferença entre meninas e meninos, me deixou com um sentimento de “finalmente! ainda há esperança”

Marquei um trecho que me tocou de uma forma diferente. “Se repetimos uma coisa várias vezes, ela se torna normal. Se vemos uma coisa com frequência, ela se torna normal. […] Se só os homens ocupam cargos de chefia nas empresas, começamos a achar ‘normal’ que esses cargos de chefia só sejam ocupados por homens.”

Eu ouvi uma frase um dia que dizia “O feminismo existe pra deixar de existir”, pois o movimento existe justamente porque não há a igualdade de gênero, caso existisse essa igualdade, o movimento não iria precisar existir. — Camila Alves de Souza

A predominância do feminismo é muito boa em relação a termos líderes mundiais como ministras de Estado, presidente e outros papéis importantes. Estamos ainda em passos lentos existe ainda esperanças de mudanças. — Silvia Paula Campos Rainho

Vocês sabiam que nós mulheres somos 70% da população miserável mundial? E que se o meio político quisesse acabar com a fome para melhorar este quadro poderiam? Mas como nós alimentamos o sistema capitalista que é comandado pelo sistema patriarcal, não vão acabar com isso. Quanto mais pobres, mais filhos. Quanto mais filhos, mais fácil de se explorar. Por isso nossos corpos não são nossos de fato, precisamos de autorização para uma simples laqueadura. E pasmem, só pode se tiver dois filhos, 25 anos e assinatura do marido. Do marido, isso mesmo. — Mayara da Silva Esteves

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Caminho Longo, Vinícius Fernandes
Livros, Resenhas

Resenha: Caminho longo, Vinícius Fernandes

Sinopse: Uma tragédia afastou para sempre Bruno de seu irmão Mateus. Sem seu melhor amigo e confidente, ele se prende a lembranças e tenta superar o luto.

Entre angústias e o crescimento pessoal, ele precisará definir do que é possível abrir mão em nome da felicidade, mesmo que isso represente viver de um modo que seus pais podem não aceitar.

Enquanto define o que deseja de seu futuro, Bruno irá descobrir que nossas existências são feitas de momentos e que cada um deles é um aprendizado nesse caminho longo chamado de vida.

Quando recebi o primeiro texto sobre “Caminho Longo”, algo já despertou em mim aquele comichão pra ler, ainda mais que sou apaixonado por romances e dramas, com a qualificação de que era LGBT. Me ganhou pela temática. Recebi o livro do autor um pouco tempo depois e comecei a ler no dia em que terminei meu TCC, querendo esfriar a cabeça e passar um tempo livre. Eu tinha uma hora de leitura antes da faculdade e pensei, bom, vou começar o livro e depois termino. Mas não foi bem assim que as coisas aconteceram.

Caminho Longo conta a história de Bruno, um garoto gay que ainda está se descobrindo como tal. Ele sabe que é diferente dos outros de sua idade e sabe que há uma remota possibilidade de gostar de garotos. A trama tem um prólogo que me deixou ansioso e um desenvolvimento rápido, que mostra Bruno criança e logo depois, já no ensino médio, quando conhece Luiz, sua primeira paixão avassaladora.

O romance com Luiz logo se desenvolve em proporções inimagináveis. Eles ficam juntos no colégio, saem pra tomar café e ir no cinema depois dele, viajam pela primeira vez juntos e tem outras primeiras vezes que acontecem de forma tão sutil no livro que chega a ser bem fofo. Isso é algo que vale destaque, porque poucas pessoas conseguem dosar a sutileza de uma cena de sexo a ponto de saber que ela está ali, mas não a ponto de chegar no erótico-sensual-maior-de-idade.

Ao longo desse caminho, Bruno ainda não se assumiu para sua família, mas sempre teve o apoio do irmão mais velho, Mateus, que é precocemente e brutalmente morto em um assalto logo nas páginas iniciais. Sim, você chora já de início e foi isso que me fez não largar o livro depois da minha primeira hora de leitura e ir pra faculdade lendo depois. Terminei logo em seguida, incapaz de deixar pra trás sem saber o que aconteceria dali em diante.

O livro tem elipses temporais que vão e voltam, até que chega no ponto presente em que a história se desenvolve com uma certa linearidade. Não é confuso de entender, muito pelo contrário, o autor deixa bem claro quando se trata de uma lembrança e quando se trata de presente, o que também torna a leitura mais agradável.

Na época da morte de Mateus, descobrimos então, que Bruno não está mais com Luiz, seu primeiro amor, mesmo achando que eles ficariam juntos para sempre. Luiz passou em uma faculdade em outra cidade e o relacionamento não sobreviveu à distância. Cada vez mais longe, Luiz deu o gostinho doloroso e ácido de sua ausência para Bruno, seguido da pancada de uma traição na festa universitária. Essa parte do livro dói como um tiro, e se você já foi traído alguma vez na sua vida, vai te fazer rememorar da mesma forma e sofrer na pele de Bruno. A escrita bela de Vinícius Fernandes é ao mesmo tempo, brutal para o nosso coração fraco de leitor.

Bruno segue em frente com amores rasos, cada vez mais se decepcionando com as pessoas. Sonhando em ser escritor, lança o primeiro livro que é sucesso de vendas e conhece Diego, um fã que acaba por ser o grande amor de sua vida. Não é o primeiro, não é o segundo e tudo nos leva a crer que é o verdadeiro. E somos enganados mais uma vez. Depois de se assumir para os seus pais, se mudar para a casa de Diego e depois para o Canadá (!!!), Bruno e Diego começam a esfriar o relacionamento, como quem se perdeu e não sabe como se encontrar. Até tentam chamar uma terceira pessoa, Sam, por quem nutro ódio mortal para uma noite de aventuras, fato que aparece só afastar os dois ainda mais. Pausa para falar que uma parte sadomasoquista de mim gostou do relacionamento ter ido para a ruína depois de chamarem Sam para um sexo a três. Sempre tive a opinião de que isso mais atrapalha que ajuda e vê-la confirmada, mesmo que na ficção me traz uma pontada de paz interior.

Bruno até tenta salvar o relacionamento, mas Diego fica imaginando outra pessoa ao seu lado. Nada vai pra frente dessa forma, infelizmente e o livro se encerra com mais acontecimentos brutais na vida de Bruno que o levam para caminhos cada vez mais diferentes pelos quais nunca imaginou passar. “Caminho Longo” é uma leitura leve, daquelas que você consegue e precisa terminar em uma única leitura, mas espinhenta com muitas adagas enfiadas no seu coração. Mas o que mais eu poderia esperar de um drama, certo? Leitura obrigatória para quem é LGBT e já sofreu com decepções amorosas, o autor parece acessar a mente do leitor de alguma forma assustadora mas que traz aquela sensação de cura e calmaria. Recomendo muito (não só porque meu lado sádico gostou de sofrer com Bruno, mas também porque é realmente um bom livro).

45 do primeiro tempo, Patrick Santos
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Resenha: 45 do primeiro tempo, Patrick Santos

De leitura rápida, 45 do primeiro tempo é o primeiro livro do jornalista Patrick Santos, nascido em São Paulo, que ficou a frente de vários projetos na Rádio Jovem Pan por muitos anos, até que decidiu tirar um período sabático, deixando para trás uma carreira executiva estressante para encontrar mais equilíbrio em sua vida.

O livro é escrito como se fosse uma partida de futebol, em duas partes e com capítulos que também lembram certos momentos que rodeiam o jogo. Na primeira parte, Patrick comenta sobre as decisões e pensamentos que o fizeram chegar até o ano sabático. Com capítulos como “O caminho até o vestiário” e “Bate-bola na livraria”, ele tenta se encontrar e refletir se essa é mesmo a melhor decisão a se tomar naquele momento, levando em conta seu passado, presente e futuro, afinal, depois do sabático a vida continua.

Em certo ponto dos primeiros capítulos, o autor chega a comentar sobre suas primeiras experiências como estudante de Jornalismo e é impossível não se identificar. Acho que todos nós, jornalistas ou estudantes, chegamos na faculdade com aquela vontade de mudar o mundo com as nossas palavras, levando um pouquinho de cada um daqueles que admiramos na mochila.

Logo depois, ele conta sobre suas idas a livraria e esse é um outro momento que me identifiquei bastante e marquei para comentar. Santos fala sobre os livros milagrosos, que dizem que “basta querer mudar de vida para tornar-se um homem de sucesso”, que muitas vezes faz o efeito contrário na vida das pessoas e traz uma vida fadada ao fracasso, induzindo as pessoas a olharem suas dificuldades como uma falha de atitude. Sim, dramas reais exigem atitudes reais, não dez regras receita-de-bolo para mudar.

O autor então dá play no seu tão sonhado período sabático, na segunda parte do livro e nessa parte, somos transportados para sua vida pessoal como um livro aberto, literalmente. Aqui me identifico novamente quando ele comenta sobre pessoas revoltadas por vidas não vividas. É pesado conviver com elas ou somente estar ao lado delas.

Você já reparou como é pesado estar ao lado de alguém que cospe revolta por uma vida não vivida? A pessoa não sorri, nada pulsa nela, a não ser o pessimismo. Está morta, só não se deu conta do fato.

Outro ponto que vale a pena comentar é como nós jornalistas somos iguais em essência. Há um capítulo chamado “O mundo em meu bairro”, em que Patrick comenta que antes de conhecer o mundo, devemos conhecer o bairro em que vivemos, que me transportou diretamente para o meu primeiro semestre na faculdade de jornalismo. Chegamos entusiastas por fazer matérias investigativas criminais que revelariam para o mundo as falcatruas do governo. Minha professora olhou e disse as exatas palavras de Patrick: antes vocês precisam conhecer os problemas do bairro de vocês. E essa foi minha primeira matéria no jornalismo, meu bairro e os problemas de acessibilidade nas calçadas. Fui bloqueado por pelo menos cinco vereadores e meses depois, algumas reformas “de rotina” da prefeitura começaram nas ruas adjacentes a minha. Antes de mudar o mundo, podemos mudar o nosso primeiro mundo.

O livro se encerra com o fim do período sabático de Patrick Santos, e ele diz que pode reencontrar sua história e compreender que todos temos problemas, o que muda é a forma com a qual lidamos com eles. Revigorado, o autor agora se prepara para o início do seu segundo tempo no gramado da vida.

Posso estar sendo utópico, mas acredito firmemente que é preciso dar um sentido a nossa vida, cada um de nós, para que o mundo do futuro não seja apenas destruição e morte. É hora de subir as escadas e voltar ao gramado. O segundo tempo vai começar.

Anjos e Demônios, Dan Brown
Livros, Resenhas

Resenha: Anjos e Demônios, Dan Brown

Antes de decifrar O Código Da Vinci, Robert Langdon, o famoso professor de Simbologia de Harvard, vive sua primeira aventura em Anjos e Demônios, quando tenta impedir que uma antiga sociedade secreta destrua a Cidade do Vaticano.

Às vésperas do conclave que vai eleger o novo Papa, Langdon é chamado às pressas para analisar um misterioso símbolo marcado a fogo no peito de um físico assassinado em um grande centro de pesquisas na Suíça.

Ele descobre indícios de algo inimaginável: a assinatura macabra no corpo da vítima – um ambigrama, uma palavra que pode ser lida tanto de cabeça para cima quanto de cabeça para baixo – é dos Illuminati, uma poderosa fraternidade considerada extinta há 400 anos.

A antiga sociedade ressurgiu disposta a levar a cabo a lendária vingança contra a Igreja Católica, seu inimigo mais odiado. De posse de uma nova arma devastadora, roubada do centro de pesquisas, ela ameaça explodir a Cidade do Vaticano e matar os quatro cardeais mais cotados para a sucessão papal.

Correndo contra o tempo, Langdon voa para Roma junto com Vittoria Vetra, uma bela cientista italiana. Numa caçada frenética por criptas, igrejas e catedrais, os dois desvendam enigmas e seguem uma trilha que pode levar ao covil dos Illuminati – um refúgio secreto onde está a única esperança de salvação da Igreja nesta guerra entre ciência e religião.

O livro começa com um terrível assassinato a sangue frio. O assassino deixa o corpo da vítima marcado a fogo com a palavra Illuminati, que é uma antiga sociedade que estaria extinta há mais de 400 anos. O professor Robert Langdon, especialista em simbologia e com conhecimentos a respeito dessa sociedade, é chamado para ajudar na investigação do crime. 

“Professor Langdon, passou a vida inteira pesquisando símbolos como este que agora tem nas mãos. Eu lhe pergunto, por quanto tempo mais ainda vamos que ter que fingir que já não decidiu vir comigo?”

Então, Langdon viaja para o CERN (Centro de Pesquisas Nucleares), na Suíça, e descobre que a vítima se chamava Leonardo Vetra e era um cientista do Centro que trabalhava com um projeto secreto, chamado antimatéria. Esse material era considerado muito perigoso, pois uma gota da antimatéria poderia devastar tudo a um raio de um quilômetro de distância. Para agravar ainda mais a situação, essa antimatéria havia sido roubada.

Enquanto Langdon ainda está no CERN, uma ligação é recebida. É o assassino que diz ser um Illuminati e avisa que a antimatéria está em Roma, e que a sociedade pretende destruir o Vaticano. Imediatamente, Langdon e Vittoria, filha de Leonardo e cientista que ajudava o pai nas pesquisas, partem para Roma para tentar impedir a tragédia.

Quando chegam ao Vaticano, Langdon e Vittoria são recebidos por um carmelengo que era uma espécie de camareiro e homem de confiança do papa. Todavia, o papa havia falecido há quinze dias, e era chegado o dia do conclave (escolha do novo papa). 

Enquanto Langdon e Vittoria estão fazendo pesquisas a respeito dos Illuminati nos arquivos do Vaticano, o assassino entra em contato novamente e avisa que os quatro cardeais preferidos para serem eleitos haviam sido sequestrados e, a partir das vinte horas, um deles seria assassinado em público, de hora em hora. 

“Nada desperta mais o interesse das pessoas do que a tragédia humana.”

Além disso, assassino avisa também que à meia noite a antimatéria iria explodir e, consequentemente, o Vaticano seria destruído. A partir do momento dessa ligação, Robert e Vittoria travam uma luta contra o tempo para tentar descobrir onde seriam esses quatro locais escolhidos para os assassinatos e onde estaria a antimatéria.

A capacidade de Dan Brown em misturar fatos históricos, artes, religião e narrativa é impressionante. A história é vívida, o que nos faz imaginar cada local, cada cena do livro, além de fazer os níveis de adrenalina irem lá no alto! 

O autor tem o incrível dom de aguçar a curiosidade do leitor a cada capítulo ao acrescentar suas típicas reviravoltas e retardando um pouco as respostas para algumas perguntas. Outro ponto que merece destaque é o livro traz uma discussão muito interessante entre religião e ciência. Uma leitura dinâmica e envolvente, cheia de suspense e adrenalina, digna de prender o leitor da primeira até a última página!

“A ciência e a religião não estão em desacordo. É que a ciência ainda é muito jovem para compreender.”

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Resenha: Um Milhão De Finais Felizes, de Vitor Martins

Um Milhão de Finais Felizes é o segundo romance do autor e ilustrador Vitor Martins. Publicado (nem tão) recentemente pela Globo Alt, a história dessa vez vai um pouquinho além no quesito idade dos protagonistas, se diferenciando um pouco do já resenhado por aqui, Quinze Dias. Aqui, os protagonistas já dividem o seu tempo com estudos, trabalhos, problemas familiares e a tentativa de conseguir manter uma vida social no meio de tudo. Já começo dizendo que ambos os livros não possuem relação, mas passa a impressão de que a melhor ordem de leitura é Quinze Dias > Um Milhão de Finais Felizes, pois, no primeiro você se encanta e no segundo você fica meio: “eita, essa é minha vida”.

Acompanhamos a história de Jonas, um ‘barman’ no conceituadíssimo Rocket Café, uma versão intergaláctica da Starbucks, que tenta mesclar seu tempo com sua cabeça multicriativa a ponto de ele andar com um bloquinho de anotações por aí para anotar qualquer ideia para um livro que ele possa ter ao decorrer do dia. Jonas lida com uma mãe bem religiosa e um pai que… bem, como podemos descrever? Folgado acho que se encaixa bem. Ele ainda não estuda, mas, já sente a pressão por ainda não ter ‘encontrado algo para fazer’, o que é bem normal quando estamos em nossos 19-20 anos (palavra de quem trocou 3 vezes de faculdade neste mesmo período). E é durante o expediente de trabalho que Jonas conhece Arthur, o lindo ruivo, com cabelos ruivos, coque e jeito bonitão que nos deixa babando. Arthur se torna uma inspiração para Jonas, que começa a escrever um romance LGBT com o bonitão em mente, que mais legal, é apresentado durante o livro! Ou seja, temos uma história nova dentro de uma história (e isso foi muito demais, sério).

Os encontros e desencontros desenvolvidos são muito corriqueiros e são coisas que realmente acontecem conosco – a dificuldade me reunir todos nossos amigos e a necessidade de tê-los com você quando as coisas se apertam, a frustração por acharmos que não estamos fazendo o que deveríamos – como se profissionalizando em algo ou buscando melhores oportunidades, por não nos encaixarmos em algum molde que a ‘sociedade’ julga que devemos estar. Os embates entre o personagem principal e a família são de dar um nó na garganta de tão reais. O que mais chama a atenção nessa parte é o fato de o assunto não ter se resolvido com a facilidade que estamos acostumados ao ler em outras histórias: não tivemos um final feliz ou triste, considero inclusive um final real, pois, é bem comum as coisas ficarem como estão e termos que lidar com isso: sem choro nem vela. A amizade de Jonas com sua companheira de trabalho Karina também é algo a se destacar: afinal, acaba sendo normal a gente se apegar muito aos amigos que estão inseridos em nossa rotina e acabar se culpando por se afastar daqueles de escola, e tentar juntar estes ciclos de amigos para ter todos juntos: as vezes dá certo, ás vezes não dá, e tudo bem com isso;  são os encontros e desencontros que falei ali em cima.

Preciso dizer que o melhor de Um Milhão de Finais Felizes está em Jonas: em seu jeito desajeitado, a forma que ele viu o Arthur e se encantou a ponto de se sentir tão inspirado por ele, o modo como tenta ajudar e ser um apoio para os seus amigos. Sabe aquele vídeo da Oprah dizendo “ela é a mãe que eu nunca tive, a irmã que todos querem, ela é a amiga que todo mundo merece, eu não conheço uma pessoa melhor”, se não viu, clique aqui, então. É o Jonas para mim. Inclusive, a Mariana Mortan fez um vídeo bem legal no canal dela, Chá de Prosa, que deixo aqui para vocês assistirem, que resume bem essa personalidade incrível do Jonas e a forma como o Vitor Martins conseguiu construí-lo de um jeito bem verossímil:

Para todos os garotos que já amei
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Resenha: Para todos os garotos que já amei, Jenny Han

É com o coração cheio de ciúminho que venho aqui fazer essa resenha de Para todos os garotos que já amei pra vocês. Esse livro é tão lindo e repleto de fofura, que eu queria que ele fosse só meu. Mas em prol do bem geral da nação, vamos falar um pouco da Lara Jean pra vocês?

+ Resenha: Fogo sobre fogo, Jenny Han & Siobhan Vivian

Lara Jean guarda suas cartas de amor em uma caixa azul-petróleo que ganhou da mãe. Não são cartas que ela recebeu de alguém, mas que ela mesma escreveu. Uma para cada garoto que amou — cinco ao todo. São cartas sinceras, sem joguinhos nem fingimentos, repletas de coisas que Lara Jean não diria a ninguém, confissões de seus sentimentos mais profundos. Até que um dia essas cartas secretas são misteriosamente enviadas aos destinatários, e de uma hora para outra a vida amorosa de Lara Jean sai do papel e se transforma em algo que ela não pode mais controlar.

Lara Jean é uma jovem de 16 anos, que teve que amadurecer rapidamente após a morte de sua mãe. Junto com suas duas irmãs, elas assumem um pacto de fazer a vida do seu pai mais fácil, tomarem conta da rotina da casa e serem boas meninas. Lara Jean faz seu papel de filha do meio muito bem, mas não se sente destemida como sua irmã mais velha Margot ou determinada como sua irmã pequena Kitty. Lara Jean se sente “apenas” a filha do meio.

Além disso, Lara Jean tem um segredo. Na verdade ela tem cinco segredos: ela escreve cartas de amor. Não cartas para seus namorados (afinal ela nunca teve nenhum), ela escreve cartas de despedida quando quer se desapaixonar. Quando sente que precisa esquecer e colocar um ponto final naquela história, ela se liberta escrevendo tudo que queria ter dito para os cinco garotos que ela já amou. E guarda. Numa caixa muito preciosa.

“Se o amor é como uma possessão, talvez minhas cartas sejam meu exorcismo. As cartas me libertam. Ou pelo menos deveriam.”

Então imagine a surpresa da nossa protagonista quando descobre que suas cartas foram todas enviadas? Uma dessas cartas é a mais perigosa: a carta para o namorado de Margot, Josh. Lara Jean nutre uma paixão secreta pelo namorado de sua irmã há anos, e com medo que o garoto pense que ela ainda está apaixonada por ele, Lara Jean faz um acordo com outro destinatário de suas cartas: Peter Kavinsky. Aparentemente ela e Peter não tem nada em comum: ele é popular, jogador de Lacrosse e divertido enquanto ela gosta de ficar em casa de pijama lendo e fazendo cookies. E é mais ou menos por aí que começamos a nos apaixonar pela história. O namoro de mentira entre Peter e Lara Jean é uma das coisas mais lindas que já li em muito tempo.

“Acho que agora consigo ver a diferença entre amar alguém de longe e amar de perto. (…). O amor é assustador; ele se transforma; ele murcha. Faz parte do risco. Não quero mais ter medo. Quero ser corajosa…”

Apesar da história de fundo ser claramente o romance da protagonista, o livro vai muito além disso. Temos a representatividade de uma personagem oriental e que é fiel e orgulhosa de suas origens, temas como luto, a importância da família, abandono, bullying e patriarcado são tratados de maneira sutil mas efetiva. Apesar do destaque dado para as irmãs Song em todo o livro, pra mim, uma das melhores surpresas foi a construção dos personagens masculinos. Todos (e aqui eu digo TODOS) os personagens masculinos apresentados são sensacionais. Desde o pai de Lara Jean até os destinatários das cartas: não existem machistas ou aproveitadores – Homens, sejam assim!

Para todos os garotos que já amei foi o primeiro livro da autora Jenny Han que já li. Confesso que estava receosa de voltar a ler qualquer temática estudantil (já um pouco cansada de todas aquelas histórias de ensino médio…) mas meu Deus, obrigada por estar errada! Com uma escrita divertida e envolvente, Jenny Han nos entrega uma protagonista tão real em seus mínimos detalhes, que é impossível não se sentir parte dessa história. Leitura mais que recomendada. Faça esse carinho no seu coração e leia Para Todos Os Garotos Que Já Amei.

Ps. O livro é uma trilogia. Além dele temos a sequência “Ps. Ainda amo você” e “Agora e para sempre, Lara Jean”.

Imagem: Saraiva.com.br
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Resenha: O Milagre da Manhã, Hal Elrod

Imagem: Saraiva.com.br

Apesar de estar cansada de saber e ouvir sempre que acordar cedo é bom, eu sou o tipo de pessoa que quando posso, não perco uma oportunidade de acordar depois das 10h da manhã. No Brasil (ou seria “No mundo”?), grande parte das pessoas acorda cedo para a rotina de estudos e trabalho e acredita que os dias de folga são justamente para descansar e dormir até não aguentar mais. Mas quão benéfico pode ser sair da cama mais cedo que o habitual? “O Milagre da Manhã” é capaz de responder!

O livro “O Milagre da Manhã”, escrito por Hal Elrod e publicado no Brasil pela editora Best Seller, é um livro curto, com menos de 200 páginas e parágrafos pequenos que apresentam linguagem simples, o que é ótimo pois a leitura não se torna maçante e é possível ir lendo nos intervalos das atividades do dia-a-dia. A leitura é muito gostosa, ainda que no início a ideia e o conceito do livro pareçam um pouco superestimados. Os poucos capítulos do livro são muito inspiradores, motivadores e fonte de muito ensinamento.

O Milagre da Manhã” nos faz pensar justamente por outra perspectiva. Você já acordou cedo um dia, resolveu várias pendências antes do meio dia e ficou se perguntando como aquilo foi possível? Talvez a parte mais difícil para a maioria de nós seja não dormir tão tarde para conseguir acordar mais cedo no dia seguinte. O autor, Hal Elrod, sugere acordar uma hora antes de iniciar suas atividades cotidianas, mas isso pode ser adaptável ao seu estilo de vida.

Mas daí surge aquela dúvida “Devo acordar mais cedo para ser mais produtivo, mas o que fazer nessa hora, por onde começar?” Uma coisa que funciona muito para mim e é ideia central do livro é: Ter motivação! Traçar um roteiro, planejar seu dia, organizar suas atividades… O Milagre da Manhã serve de corrimão, te guia, apoia e te indica um caminho, mas não necessariamente você deve fazer exatamente o que o autor indica, é possível personalizar seu roteiro de acordo com suas necessidades.  Hal Elrod pontua seis tópicos a serem trabalhados antes de “iniciar” seu dia, seja de estudo ou de trabalho:

Silêncio: Simplesmente, manter-se em silêncio! Seja meditando, refletindo ou qualquer outra atividade silenciosa (só não vale cochilar nesse momento, hein?).

Afirmações:  Ser positivo e generoso você mesmo, reconhecer suas qualidades, não se depreciar e apontar os próprios defeitos, falar em voz altas seus objetivos, trabalhar inseguranças e a autoestima.

Visualização: Avistar seu horizonte, seu futuro, pensar sobre onde você quer estar e quem quer ser no futuro, seja ele próximo ou distante.

Exercícios: Realizar qualquer tipo de atividade física, uma que você se identifique e te faça sentir bem e disposto.

Leitura: Procurar ler livros, revistas, artigos, o que quer que seja, que te acrescente algo.

Diário: Escrever ideias, metas, escrever razões pelo qual é grato, textos autorais, etc.

Vale lembrar que a ordem em que cada uma dessas atividades será realizada você quem vai decidir. Confesso que a parte de realizar exercícios físicos é a mais difícil para mim e por muitas vezes procrastinei até não dar mais tempo de fazer nenhuma atividade (não sigam meu exemplo!!) mas estou tentando reparar isso. Percebi ainda nesse período, quão fundamental é ficar em silêncio, desfrutando da minha companhia, pensando sobre coisas que são importantes para mim, geralmente, já aproveito o momento após o silêncio para anotar meus pensamentos e ideias.

Tendo em vista a dificuldade de acordar cedo e tornar esse tempo produtivo, Hal Elrod sugere se afastar de tudo aquilo que te afasta do seu objetivo. Não ficar perto de pessoas preguiçosas ou que te desmotivem pode ser determinante para o seu sucesso no desafio. Além disso, perder o hábito de dizer que não é uma pessoa matutina e se convencer do contrário também pode ser o empurrãozinho que te falta para tornar o ato de acordar cedo uma coisa natural.

No livro, o autor ensina também algumas táticas para não sabotar a si mesmo no desafio do milagre da manhã, como levantar e já trocar de roupa ou colocar o celular para despertar longe da cama e assim ser obrigado a levantar para desligá-lo. Sei que muitas pessoas rejeitam ou subestimam livros de desenvolvimento pessoal mas eu os convido a dar uma oportunidade para “O Milagre da Manhã” e depois se quiserem, compartilhar comigo a experiência nos comentários. Eu vou adorar saber o milagre da manhã de vocês!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Confesse
Livros, Resenhas

Resenha: Confesse, Colleen Hoover

Quando ouvi falar pela primeira vez sobre “Confesse”, minha atenção logo foi despertada. O livro conta a história de Owen, um artista plástico que usa os segredos deixados por pessoas aleatórias em sua porta como inspirações para seus quadros – e a autora afirmou que as confissões usadas ao longo do livro eram todas verídicas e enviadas pelos leitores. Além disso, conhecemos Auburn, uma jovem que desistiu do amor aos 15 anos de idade.

+ Veja outro ponto de vista de Confesse, da Colleen Hoover

Auburn Reed perdeu tudo que era importante para ela. Na luta para reconstruir a vida destruída, ela se mantém focada em seus objetivos e não pode cometer nenhum erro. Mas ao entrar num estúdio de arte em Dallas à procura de emprego, Auburn não esperava encontrar o enigmático Owen Gentry, que lhe desperta uma intensa atração. Pela primeira vez, Auburn se vê correndo riscos e deixa o coração falar mais alto, até descobrir que Owen está encobrindo um enorme segredo. A importância do passado do artista ameaça acabar com tudo que Auburn mais ama, e a única maneira de reconstituir sua vida é mantendo Owen afastado.

Sempre que começo um livro da Colleen, vou preparada para muito choro e (com todo respeito) um certo desgraçamento psicológico. E logo no prólogo ela não deixa a desejar: ao final da página quatro estou em lágrimas e cogitando tomar um anti-depressivo antes de continuar a leitura.

Mas acaba aí. Estranho, eu sei. Mas todo o drama pesado e o envolvimento emocional forte que costumam acompanhar os livros de Colleen foram substituídos por uma leitura leve e divertida. Ela novamente nos entrega um mocinho livre de defeitos (estragando os demais homens do mundo), juntamente com uma protagonista forte e marcada por traumas passados que a impedem de confiar ou se entregar ao romance. É um pouco clichê? É. Eu estou reclamando? Não. E só digo isso porque a autora consegue, mesmo envolta no roteiro mais batido da história da literatura, trazer personagens profundos que nos envolvem em uma leitura muito fluída e divertida. Somado a isso os mistérios da vida de Auburn, quando você se dá conta já está acabando o livro.

“Todos os dias da minha vida eu sinto como se estivesse tentando subir por uma escada que só anda para baixo. E não importa o quão rápido ou quanta força eu faça para correr e atingir o topo, eu continuo no mesmo lugar, correndo, sem chegar a lugar nenhum.”

Ocasionalmente nos deparamos com umas confissões tristes ou pesadas (como por exemplo: “Sou grata todos os dias que meu marido e seu irmão são exatamente iguais, Isso significa que é pequena a chance de meu marido descobrir que nosso filho não é dele.”) e logo depois um diálogo espirituoso e divertido entre Owen e Auburn. O casal tem uma ligação instantânea, mas um relacionamento que vai sendo construído aos poucos (o que acho ótimo, porque chega de amores relâmpagos nos livros atuais). Ainda há a discussão importante de temas como depressão e relacionamentos abusivos, sempre presentes nos livros da autora, mas de maneira nenhuma tão impactantes quanto em livros anteriores (como por exemplo, “É assim que acaba”).

“Existem pessoas que você encontra e passa a conhecer, e existem pessoas que você encontra, mas já as conhece.”

Esse foi certamente o livro menos emocionante da autora, mas longe de ser o que menos gostei. Confesse traz a medida certa de entretenimento e drama, sabendo balancear as emoções e deixar o leitor voraz até o último capítulo (e vale ressaltar, esse último é uma grata – e linda – surpresa aos leitores!)

A mulher na janela
Livros, Novidades, Resenhas

Resenha: A mulher na janela, A. J. Finn

A mulher na janela, de A. J. Finn, publicado pela editora Arqueiro, é o livro mais surpreendente que você vai ver esse ano e eu vou te dizer porquê. Vamos começar pelo autor que eu nunca tinha ouvido falar até o dia que recebi esse livro no evento da editora para livreiros e blogueiros e comecei a lê-lo.

A. J. Finn é formado em Oxford e já foi crítico literário em diversos jornais conceituados como o Los Angeles Times, The Washington Post e o The Times Literary Supplement. A mulher na janela é seu primeiro romance e já foi vendido para 36 países, está sendo adaptado para o cinema pela Fox e é número 1 na lista do The New York Times. Não é pouca coisa, né?

+ Especial: Conheça A. J. Finn

Continuando, bem na capa do livro, já temos a seguinte frase: Não é paranoia se está realmente acontecendo. Instigante. Aí, você já começa a leitura com essa pulga atrás da orelha. Existe a paranóia? Não existe? E se essa frase foi colocada ali só para me confundir? E se não foi? Você vai enlouquecendo um pouco no processo, mas é normal.

O livro começa contando a rotina da Dra. Anna Fox, uma psicóloga infantil que sofre de Agorafobia, medo de lugares abertos. No caso, a Dra. Fox sofre fortes crises de pânico e ansiedade quando é exposta a espaços fora da sua casa, mesmo que seja só o seu jardim. Na verdade, ela nem consegue deixar as janelas abertas ou se aproximar da porta da frente por saber o que a espera além daquilo.

Ela mora sozinha em uma casa constantemente fechada e escura, bebe muito vinho, é viciada em filmes antigos e seus passatempos incluem jogar xadrez online, orientar outras pessoas que sofrem de agorafobia em um fórum virtual e vigiar a vida dos vizinhos. Sim, munida de uma câmera com um super zoom e dona de uma casa de três andares com muitas janelas, Anna Fox sabe de tudo o que acontece em cada casa de sua pequena vizinhança, acompanhando a vida das outras pessoas que podem sair de casa e conviver em sociedade, tendo nisso uma espécie de distração e consolo, como se ela pudesse viver através delas.

Testemunha ocular de cada passo de seus vizinhos, Anna também vigia suas páginas em redes sociais, sabe onde trabalham, suas rotinas, quem vai embora e quem chega, enfim, nenhum detalhe escapa da sua super lente. É quando os Russell chegam. A família Russell composta pelo pai, a mãe e o filho adolescente rapidamente chama a atenção da Dra. Fox, afinal, era uma família totalmente nova para estudar. Ela teria que aprender a rotina deles, descobrir por que estavam ali, de onde vieram e o que faziam para poder integrá-los em seu pequeno reino particular.

Foi durante as várias horas de vigia que Anna começou a perceber algumas coisas que não se encaixavam e a se questionar outras que não conseguia entender. Por que o jovem Ethan estudava em casa, passava a maior parte do tempo parado diante do computador e parecia tão triste? Será que o Sr. Russell era um desses pais dominadores e abusivos? Por que a Sra. Russell só apareceu uma vez e, agora, ela não conseguia encontrá-la em nenhuma janela da casa?

Ao longo da descrição da rotina de Anna, vamos conhecendo mais sua história, como o acidente de carro que ela teve um tempo atrás e que desencadeou sua fobia, a fazendo viver longe do marido e da filha. Vamos vivendo junto com ela o drama das pessoas do fórum que desabafam suas próprias situações e o drama dos vizinhos que Anna continua vigiando.

Até que a tal Sra. Russell aparece em uma situação em que ajuda Anna em um ataque de pânico na porta de sua casa. As duas passam horas conversando, coisas são ditas ou insinuadas e o quebra-cabeça parece começar a se encaixar. Ou, pelo menos, era o que a Dra. Fox pensava antes de assistir Jane Russell ser esfaqueada bem de frente da janela de sua sala. Ali, na casa ao lado, no meio da madrugada e relativamente bêbada, Anna Fox não podia fazer muito mais do que chamar a polícia. E é aí que tudo começa.

Outra mulher aparece alegando ser Jane Russell e todos acreditam que Anna está delirando devido a sua grande quantidade de remédios misturados ao álcool. A partir daí, vivemos vários e vários capítulos envoltos nessa dúvida: Anna Fox viu mesmo o que disse ter visto ou tudo não passou de um delírio da sua doença aliado ao excesso de vinho? Ela conheceu mesmo Jane Russell naquele dia em sua casa ou fantasiou tudo aquilo por se sentir muito sozinha? Alistair Russell teria mesmo matado a sua mulher e colocado uma impostora no lugar ou eles são só uma britânica família comum sem nenhum segredo escuso?

Mergulhamos na cabeça de Anna, nos perguntamos junto com ela e duvidamos junto com ela. Afinal, seria A mulher na janela um emocionante thriller cheio de conspiração e suspense ou só os relatos de uma pobre mulher que enlouquece sozinha em sua casa depois de uma grande tragédia?

Volto à palavra que usei no primeiro parágrafo dessa resenha: surpreendente. Tenha certeza que sua opinião mudará várias e várias vezes durante essa leitura. Você duvidará de Anna, duvidará de todos os outros e duvidará até de si mesmo. Até que ponto algo é mesmo real e até que ponto não é? Quem conhece realmente os mistérios da mente humana e como podemos confiar 100% em tudo o que vemos? No fim, a frase que estampa a capa de A mulher na janela pode, afinal, ser usada como um norte e nos guiar para a verdade: Não é paranoia se está realmente acontecendo.

Atualizações, Livros, Resenhas

BECO NA BIENAL: Resenha Dois Garotos se Beijando, David Levithan #19

Um beijo para quebrar um recorde mundial, primeiros encontros apaixonados e histórias envolventes. Dois garotos se beijando, de David Levithan, é um livro para se encantar e emocionar. Como sempre, o autor não falha em criar uma ponte sólida entre leitor e personagem, despertando a empatia da maneira mais sutil.

O livro gira ao redor de cinco histórias distintas que, como esperado, se entrelaçarão. Tudo começa com Harry e Craig, dois garotos, que não são um casal, mas querem quebrar o recorde do beijo mais longo do mundo, como forma de protesto contra manifestações homofóbicas. Para isso, terão que se beijar por 32 horas 12 minutos e 10 segundos.

Além disso, somos apresentados a Ryan e Avery, dois garotos de cabelo colorido que se encontram em um improvável baile LGBT.  Acompanhamos o primeiro encontro dos dois. Avery tem cabelos cor de rosa, é transsexual e tem medo disso afastar Ryan, o garoto de cabelo azul e espetado com quem cruzou na festa. Também, conhecemos Cooper, um garoto solitário que encontra problemas para ter sua sexualidade aceita. Neil e Patrick namoram há bastante tempo e encontram problemas típicos de relacionamentos entre jovens. E, finalmente, Tariq, um garoto que nos mostra como é ser agredido apenas por ser quem é. Todos os garotos são diferentes, alguns são aceitos, outros nem tanto. Alguns estão em relacionamentos, outros só estão quebrando recordes de beijos. A leitura é um passeio por todas essas histórias, até que elas se unam.

Dois garotos se beijando é uma grande lição de empatia, ainda mais pelos narradores do livro que são muito diferentes do que qualquer outro: são os gays do passado. O tempo todo recebemos a história pela voz daqueles que tinham ainda menos liberdade do que os personagens, que viveram e morreram no auge da AIDS. Percebemos, o tempo todo, o quão difícil era para eles e como eles enxergam a vida desses jovens garotos, as quais estão observando de um outro plano. O autor do livro não falha em descrever uma história envolvente com uma narração singular, levando o leitor, o tempo todo, a se colocar dentro do enredo. É fácil se apegar aos personagens e sentir a emoção dos narradores.

Se você está curioso para conhecer mais sobre David Levithan, esse é o momento! O autor estará na Bienal de São Paulo no dia 11 de agosto, dando palestra das 18:30 às 19:30. Não hesite em pesquisar um pouco mais sobre esse autor exemplar que transforma as histórias de livros jovens adultos em lições de vida.