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Resenha: Searching Desirrê - Minha jornada pela liberdade, Desirrê Freitas
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Resenha: Searching Desirrê – Minha jornada pela liberdade, Desirrê Freitas

Desde que foi anunciado Searching Desirrê, eu fiquei ansioso para entender, pelo olhar da vítima, tudo o que tinha acontecido no caso do suposto tráfico humano encabeçado por Kat Torres, coach e ex-modelo, que chegou a envolver até a Yasmin Brunet na história. Me lembro de acompanhar ao vivo toda a explosão da história na mídia, toda a luta do perfil @searchingdesirre no Instagram e os posteriores desdobramentos. Mas, a pergunta que ficava era: o que realmente aconteceu nos Estados Unidos?

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Chico Felitti até chegou a lançar um podcast no ano passado, intitulado de A Coach, em que ele investigava todo o passado e o background de Kat Torres até chegar na figura mística que supostamente iniciou um esquema de tráfico humano das suas seguidores. Apesar disso, a gente não tinha conseguido ouvir nenhuma delas falando sobre o caso tão abertamente, o que é compreensível, devido ao nível traumático das situações pelas quais elas foram empurradas.

Searching Desirrê, uma narrativa crua e honesta de Desirrê Freitas vem para nos explicar todas essas lacunas, mas também como uma forma de escrita terapêutica rumo à cura desses traumas. No livro, que é bem curto e de leitura fácil, com escrita popular digna de alguém que precisa desabafar desesperadamente, Desirrê nos conta um pouco da sua vida e como ela chegou em Kat Torres.

À medida em que vamos conhecendo sua história, conseguimos compreender um pouco mais todas as artimanhas sutis utilizadas pela coach para ludibriar e atrair suas vítimas. Desirrê conta que ela precisava da sua independência financeira e Kat prometia à ela, mundos e fundos. Na verdade, Torres jamais cumpriria nenhuma promessa, mas ela não abria espaço para o pensamento crítico de Freitas. Ela não dava espaço sequer para o benefício da dúvida.

Muitas pessoas podem julgar a falta de noção das vítimas, mas não deveriam. Ao ler o livro com empatia, conseguimos abrir uma porta de situações que poderiam colocar qualquer um de nós na mesma posição. A gente tá acostumado a ver pessoas como Morena e Lívia Marini nas novelas da Globo fazendo tráfico humano de uma forma escrachada, mas a gente esquece que as formas sutis e os sequestros mentais que envolvem uma situação como essa também são consideradas igualmente abusivas.

Searching Desirrê não é uma grande obra literária para que sejam feitas críticas. É um diário, um desabafo e um pedido de ajuda de uma garota que teve seus sonhos utilizados contra ela em uma situação de extrema injustiça e que hoje, longe da sua algoz, consegue observar tudo o que aconteceu com mais clareza enquanto coloca as cartas na mesa. E sinto que esse livro é a apenas a primeira carta do seu novo castelo.

É uma leitura rápida, de fácil compreensão, apesar da dificuldade de digestão e que você consegue ler em apenas um dia, em uma sentada. Tem gatilhos fortes com relação à automutilação, abuso sexual, abuso moral, abuso patrimonial, abuso psicológico, suicídio e charlatanismo. Leia com cautela.

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Resenha: Trinta segundos sem pensar no medo, Pedro Pacífico (Bookster)
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Resenha: Trinta segundos sem pensar no medo, Pedro Pacífico (Bookster)

Trinta segundos sem pensar no medo é um livro de memórias de Pedro Pacífico, criador de conteúdo literário mais conhecido como Bookster. É um m relato sensível, cru e humano de alguém que está aprendendo com a vida que nos mostra como a arte – sobre tudo os livros, a literatura – serve de apoio em todos os momentos da nossa vida, sejam nos felizes ou nos mais desafiadores.

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O livro de Bookster começa justamente com a frase que dá título a obra, quando ele fica trinta segundos sem pensar no medo e resolve se abrir para sua mãe sobre sua sexualidade, um assunto que sempre o deixara aflito, preso, retraído e do qual ele não conseguia ver escapatória. O capítulo de início, curtinho, é tocante: ele se propõe a contar para a mãe que é gay, não consegue, respira fundo e manda uma mensagem de texto. Ela vem até seu quarto e ele conta.

A partir disso, nós leitores mergulhamos na trajetória de Pedro Pacífico antes mesmo de ele se tornar Bookster. Ele fala como se apaixonou pelos livros, ele conta suas vivências que começaram desde muito cedo – quando ele já desconfiava da sua sexualidade – mas se pressionava para não parecer gay, para não demonstrar nada que pudesse se encaixar como um esterótipo. Todo esse medo e repressão ocasionaram crises fortes de ansiedade que Pedro narra de forma honesta. Não espere nada de raso nesta leitura – ele se abriu e se abriu com uma verdade e vulnerabilidade que poucos de nós teríamos coragem.

O futebol pode ser um grande trauma para qualquer garoto brasileiro que não curte muito o esporte.

A escrita de Bookster é leve. Você vai lendo e quando percebe, já leu quase o livro todo. De vez em quando, você pode precisar parar, mas com certeza, vai ficar pensando até voltar. O livro pode despertar alguns gatilhos de ansiedade em quem convive com algum tipo de condição psicológica, mas que são facilmente equilibrados com uma mensagem positiva e esperançosa que é reverberada pelas leituras de Pedro. Em todo momento, ele cita trechos de obras que o marcaram, nos indica livros para ler em momentos diferentes da vida, mostra como ele aplicou a literatura nos seus momentos…

Mas assim como em outras áreas da cultura, a literatura tem tanto uma esfera acadêmica e profissional quanto um lado de entretenimento.

Trinta segundos sem pensar no medo é uma obra de arte sobre os efeitos da arte na nossa vida. Ler um livro de fantasia, ler um livro que você gosta mesmo quando todos odeiam pode não ser terapia, mas ainda sim tem efeitos terapêuticos que podem mudar a sua vida por completo. No final da narrativa, ele ainda nos traz algumas dicas de como podemos nos tornar leitores melhores e como a literatura serve para nos encantar e não como instrumento de ego.

– Você quer viver os sonhos que sonhou para mim ou viver os meus sonhos comigo? – perguntei. – Olha como estou feliz, como estou bem, depois de passar anos sofrendo. Você está chorando por estar me vendo mais feliz?

Pedro Pacífico, Bookster, teve a coragem de abrir suas feridas de uma forma visceral nesta leitura, de forma que eu me senti extremamente próximo dele em todos os momentos, compartilhando as angústias, alegrias, dores e conquistas, principalmente quando ele fala do seu padrinho, uma das grandes referências em sua vida – aqui, se eu estava contendo as lágrimas, deixei uma chuva torrencial cair de forma sincera.

Recomendo muito a leitura e Bookster, caso algum dia você leia esta resenha, acho que agora compartilhamos o mesmo mantra. Já me peguei em muitos momentos falando em trinta segundos sem pensar no medo e consegui dar o primeiro passo para muitas coisas que eu vinha adiando. Obrigado, obrigado, obrigado!

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Resenha: O portador da espada, Cassandra Clare
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Resenha: O portador da espada, Cassandra Clare

O portador da espada é o primeiro livro de alta fantasia adulta de Cassandra Clare, fora do mundo dos Caçadores de Sombra que a gente tanto ama. Por isso, fiquei extremamente ansioso desde o anúncio da nova série, dos personagens e da ambientação com a mitologia judaica, intrigas entre cortes, chefões do crimes e enemies to lovers.

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Eu gosto muito de uma trama política permeada com intrigas políticas, como é o caso de O povo do ar, da Holly Black. Tem uma pitada de romance, uma porcentagem maior de política e uma leve sombra de crônica. E fui com sede ao pote pensando em encontrar algo parecido no livro, só que mais desenvolvido – algo intermediário entre O príncipe cruel e Guerra dos Tronos, sabe? E aconteceu o quê? Me decepcionei, muito.

Os ricos vivem no alto e os pobres vivem no baixo.

O pessoal da Galera Record me enviou uma cópia de O portador da espada (obrigado demais, Galera! <3) alguns dias antes do lançamento em novembro. Meu plano era devorar o livro em uma semana e postar a resenha simultânea ao lançamento, afinal, todo livro da Cassandra eu não consigo largar até terminar. E nesse aqui, eu só conseguia largar – capítulos longos demais, histórias repetitivas demais, crônicas que não saem e não chegam a lugar algum… Foi um sonífero pra mim a maior parte da leitura.

Não se pode ter tudo, ou os Deuses invejariam os mortais.

O portador da espada conta a história de Kellian, um garoto órfão que é escolhido para ser o portador da espada do príncipe herdeiro, Connor, um cargo de respeito cuja missão é proteger o príncipe custe o que custar. Kel é então criado lado a lado com o príncipe, treinando junto, comendo junto, dormindo junto… Eles se tornam grandes amigos e confidentes e o trabalho de Kel é justamente estar sempre um passo a frente para proteger Con, mesmo que isso implique arriscar a própria vida de vez em quando utilizando um talismã que cria um certo glamour nas pessoas a sua volta e elas pensam que Kel é Conor.

Ele não sabia o que era ser necessário para outra pessoa: que despertava uma vontade de proteger essa pessoa. Para sua própria surpresa, ele queria proteger esse garoto, o príncipe de Castellane.

Paralelo a isso, conhecemos também a história de Lin, uma médica que precisou lutar contra o sistema em que nasceu para que pudesse estudar e se formar, já que a sociedade em que ela está inserida é completamente machista, apesar de cultuar uma deusa. A motivação de Lin é Mariam, sua melhor amiga, que tem uma doença que parece não ter cura. Lin busca desesperadamente estudar e aprender cada vez mais para que ela possa curar Mariam antes que a doença venha avassaladora e ela não tenha mais tempo.

Afinal, a ordem ilegal era melhor do que o caos legal.

O livro então passa boas trezentas páginas só falando disso: de Kel e Conor saindo para se divertir, de como Kel precisa proteger Conor a todo custo, Lin procurando novas técnicas de medicina para curar Mariam, Mariam já está sem esperanças… Não acontece nada até a página trezentos, sem exagero. Nesse ponto da história, a história dos quatro personagens começa a ligeiramente se misturar quando Kel é procurado pelo Rei dos Ladrões, uma espécie de realeza suburbana de Castellane, dizendo que sem sua ajuda, ele jamais poderá ajudar Conor. Lim também é procurada pelo Rei, sob a proposta de que sem a ajuda dele, ela jamais conseguirá curar Mariam. Apesar disso, cooperar com o Rei dos Ladrões pode significar traição contra a realeza de Castellane.

– Os músicos fazem parecer que é horrível se apaixonar – comentou Lin. – Um monte de lamentação sem fim, todos solitários porque ninguém os aguenta.

Nesse ponto da história começa a se desenvolver um romance tímido entre Kel e Lin, Conor e Lin, que não vai para nada além de um beijinho mixuruca na boca. Uma coisa que gostei muito no ponto de romance do livro é a forma como a sociedade Castellana é dividida: todos gostam de todos. Não tem essa de ser hétero, homo, bi… Todos os homens podem se apaixonar por homens ou mulheres, todas as mulheres por mulheres ou homens e isso é perfeitamente normal, não causa escândalos.

A preferência geral de Connor era por mulheres, mas de forma alguma era regra.

Um personagem que ganhou muito o meu coração foi Merren Asper, por quem Kel nutre uma pequena paixãozinha e acaba beijando em uma hora da trama. Não é nada demais, não acontece nada além disso – apesar de eu querer muito um fast burn -, mas neste ponto da trama qualquer coisinha que acontece de diferente é motivo pra gente dar um berro.

Eu entendo perfeitamente que O portador da espada é um livro introdutório a um novo universo extremamente complexo, com muitas cortes e nisso, eu tiro o chapéu para Cassandra Clare. Ela consegue criar histórias com complexidade sobre-humana, o que não é muito comum em livros de fantasia aos quais eu estou acostumado. Neste ponto, acho que ele até ganha um pouco de O povo do ar, minha série preferida, mas quando o assunto é fazer a trama render, acho que nisso ela peca e peca muito. Os capítulos são exageradamente longos, alguns passando de 60 páginas, com muitas páginas sem diálogo e só descritivas das crônicas de Castellane. Ela descreve o aroma, os pratos, o aroma dos pratos e muitas vezes a gente nem tem referência disso. Eu não sei qual é o cheiro de madressilva.

O fim costumava acontecer nas vigílias tarde da noite, mas a cura também: a morte e a vida atacavam nas horas sombrias.

Por serem crônicas, a gente já deveria esperar e entender que uma vibe meio Morte súbita ou Cem anos de solidão poderiam aparecer, mas senti falta de ritmo e de uma escrita um pouco mais cativante. Particularmente, não gosto muito de capítulos longos, mas todos os livros dos Caçadores de Sombras – que também têm capítulos longos – eu conseguia ler sem pensar três mil vezes se não queria abandonar. Para mim, a história só foi ficar boa depois da página 400, que foi quando teve um ritmo um pouco maior e eu consegui acabar em uma sentada só.

Todo mundo quer falar a você que não é tão ruim assim, mas é. Você ficará muito triste e sentirá que vai morrer. Mas você não morrerá. E, a cada dia que se passar, você recuperará um pedacinho de si.

No total, foram quase três meses de leitura, muitos livros lidos no espaço entre o dia que comecei e o dia que terminei, muitos dias que dormi em cima do livro, mas consegui vencer. É uma história complexa, introdutória e lenta que tem personagens cativantes e esse é outro ponto positivo (principalmente Merren, meu preferido <3).

Leia ciente que O portador da espada é mais parecido com Guerra dos Tronos do que a gente gostaria, mas sem tanta escandalização que talvez desse um pouco mais da sensação de “algo aconteceu” na obra. O próximo livro, O rei dos ladrões já foi confirmado e deve ser lançado em 2025. Espero que eu lembre da trama até lá porque não sei se vou conseguir reler para ler a sequência. Cassandra Clare, você prometeu!

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Resenha: A morte é um dia que vale a pena viver, Ana Claudia Quintana Arantes
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Resenha: A morte é um dia que vale a pena viver, Ana Claudia Quintana Arantes

Senti vontade de ler A morte é um dia que vale a pena viver ouvindo um podcast da Mônica Martelli, em que ela falava sobre sua vida, sobre fazer escolhas e entender que se está no caminho certo (spoiler: a gente nunca entende). Ela indicava esse livro como um daqueles que mudara a sua vida. Como sou muito fã de toda a narrativa que Mônica criou em sua vida e em sua arte, comprei o livro na mesma hora e me surpreendi: devorei em uma única sentada.

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A morte é um dia que vale a pena viver é um livro narrado em primeira pessoa pela autora, Ana Claudia Quintana Arantes, que após estudar medicina, descobriu e decidiu trabalhar com Cuidados Paliativos e desmistificar o que significam esses cuidados, dentro de hospitais. Primeiro, ela começa explicando que algumas doenças não têm cura. Não há o que fazer além de testes que podem mitigar todo o resto de bem-estar que um paciente tem no hospital. Quando isso acontece, muitos médicos dizem que chegaram ao seu limite e acabam sedando o paciente para uma morte “tranquila”, “dormindo”.

O que você vai fazer com esse tempo que vai passando? O que você está fazendo com esse tempo que está passando? O que eu faço com meu tempo?

Ana Claudia resolveu estudar e ir além nessa atuação. Já que não há nada para ser feito do ponto de vista da cura, o que pode ser feito para que os últimos dias daquelas pessoas sejam os mais agradáveis possíveis? Com menos dor, mais alegria e mais presença daquilo que eles realmente querem? É nesse Cuidado Paliativo, que ela faz questão de escrever com letras maiúsculas no livro que ela acredita e nos explica durante as 192 páginas que permeiam suas reflexões sobre a nossa vida – e principalmente, o dia da nossa morte.

A preocupação do morrer traz a consciência de que nada do que temos ficará conosco.

Nós não temos certeza de nada enquanto vivemos. Não dá para saber se vamos seguir a carreira certa, se vamos fazer as melhores escolhas, como será o dia de amanhã… Mas uma coisa temos certeza: iremos morrer. E quando a morte chega, ela aparece como uma muralha da China na nossa caminhada. Não tem o que fazer, é a linha de chegada. Não dá para pular, dar a volta, transpor. E essa muralha tem um espelho que vai te fazer olhar para si próprio e se questionar: o que você fez do seu tempo vivo? Você viveu ou apenas sobreviveu?

Não é possível segurar o tempo. Em relação a ele, a única coisa de que podemos nos apropriar é a experiência que ele nos permite construir o tempo todo.

Em todos esses anos de Cuidado Paliativo, ela conta que ouviu inúmeras histórias de pessoas que se arrependiam de ter passado a vida toda correndo atrás de dinheiro, de pessoas que gostariam de ter perdoado ou de serem perdoadas, de pessoas que gostariam de ter seguido um sonho antes que foi adiado, adiado, adiado, até que não desse mais para cumprir. O tempo é o nosso bem mais precioso por aqui e é o único bem que não se renova. Ele não tem volta. O que gastamos, gastamos. Será que não estamos gastando-o em coisas que não queremos de verdade? Será que estamos gastando nosso tempo em um emprego medíocre que paga bem, nos faz comprar um Porsche mas que também nos faz chegar em casa sem energia nenhuma e com olheiras que vão no pé?

Todas as pessoas morrem, mas nem todas um dia poderão saber porque viveram.

A morte é um dia que vale a pena viver é uma narrativa crua, singular e sincera sobre alguém que está ali quando todos estão partindo para o outro lado. Ana Claudia é uma espécie de anjo da morte que escuta as mais sinceras confissões, que auxilia no conforto do último suspiro e garante aos que ficam: a morte é um dia que vale a pena viver. Enquanto o seu dia não chega e você o teme chegar, o que você tem feito na lacuna?

Não há espaço para falar de morte com pessoas que não estão vivas em suas próprias vidas.

Resenha: João de Deus - O abuso da fé, Cristina Fibe
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Resenha: João de Deus – O abuso da fé, Cristina Fibe

Fazia muito tempo que eu queria ler João de Deus – O abuso da fé, da jornalista Cristina Fibe. Dessa vez, a Globo Livros não quis me encaminhar o livro ou o e-book para ler, então demorou um pouquinho até que eu conseguisse comprar e escrever a resenha (então me valorizem comprando o livro pelos links do Beco no final do post, viu?).

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Ao contrário de outros livros do caso João de Deus, esse da Cristina Fibe traz um jornalismo mais denso. Eu já li “A Casa”, do Chico Felitti, já vi todos os documentários disponíveis e li bastante sobre o caso na internet e nenhum deles me trouxe o material que esse me forneceu. Mas, antes que você me ache maluco, deixe-me explicar: eu amo livros sobre crimes reais brasileiros e o interesse só cresce quando o assunto é seita ou religião.

João de Deus – O abuso da fé é um livro-reportagem, isso significa que ele não traz a autora contando a história em primeira pessoa sobre suas investigações. É como se fosse uma grande reportagem de um jornal ou de uma revista, escrita de forma seca e crua, com depoimentos, falas e registros documentais que baseiam a apuração. E disso eu gosto muito, como bom jornalista, valorizo uma apuração que me mostra de onde veio aquilo ali, mais do que só o jornalista se colocando como personagem de um caso que ele não é.

Dividido em 15 capítulos, o livro fala sobre como o castelo de João de Deus começou a ruir em Abadiânia, como sua imagem mítica foi construída há mais de 40 anos, como era a relação abusiva com a filha Dalva e até mesmo como João de Deus virou John Of God.

Muitos dos casos apurados por Cristina Fibe neste livro, não foram apurados ou tratados pela mídia em outros materiais. A gente sabe que os casos contra o autoproclamado médium João de Deus só crescem e é humanamente impossível para a mídia apurar todos, mas gostei da forma como ela deu atenção para pessoas que gostariam de falar e passaram despercebidas pela mídia tradicional.

Um ponto forte de Cristina Fibe no livro é que você precisa ler com cuidado e com estômago. Como livro-reportagem, ela não poupa a gente dos detalhes sórdidos de alguns casos e conta na íntegra com o depoimento das vítimas. É um livro que deveria ter um alerta de gatilho enorme logo na capa, porque é de dar ânsia.

Para mim, o ponto negativo também faz parte do ponto positivo. Por ser um livro mais seco, muitas vezes nos perdemos na história que está sendo retratada, já que são muitos nomes envolvidos, muitos acontecimentos entrelaçados que a autora nem sempre consegue esclarecer (e nem conseguiria, como um livro narrativo faria). Então, alguns pontos você precisa ler, reler, voltar algumas páginas e então, seguir adiante.

Quando terminei, fiquei sabendo que era o livro de estreia de Cristina Fibe, o que me deixou boquiaberto pela qualidade do material. Normalmente, autores estreantes deixam muitas pontas soltas, mas Cristina costura a maioria delas e por isso, merece cinco estrelas.

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Resenha: A mulher em mim, Britney Spears
Beco Literário
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Resenha: A mulher em mim, Britney Spears

Eu confesso que não dei muita bola para quando saiu o anúncio de A mulher em mim, livro de memórias de Britney Spears. Pensei que fosse mais um daqueles escritos somente para fãs de verdade. Mas, quando comecei a ver o burburinho e o efeito Britney Spears vai contar tudo fiquei com vontade de ler. A editora foi rápida e me mandou o livro no dia do lançamento (obrigado, editora Buzz!).

Confesso também que não sou um grande fã da Britney, daquele de acompanhar cada passo e sonhar em ir em um show dela. Apesar disso, é impossível não dançar ou não conhecer uma música dela quando começa a tocar. Foi também impossível não ser solidário com a sua briga na justiça pelo fim da curatela e no fundo, torcer para sair uma nova música dela. Você pode não ser fã, como eu, mas com certeza uma parte sua, se você é millenial ou zillenial, cresceu conhecendo e gostando da Britney, mesmo que inconscientemente.

Devorei o livro em pouco menos de três horas. Com 280 páginas, ele é bem diagramado, com margens largas, então a leitura é rápida e impossível de largar capítulo após capítulo. O livro começa retratando sua infância, sua relação familiar, principalmente com o pai, que nunca foi um mar de rosas. Aliás, sempre foi uma tortura. Quem convive com pais narcisistas com certeza vai sentir alguns gatilhos dispararem em toda a leitura.

Nele, conhecemos a história de Britney Spears pela visão dela e não pela visão triste que a mídia sempre nos contou. Vemos uma mulher que cresceu nos holofotes e sofreu com qualquer acerto que a mídia pintou como erro e todos os erros virarem manchete. É legal ver o ponto de vista de uma atriz que começou cedo, como Jennette McCurdy contou em sua autobiografia e aqui, conseguimos ver algumas semelhanças: testes, negativas, vontade de desistir…

Mas Britney sempre foi uma estrela. Ela tinha algo a mais dentro dela que brilhava e chamava a atenção e foi por isso, que do dia para a noite, ela virou uma estrela mundial. E se apaixonou pelo então queridinho da América, Justin Timberlake. Seu relacionamento com ele foi intenso, como ela mesma descreve. Ela quis continuar, ele se afastou do nada e lançou um CD contando a história como se ela fosse a vilã da narrativa. Fez um aborto com ela em casa. De bonitinho, só o rosto. Mas bem que dizem que os homens que mais conquistam o mundo são aqueles que são mais ordinários.

Britney Spears aprendeu isso na prática e aprendeu também o peso do machismo estrutural desde a adolescência. Justin Timberlake havia traído ela milhares de vezes. Mas seu único deslize é que a fez vilã. Em depressão após o término, ela mal saía de casa enquanto Timberlake transava com dezenas de garotas todas as semanas. Sim, o mundo aplaude homens medíocres e espera que mulheres sejam mil vezes melhores para chegarem perto da média, mas nunca ficarem acima.

A mulher em mim é um relato cru de uma popstar que está no processo de encontrar o ser humano, a mulher que existe ali dentro. Que tem sentimentos. Que foi explorada pela própria família como se fosse uma máquina, um objeto. O ponto em que Spears fala da curatela é de arrepiar. Ela fazia milhões no mundo todo e era apenas uma marionete que precisava viver com dois mil dólares semanais e não podia sequer pagar um jantar para os amigos. No entanto, a família, sustentada por ela desde muito cedo, podia viver sempre com o bom e o melhor.

A mãe dentro dela também foi silenciada. Sem poder ver os filhos, com a vida cerceada e vigiada a todo momento, diziam que Britney havia surtado. E eu te pergunto: quem não teria surtado? O que é ter surtado? Spears foi forte, mas não precisava ter sido porque no fim das contas, não se deve cobrar forças de uma pessoa que foi abusada. Abusada emocionalmente, com seu patrimônio vilipendiado pelas pessoas que mais deveriam amá-la e protegê-la.

O livro tem inúmeros gatilhos, apesar de Britney Spears contar tudo com muita doçura, com muita paciência e perspicácia. Ela não precisava saber transformar o limão em limonada, mas neste livro, o primeiro trabalho público depois do fim da sua curatela, ela parece estar retomando e (re)descobrindo o que é viver e não apenas sobreviver. É uma leitura necessária para que a gente entenda que atrás de um ídolo existe um ser humano e que deveríamos repensar nosso comportamento de colocar pessoas em pedestais e retirar a força delas a sua humanidade. Um ídolo ainda é uma mulher, um homem, uma pessoa. E não deveria precisar ser um exemplo que só acerta 100% do tempo.

Resenha: A rainha do nada, Holly Black
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Resenha: A rainha do nada, Holly Black

Depois de ser exilada do mundo das fadas e condenada a viver no mundo mundano, Jude está indignada, afinal, ela é a Grande Rainha de Elfhame por direito. Essa é a premissa do livro que encerra a série O Povo do Ar, de Holly Black, A rainha do nada, depois de um livro com um final completamente avassalador como O rei perverso, é praticamente impossível não emendar uma leitura na outra.

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É, eu não emendei. Mas não consegui me concentrar direito em nenhum livro no intervalo até eu me render para A rainha do nada. E devo dizer que li numa sentada só. Sentei para ler um capítulo como quem não quer nada e quando vi, já estava chegando na página 100, 200 e no epílogo.

O ritmo ditado por Holly Black na narrativa final começa de forma mais lenta, tanto que achei que não fosse engatar de primeira na leitura como fiz com os outros dois livros da série (que também li rápido, mas parei em alguns pontos estratégicos). Jude no mundo mortal é tediosa e talvez esse mesmo tenha sido o sentimento que Black quisesse passar na leitura, afinal, ela claramente não pertence àquele lugar. Morando com Vivi e com Oak no apartamento de Heather, ela passa seus dias em tédio supremo e, de vez em quando, se arrisca em algumas missões feéricas no mundo mortal.

Até que Taryn, sua irmã gêmea chega de Elfhame esbaforida, confessando que matou o noivo Locke e agora precisa enfrentar um julgamento. Ela quer que Jude vá em seu lugar para provar sua inocência e ela pode, afinal, o geas que o príncipe Dain deu à ela quando ela entrou para a Corte das Sombras, a fim de protege-la de qualquer encantamento de fada ainda funciona. E ela embarca, contra Vivi e com medo de ser sentenciada à morte por Cardan, que a exilou.

– Você veio do nada e para o nada vai retornar – sussurra ele em meu pescoço.

Ao chegar em Elfhame, ela enfrenta um julgamento com muita ansiedade e Cardan a reconhece. Quando eles estão prestes a botar os pingos nos is, Madoc invade o castelo para resgatar a filha, que ele pensa ser Taryn e a leva para seu acampamento de guerra, onde treina e reúne forças para tirar o trono de Cardan. Jude, irritada, percebe que o padrasto quer usurpar também o trono dela, mesmo ninguém sabendo que ela é a Rainha do Mundo das Fadas.

Depois de uma armação de Madoc para Jude ser pega, Cardan acaba anunciando para todo o mundo das fadas que ela é sua esposa e portanto, rainha por direito. Eles parecem se entender melhor quando o então rei perverso revela que o exílio era uma charada: só a Coroa poderia perdoá-la. Ela, como rainha, poderia ter acabado com seu exílio. Não é possível que Jude não tenha percebido isso vivendo há tanto tempo no mundo das fadas, sério! Até eu, que li os três livros em pouco menos de um mês percebi a charada no tom de voz de Cardan.

– Ela é minha esposa – revela Cardan, a voz se espalhando pela multidão. – A Grande Rainha de Elfhame por direito. E, definitivamente, não exilada.

Agora, juntos no trono, eles enfrentam a ameaça de Madoc e uma maldição que ronda a coroa de sangue, já que, em uma das invasões ao castelo, Cardan se transforma em uma serpente gigante que está amaldiçoando toda Elfhame. Sozinha, sem o amor de Cardan e tendo que levar um reino nas costas, Jude precisa entender em quem pode confiar, de que forma confiar e como vencer a maldição.

É o típico livro que a gente não tem um segundo de paz e encerra a série sem nenhuma ponta solta. Quando você acha que as coisas finalmente estão dando certo, Holly Black mostra que não se deve confiar tão fácil no povo féérico.

A vocês, ofereço vinho de mel e a hospitalidade de minha mesa. Mas a traidores e violadores de juramentos, ofereço a hospitalidade de minha rainha. A hospitalidade das facas.

Apesar de ter capítulos um pouco mais longos que os outros livros da série, A rainha do nada não perde em nada quando o assunto é ritmo, história de tirar o fôlego e até um pouquinho de fan service com cenas mais quentes de Jude e Cardan, que finalmente resolvem se entregar ao romance congelado que vinha sido cultivado nas outras séries. A forma como Holly consegue criar enigmas e entrelaçar histórias de fantasia é simplesmente única – sempre espere acontecer alguma coisa que você já poderia ter previsto com alguma isca que ela colocou anteriormente na série.

Agora, lido com a minha ressaca literária de terminar essa série cinco estrelas e só me resta ler os outros livros do esquema de pirâmide torcendo para ter mais um gostinho do apaixonante Cardan e da encrenqueira Jude. Recomendo muito!

Resenha: A coragem de não agradar, Ichiro Kishimi e Fumitake Koga
Beco Literário
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Resenha: A coragem de não agradar, Ichiro Kishimi e Fumitake Koga

Talvez a minha resenha de A coragem de não agradar não te agrade. Mas, de forma alguma quero te desencorajar a leitura. Ler coisas que são contraditórias, que não fazem sentido ou que partem de um pressuposto de senso comum, como eu vejo este livro também é importante. Então, sim. Considero esse livro essas três coisas, com pouquíssimas passagens que salvam ou que conseguem trazer um pouco mais de reflexão pessoal. Mas, faço uma ressalva: sou psicanalista e estudante da teoria de Freud e Lacan há anos. Não tenho conhecimento sobre a teoria Adleriana e não me interesso em ter, principalmente após a leitura. Essa análise vai ser pautada em um comparativo sobre o que o autor fala de Freud e como ele coloca Adler de forma superior (o que eu discordo).

+ Resenha: Caro Dr Freud, Gilson Iannini (Org.)

A coragem de não agradar é um livro em formato de diálogo, entre um jovem e um filósofo. O filósofo tem o objetivo de explicar a psicologia adleriana ao jovem, que não acredita e tem como premissa derrubar todos os argumentos do filósofo. Obviamente, ele não consegue derrubar todos, afinal, como eu disse, há coisas a se aproveitar no livro, mas acho que, conforme o final vai chegando, aquele jovem questionador também vai ficando mais conformado e foge do seu objetivo inicial. Sim, ele aceita fácil demais.

Na leitura, me vejo e me identifico mais com o jovem que com o filósofo. Creio que essa seja a premissa para todos os leitores. Mas, conforme avança, os questionamentos rasos que ele passa a fazer para questionar o filósofo não são nada além disso: rasos. A psicologia adleriana me parece um embrião de coaching. Com a ideia de negar o trauma, transformar a etiologia freudiana em teleologia adleriana o livro, de leitura cansativa e arrastada, faz uma visão simplista da vida e que muitas vezes, culpa a vítima pelo seu sofrimento psíquico. Dizer, por exemplo, que Freud é uma “psicologia da posse” enquanto Adler é uma “psicologia do uso” chega a ser cômico.

Como psicanalista freudiano, talvez as ideias de Adler não sejam mesmo para mim. Mas, a forma como elas são postas no livro como ultrapassadas são dignas de alguém que sequer leu Freud além do senso comum. Ele diz no livro que o trauma é determinista, que a psicanálise freudiana vê o trauma dessa forma e disso eu discordo piamente: o trauma acontece no seu passado e é apesar e a partir dele que você vive sua vida agora. E dizer isso, não significa que você use seu trauma como muleta ou como artifício de vitimização – significa que você constrói uma nova narrativa de vida a partir disso. E sim, é sua responsabilidade lidar com as consequências do trauma na sua vida adulta. Não é algo que você vai carregando, como diz o filósofo para colocar Adler em pé de superioridade a Freud. Psicanálise é buscar a sua libertação. Como o autor então nega que você não toma suas próprias decisões em um processo psicanalítico?

Resumir o Complexo de Édipo freudiano a uma “atração anormal” do menino pela mãe ou da menina pelo pai é, no mínimo, irresponsável e digno de alguém que sequer se debruçou a entender a teoria psicanalítica, de forma que, não há condição de colocar outra em pé de maioridade. O autor em inúmeras passagens usa do depreciamento de outras teorias psicológicas, para favorecer a teoria Adleriana. Com tantas décadas de estudo de variadas linhas psicológicas, quando se sabe a importância de cada uma delas, precisamos disso a essas alturas? Não acho que precisamos.

No geral, o livro traz muito de senso comum de auto-ajuda camuflado em ideias revolucionárias de um novo sistema de psicologia “individual”, que ainda não foi descoberto por ninguém. E sem justificativas a altura. Não quero ser como o autor que usa ideias em detrimento de outras mas, ler a forma como a psicologia adleriana é posta no livro me faz pensar porque de fato ela não tem seu valor no dia de hoje.

Apesar disso, A coragem de não agradar ainda tem pensamentos que te fazem refletir, mas que partem de um ponto de senso comum, ou seja, qualquer livro de auto-ajuda poderia te dar o mesmo embasamento. Por exemplo, quando ele diz que precisamos cultivar uma mentalidade que somos iguais aos outros e não que existem pessoas superiores umas as outras. Só que toda essa linha de raciocínio boa logo é quebrada com alguma falácia qualquer sobre negar sentimentos como raiva pessoal e indignação. Aparentemente, para Adler, alguns sentimentos são mais valiosos que outros e não a junção deles que nos faz humanos.

Sem falar das contradições em A coragem de não agradar que fazem o filósofo dar palpites arbitrários na vida do jovem sem sequer entender as teias que são compostas os seus relacionamentos interpessoais, de onde ele diz sair a base de toda a sua teoria. É como se o jovem a todo tempo tentasse encaixar aqueles conselhos dentro de sua vida pessoal, mas nunca conseguisse porque a caixinha da teoria adleriana é pequena demais ou grande demais e é você que precisa mudar sua vida para conversar com a teoria e não a teoria que precisasse dizer como é ser humano e explicar as complexidades da mente.

Acho que nesse ponto, enquanto escrevo minha resenha, fica difícil lembrar de pontos positivos do livro, porque sim, em retrospectiva é uma leitura que considerei ruim. Só terminei de ler o livro para dar minha opinião mesmo porque sinceramente, as boas ideias se perdem nessa maré de tantas falácias que me deixam indignado. Como no trecho em que o autor parece relativizar o abuso dentro de uma relação pai e filho. Sim, vou reproduzir a frase abaixo:

Filósofo: Mas se eu penso: Ele me batia, por isso nosso relacionamento ficou ruim, estou recorrendo à etiologia freudiana. A posição teleológica inverte completamente a interpretação de causa e efeito. Ou seja, eu trouxe à tona a lembrança de ter sido espancado porque não quero que o relacionamento com o meu pai melhore.

Jovem: Então primeiro você tinha a meta de não querer que o relacionamento com seu pai melhorasse e não querer consertar as coisas entre vocês.

Filósofo: Isso. Para mim, foi mais conveniente não consertar o relacionamento com o meu pai. Eu poderia usar o meu pai como desculpa para o fato da minha vida não andar bem.

Ou seja: meu pai é um babaca abusivo e lembrar que ele me espanca é apenas uma desculpa que eu dou para mim mesmo porque não quero ter um bom relacionamento com o meu pai. Gente?????????????? Isso me parece falar que a culpa do abusado ser abusado é dele porque ele precisa de um argumento para não se relacionar com o abusador. Que em vez disso, é preciso deixar essas diferenças de lado, para então, o abusado consertar um relacionamento fadado ao fracasso. Se isso não é culpabilização de vítima, eu não sei o que é. O relacionamento com o pai ficou ruim porque ele era um abusivo. Isso não é sequer um relacionamento. É um jogo agressivo de poder.

Eu poderia passar aqui o dia todo citando mais exemplos de como considerei esta leitura leviana e o quanto me deixa surpreso, mas não muito, o tanto de gente que gostou. Porque a nossa sociedade é doente dessa forma: a gente está organizado de uma forma a entender e manter o poder na mão desses abusadores e por isso, é tão conivente que toda a responsabilidade esteja com a gente de consertar relacionamentos falidos. É nisso que a gente acredita. E quando um autor coloca tudo isso aliado à uma teoria, em uma linguagem científica com a falácia da superioridade, afinal, é um filósofo conversando com um simples jovem sobre uma teoria psicológica que foi negligenciada, nós temos a tendência a acreditar.

Desconfie. E, se eu comecei falando para você ler o livro, não perca seu tempo. Gaste seu dinheiro com obras melhores e que te trazem pensamento crítico. A coragem de não agradar não é um desses livros, definitivamente.

Resenha: O rei perverso, Holly Black
Beco Literário
Livros, Resenhas

Resenha: O rei perverso, Holly Black

Quando eu acabei de ler O príncipe cruel, eu quase subi nas paredes para ter O rei perverso em mãos. O livro acaba de uma forma que se você não tiver o próximo, você morre de ansiedade. E foi isso que aconteceu comigo.

+ Resenha: O príncipe cruel, Holly Black

O rei perverso chegou para mim numa sexta-feira. No sábado, eu passei o dia inteiro lendo. Antes de ler “O povo do ar” eu estava com uma ressaca literária imensa de livros de fantasia que foi curada pela saga. O livro começa pouco tempo depois do final do anterior. Jude Duarte agora é a mão por traz do reinado de Cardan. Como sua senescal, ela manda e desmanda, usando o então, inimigo mortal, como fantoche por um ano e um dia.

Você precisa ser forte o suficiente para golpear e golpear de novo sem se cansar. Vai doer. Mas a dor fortalece.

Ela achou que seria fácil agora que o pior passou. Mas, a jornada que ela aprende agora é que o poder é muito mais fácil de conseguir do que de manter. Nem preciso dizer que sentei para ler o livro e terminei em uma tacada só. É completamente impossível de parar.

Nós conseguimos poder tomando-o.

Cinco meses já se passaram, e ela não conseguiu fazer nada além de dar algumas ordens banais ao rei. Se quiser guardar o trono para seu irmão, Jude precisará pensar, e rápido, num plano para fazer Cardan se curvar a ela por mais tempo. Mas ter qualquer influência sobre o Grande Rei de Elfhame parece uma tarefa impossível, principalmente quando ele faz de tudo em seu poder para humilhá-la e prejudicá-la, mesmo que seu fascínio pela garota humana permaneça intacto. E é nessa parte que a gente começa a surtar: porque sim, tem cena de romance entre Jude e Cardan!

Te odeio tanto que às vezes não consigo pensar em outra coisa.

Eu gosto dos livros da Holly Black porque, apesar do romance existir, ela não deixa de lado as questões políticas para narrar histórias de amor, algo que vejo muito presente em livros da Cassandra Clare, por exemplo. Aqui, o romance faz parte da política. Jude e Cardan desejam um ao outro, mas também desejam poder. E eles são capazes de se beijarem, de transarem, de se entregarem ao instinto sempre pensando em um bem maior: subjugar um ao outro.

Mate-o antes que ele faça você amá-lo.

Os conflitos com Orlagh e todo o reino submarino também é um ponto importante neste livro. Aqui, entendemos melhor como funciona o poder da terra do Grande Rei de Elfhame e como são os domínios da rainha submarina. Um triângulo amoroso entre Jude-Cardan-Nicasia também parece se formar, já que, Orlagh dá um ultimato: Cardan precisa se casar com Nicasia, caso contrário, haverá guerra. E todos sabem que o povo submarino é unido, mas o povo da terra, dividido entre cortes Seelie e Unseelie, não são tão unidos assim e são facilmente manipuláveis.

Eu imagino o que teria acontecido se eu tivesse admitido que não consegui tirá-lo da cabeça.

Mas, se Cardan se casa com Nicasia, Orlagh e sua dinastia passam a ter o controle total de Elfhame, terra e água. E isso não é interessante.

O rei perverso é um livro de transição entre o início e fim de uma saga, portanto, de leitura rápida. É um livro que faz a gente se aprofundar um pouco mais dentro da história sem trazer grandes acontecimentos significativos como o primeiro, que tem tronos roubados, chantagens e batalhas intensas. Mas, não me entenda mal, porque isso nem de longe faz a série esfriar, muito pelo contrário. Os jogos políticos ganham um destaque maior com pessoas envenenando, encantando e ludibriando umas as outras, como só o povo feérico consegue fazer.

Agora me beije como se eu fosse Cardan.

E, como se não bastasse, alguém que a gente menos espera trai Jude. Eu chorei quando descobri a traição, vou confessar. E é somente no capítulo trinta, no último, que o título O rei perverso faz total sentido. Holly Black brinca com os nossos sentimentos. Vou explicar melhor no último parágrafo, com spoiler, após o Beconomize. Leia por sua conta e risco.


PARÁGRAFO DE SPOILERS, PARE DE LER AQUI SE NÃO QUISER PEGAR INFORMAÇÕES IMPORTANTES DO ENREDO!

Certo, a gente sabe que a Jude precisa ampliar o seu poder sobre Cardan. E ele não quer porque está gostando do trono e isso é previsível no enredo. Mas o que me deixou gritando sozinho é quando, nos meados dos últimos capítulos, Cardan pede Jude em casamento, transformando-a em Rainha de Elfhame, só para bani-la ao mundo mortal algumas páginas depois. Sério, Holly Black!!!!!! Isso deveria ser crime?

Eu já estava doido da cabeça achando que o enredo de enemies-to-lovers estava fechado, quando plau, Cardan pune Jude, perante Orlagh, pelo assassinato de Balekin a viver no mundo mortal até segunda ordem. Caso ela desobedeça e pise no mundo das fadas, morrerá imediatamente. E a gente sabe que a Jude tem horror ao mundo mortal.

Doce Jude. Você é a minha melhor punição.

Dessa vez, Rainha do Nada já está me esperando na estante e mal posso esperar para entender como vai ser o fim de O Povo do Ar, porque nem nos meus sonhos mais confusos eu poderia imaginar algo assim.

FIM DOS SPOILERS.


Resenha: Cura vibracional prática, Rowena Pattee Kryder
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Livros, Resenhas

Resenha: Cura vibracional prática, Rowena Pattee Kryder

Eu sou um grande fã de decks diferentões de tarô. Para quem não sabe, além de falar de livros por aqui, eu sou um grande apaixonado por astrologia, tarô, esoterismo, mundo místico… E por isso, pensei: por que não começar a resenhar os tarôs que eu compro? Dito e feito, vim trazer a primeira resenha de Cura vibracional prática, um conjunto de cartas para entrar em sintonia com vibrações de cura.

+ Resenha: Tarô claro e simples, Josephine Ellershaw

É importante ressaltar que Cura vibracional prática não é um tarô. É um conjunto de cartas vibracionais (tarô mesmo é outro negócio que eu explico outro dia). Ele apresenta ao leitor uma série de sessenta e quatro vibrações, em forma de cartas, que afetam as emoções, a mente e o corpo. Essas vibrações, quando levadas à consciência, podem ser usadas para a cura espiritual ou como fonte de inspiração interior para aumentar nossas capacidades de cura.

Primeiro a gente começa pela caixa roxa, super bem feita pelo pessoal da Editora Pensamento. É uma caixa que você não joga fora mesmo sendo desapegado de caixas de tarôs (eu guardo todos os meus em saquinhos personalizados). Mas essa aqui, meus amigos… É feita de material bom, parece quase madeira de tão firme que é.

Além das 64 cartas coloridas e ilustradas com símbolos da geometria sagrada, o conjunto vem com um livro explicativo sobre cada vibração e como meditar com ela. E o mais legal é que as cartas tem significados diferentes dependendo do lado que elas caem, ou seja, ao todo, são 128 vibrações diferentes que você tem a chance de usar.

Eu, por exemplo, tiro uma vibração para todo consulente de tarô ou astrologia quando chegamos ao fim da consulta. Também uso as cartas para acessar energias específicas – quando faço um ritual coletivo, por exemplo, que preciso que chegue em outras pessoas, uso a vibração correspondente para amplificar essas energias.

As cartas são lindas, muito bem impressas com cores vívidas. São grandes, então se você tem as mãos pequenas como a minha, talvez tenha dificuldade de embaralhar, mas não muita, porque elas deslizam perfeitamente entre si. É um dos decks que tenho que mais deslizam sem danificar as pontinhas, do jeito que a gente gosta.

Minha única reclamação seria sobre o livro, que não segue a ordem numérica das vibrações, então se tornou um pouco complicado para mim encontrar uma específica quando eu quero, no entanto, para leitura contínua faz bastante sentido a ordem que foi escolhida e colocada pela autora.

O preço do conjunto é bastante justo pela qualidade que oferece. Decks de tarô ou qualquer outro tipo de carta não costumam ser muito baratos, mas, muitos deles não entregam uma boa qualidade. Esse aqui entrega, então, vale bastante a pena pra você incrementar seus atendimentos profissionais, como eu faço, ou usar para purificação própria dos seus chakras.

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