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Crítica: Oito Mulheres e Um Segredo (2018)

Muda-se o protagonismo e o segredo continua o mesmo. Em “Oito Mulheres e Um Segredo” (2018), um grupo de espertas e audaciosas ladras dão continuidade não apenas aos roubos espetaculares que marcaram a franquia como ao clima de humor.

A mentora do crime aqui é Debbie Ocean (Sandra Bullock), que também segue uma linhagem – ainda que controversa – ao evocar o sobrenome e o passado bandido do irmão Danny (George Clooney), principal da trilogia anterior. Debbie contacta sua aliada Lou (Cate Blanchett) para recrutarem mais seis moças com habilidades específicas e roubarem juntas uma joia valiosa em pleno Met Gala, baile anual promovido pela revista Vogue. É nesse contexto que surgem na tela a atriz Daphne Kluger (Anne Hathaway), a estilista Rose Weil (Helena Bonham Carter), a estrategista Tammy (Sarah Paulson), a joalheira Amita (Mindy Kaling), a hacker Nine Ball (Rihanna) e a “batedora de carteiras” Constance (Awkwafina).

O elemento que salta aos olhos no longa é a rapidez com que diálogos, situações e até pontos no argumento se desenvolvem. Qualquer piscada e lá se vai uma referência ao mundo da moda, um artifício cômico ou mesmo um detalhe do intrincado plano de Debbie Ocean. A química entre Sandra Bullock e Cate Blanchett é incrível e acompanha esse dinamismo – é fácil de notar a conexão entre elas, quase um ship intencional promovido pela direção. Anne Hathaway está afinada com a sua diva cheia de acessos e frases de efeito, que no terceiro ato se mostra tão esperta quanto às ladras, e Sarah Paulson, em sua atuação mais cínica e divertida até o momento.

Helena Bonham Carter se torna o contraponto como uma fracassada estilista, servindo de ponte para o espectador mais lento, tentando se adaptar a um mundo de golpes e de sacadas rápidas. Não menos importantes, temos Mindy Kaling, Rihanna e Awkwafina, figuras de muito carisma e cujas personalidades casam bem com suas especialidades. O filme faz referências a personagens da trilogia anterior, mas insere uma “mitologia” própria, mostrando que o diretor Gary Ross (Jogos Vorazes) quer distanciar suas criações dos trabalhos iniciais – bem evidenciado na sensível cena final.

Fonte: Divulgação

Para os fãs do mundo da moda, todo o luxo e glamour do baile do Met Gala é apresentado, com participações obrigatórias da própria editora da Vogue, Anna Wintour, e da realeza de Hollywood e da alta sociedade de Nova York, alinhada com uma trilha sonora que varia do country americano à balada francesa.

O único ponto de demérito no filme também vem de sua maior qualidade: a pressa. O timing da trama não acompanha o das personagens, e pontos de conflito que poderiam causar uma tensão necessária no público acabam se esvaindo rápido demais. Empecilhos na preparação do roubo, um detalhe improvisado na noite do baile e até a ameaça de um antagonista a altura tem pouco tempo de ação. Não que mulheres badass sejam um problema, pelo contrário – essa é a proposta do filme –, mas as Eight quase não tem problemas em finalizar o plano.

“Oito Mulheres e um Segredo” comete seu crime apenas na ficção, pois o filme em si não soa desnecessário. É uma oportunidade de tiradas sarcásticas, sacadas inteligentes e muito charme, sem grandes pretensões de reinventar uma roda que está girando há anos no cinema.

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Crítica: De encontro com a vida (2018)

De encontro com a vida é um filme alemão baseado em uma história real. O filme conta a história de Saliya Kahawatte (Kostja Ullmann), um jovem de família imigrante na Alemanha que, no último ano da escola, perde 95% da visão devido a uma doença degenerativa. Com o sonho de trabalhar em um grande hotel, o jovem Sali tenta se inscrever para vários programas de treinamento, ao invés de ir para a faculdade, porém, ao se declarar como deficiente visual, é negado em todos. Assim, ele resolve fazer uma manobra ousada: se inscrever em um dos maiores hotéis cinco estrelas da Alemanha sem contar que só tem 5% de visão.

Saliya aposta exclusivamente em sua memória. Sim, com os outros sentidos aflorando, ele percebe ter mais facilidade com o tato, a audição, o paladar e com sua memória. Assim, decorando cada coisa que o professor diz, ele consegue se formar em sua escola regular. Decorando cada coisa que os instrutores do hotel dizem, ele consegue pular de treinamento para treinamento sem deixar ninguém desconfiar de nada. Claro que isso denota um esforço descomunal, pois ele sempre tem que acordar mais cedo para decorar os caminhos, a posição das coisas e tentar ler os rótulos usando sua lupa estrategicamente escondida.

Por sorte, ele encontra nessa empreitada vários amigos dispostos a ajudá-lo, como Max (Jacob Matschenz), um herdeiro displicente que vê no emprego um castigo de seu pai. Como toda comédia romântica, não poderia faltar um grande amor na vida de Saliya, que se manifesta através de Laura (Anna Maria Mühe), a jovem fazendeira que entrega seus produtos para a cozinha do hotel. Uma compreensão e admiração inesperada também denotam dos professores que, ao descobrirem sobre a deficiência de Saliya, reconhecem seu esforço e o ajudam a estudar.

A primeira coisa a destacar sobre esse filme é sua origem alemã, afinal, não vemos muitos filmes que não são de Hollywood chegarem por aqui. A segunda coisa é o fato de ser um filme baseado em uma história real sobre alguém que não é bem uma celebridade. Eu, particularmente, nunca tinha ouvido falar de Saliya Kahawatte e acredito que, a não ser que for alguém especializado em redes de restaurantes alemãs, você também não. A terceira coisa é a mensagem. Inspiradora, essa é a palavra perfeita para descrever essa história.

A história de um rapaz que, desde muito cedo, nutre um sonho e, apesar de tudo conspirar contra, não desiste desse sonho e faz tudo para conseguir. Sim, há vários filmes sobre esse tema porque parece que a maioria das pessoas que realizou seus sonhos teve que lutar muito para conseguir. Temos A procura da felicidade e Um sonho possível para colocar nessa lista, porém, em um mundo tão sombrio e tão cheio de desilusões com guerras, corrupção e tanta miséria e desigualdade, histórias de esperança e vitória merecem ser compartilhadas, independente da origem do filme ou o valor de seu orçamento.

De encontro com a vida é um filme engraçado, emocionante, simples em sua essência, mas extremamente inspirador. A história de Saliya Kahawatte aconteceu lá na Alemanha, mas ela pode inspirar a história da Maria, do José, do Antonio, da Joana e de todos aqueles que têm um sonho e que, apesar de parecer impossível, insistem “nessa estranha mania de ter fé na vida”.

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Crítica: Gnomeu e Julieta – O mistério do jardim (2018)

Hoje (31/05), chega aos cinemas Gnomeu e Julieta: O mistério do jardim. A animação vem para agradar crianças e adultos, fazendo uma analogia a Romeu e Julieta, só que em um mundo onde gnomos de jardim são vivos e têm sentimentos, assim como nós. O longa britânico é o segundo de Gnomeu e Julieta, que teve seu início com O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, centrada na obra de Shakespeare. Agora, a história é centrada em Sherlock Holmes, que aqui se chama Sherlock Gnomes e seu adorável assistente Watson.

A trama começa quando Gnomeu, Julieta e seus companheiros de jardim chegam a Londres, e um misterioso roubo de gnomos começa. Um jardim após o outro, todos somem misteriosamente, sem nenhuma pista, nenhum rastro. Claro que cabem a Sherlock Gnomes, o grande detetive e protetor dos gnomos de jardim, e seu assistente Watson resolverem o caso e resgatarem os gnomos perdidos.

Acontece que, nesse meio tempo, o jardim de Gnomeu e Julieta também é atacado e é claro que eles não ficariam de fora dessa busca, afinal, após a festa da primavera, os dois seriam os novos líderes do jardim. Era sua responsabilidade salvar suas famílias e amigos. Agora, Sherlock Gnomes, Watson, Gnomeu e Julieta correm contra o tempo em busca dos gnomos perdidos que eles acreditam estar com Moriarty, um enfeite de porcelana maléfico, antigo inimigo de Sherlock Gnomes e um apreciador da tortura de gnomos de jardim.

Gnomeu e Julieta: O mistério do jardim traz trilha sonora de Elton John, fazendo companhia ao Rei Leão e O caminho para El Dorado e nos surpreende com uma mensagem que transcende as barreiras da idade. Ao longo do filme, vemos Gnomeu ser ignorado por Julieta, assim como Watson é ignorado por Sherlock Gnomes. Aprendemos como é importante ouvir seu parceiro e respeitar as opiniões daqueles que nos amam e se preocupam conosco. Vemos que aquele ditado que diz que “uma andorinha só não faz verão” faz muito sentido, assim como “duas cabeças pensam melhor do que uma” e, como diz Jota Quest “ninguém é feliz sozinho”.

Quando um adulto vai ao cinema assistir uma animação, ele espera crianças fazendo barulho, algumas pipocas voando pelo ar, um filminho leve e engraçado… Porém, dificilmente, preocupa-se em aprender algo e se enriquecer com a mensagem do filme. Foi aí que eu me surpreendi. Gnomeu e Julieta transcende a barreira da idade porque nos mostra que não precisamos estar sozinhos. Não precisamos tomar todas as decisões sozinhos e lutar sozinhos. Seja com os amigos ou com a família, sempre temos alguém com quem podemos contar e devemos contar. Assim como sempre podemos ajudar e devemos ajudar.

Com uma trilha sonora excelente, ótimos personagens cheios de referências da obra de Arthur Conan Doyle, comédia, ação, romance e suspense, além da mensagem emocionante e inspiradora, Gnomeu e Julieta: o mistério do jardim promete ser uma excelente animação para crianças e adultos, mostrando que o poder da amizade e o companheirismo são fundamentais em todos os relacionamentos.

Crítica: Vingadores, A Guerra Infinita (SEM SPOILERS) - Beco Literário
Crítica: Vingadores, A Guerra Infinita (SEM SPOILERS) – Beco Literário
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Crítica: Vingadores – A Guerra Infinita (The Infinity War, 2018)

É genial, é extremamente empolgante, e te deixa em êxtase. “Guerra Infinita” é um dos maiores acertos da Marvel!

Sinopse: Homem de Ferro, Thor, Hulk e os Vingadores se unem para combater seu inimigo mais poderoso, o maligno Thanos. Em uma missão para coletar todas as seis pedras infinitas, Thanos planeja usá-las para infligir sua vontade maléfica sobre a realidade. Duração: 2h40min.

É um filme extremamente extasiante, em que sempre está acontecendo alguma coisa e, a cada cena, algo importante é incrementado na trama. É um exemplo de filme em que nenhuma cena foi desperdiçada (levando em consideração o controle tênue entre seriedade e piada que a Marvel usa em seus filmes).

O filme se inicia com Thanos atrás da primeira joia que ele busca, ameaçando Thor, Loki e o povo de Asgard (que estão destinados a viver em outro lugar após o Ragnarok em “Thor: Ragnarok”). Já é a abertura perfeita pro filme, e já é uma cena que vai ter relevância pelo resto do filme.

O filme se passa em vários locais diferentes, com encontros e desencontros, pouco a pouco, os personagens principais (Os Vingadores, o Homem-Aranha, o Doutor Estranho e os Guardiões da Galáxia) vão se juntando. O filme muda constantemente de foco (o que causa o fenômeno de sempre estar acontecendo alguma coisa), revezando entre Espaço e Terra, tendo no espaço diferentes lugares (Luganenhum, Titan, entre outros), e na Terra, o mesmo (Nova Iorque, Wakanda, entre outros).

É um filme de longa duração, entretanto, quase qualquer coisa que seja descrito, pode ser considerado spoiler por alguns. Por isso, caso você queira ver os spoilers, veja nossa postagem com todos os spoilers aqui.

Pontos positivos: Quase todos, a Marvel acertou em cheio, repleto de referências e easter eggs, e elementos que os fãs já esperavam, como uma exploração ainda maior do Homem-Aranha no Universo dos Vingadores, sua relação com Tony, a relação entre Steve e o povo de Wakanda, o destino de Wanda e Visão, e o Bruce em guerra interior com o Hulk.

Pontos negativos: Não consegui achar muitos, embora ainda esteja absorvendo o filme, porém, vi algumas referências que podem fazer os leigos se perderem um pouco, e, tendo em vista que grande parte dos telespectadores são leigos, possa ser que essas referências possam ter passado em branco. Por isso, não se esqueça de ver todos os filmes antes – confira a ordem aqui.

E sobre a participação do Stan Lee: Magnífico, como sempre. Vamos ao cinema para ver a participação do Stan Lee, o filme é brinde!

Fez o cinema inteiro rir, sorrir, gargalhar, roer as unhas, e claro, chorar. É um amontoado de sentimentos simultâneos e compartilhados. É algo que eu nunca vi em uma sala de cinema.

Conhecendo melhor Thanos, e explorando ainda mais cada personagem, “Guerra Infinita” ficará marcado na história, e é um dos filmes mais importantes da década, sem dúvida alguma! Um pouco mais que isso, eu acabaria por soltar spoilers, então, assistam “Guerra Infinita”, e não compartilhem spoilers sem avisar. Como um amigo meu disse ao sair do cinema: É um filme que merece ser assistido e sentido, sem ter a emoção cortada por spoilers.

Para terminar, vem uma utilidade pública: Tem cena pós-crédito! Eles rodam quase todos os créditos do filme antes da cena, por um momento, o cinema se indagava se realmente teria cena pós-crédito, mas foi a primeira vez que vi uma sala inteira permanecer em suas poltronas por todos os créditos, esperando o pós-crédito. Tem cena pós-crédito sim, e que cena pós-crédito!! Um filme, por completo, genial!

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Crítica: Aniquilação – Complexo e Belo (2018)

Aniquilação conta a história da bióloga Lane (Natalie Portman). Seu marido, Kane (Oscar Isaac), é o único a voltar vivo após um ano ter embarcado em uma missão secreta do governo americano. A expedição envolvia uma dimensão alienígena chamada Área X. Para salvar o marido, Lane se junta a mais quatro cientistas para adentrar “O Brilho” e descobrir seus mistérios.

O filme estreou 12 de março na Netflix Brasil, escrito e dirigido por Alex Garland, com a obra baseada no livro de mesmo nome, do escritor Jeff VanderMeer. Aniquilação mistura ficção científica, ação e filosofia na mesma produção, resultando em uma obra surpreendente.

A parte de ficção científica é muito bem elaborada pelo diretor Alex Garland, do aclamado Ex Machina. Este outro mundo é composto de misteriosa atmosfera capaz de misturar DNAs e transformar a vida que conhecemos em algo extraordinário. Além de colorido e fascinante, os conflitos enfrentados pelas personagens são de caráter psicológicos, o que encaixa o filme em uma categoria de suspense/ terror também.

As atuações são ótimas, mas com personagens unidimensionais, as acompanhantes de Lane, interpretadas por Gina Rodriguez, Tessa Thompson, Jennifer Jason Leigh e Tuva Novotny não são perfeitamente aproveitadas. Natalie Portman, entretanto, entrega uma performance incrível para o projeto apresentado. O último ato do filme é complexo, cheio de minúcias referentes a profundidade do roteiro, com cenas filosóficas e difíceis, e Portman consegue carregar a lentidão filosófica das cenas com destreza.

Visualmente o filme seria perfeito para o cinema e foi até cogitado para ser lançado nas telonas. Entretanto, o projeto foi vendido para a Netflix, com um dos maiores porquês o fato do filme ser muito intelectual e complicado de entender.

Contando a história de forma propositalmente lenta, Garland inclui com alguns flashes forwards reveladores, mas que podem confundir o espectador. Mesmo assim, a proposta do filme é labiríntica e Garland traduz esse mundo e a história muito bem.

Como outros trabalhos do diretor, é nas entrelinhas em que o tema existencial humano norteia. A história sem uma resposta concreta é a intenção de Garland, e torna o filme memoravelmente perturbador quando acaba.

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Crítica: Com amor, Simon (filme)

Com amor, Simon é um filme feito para falar e de amor nos moldes das comédias românticas adolescentes. O enredo, porém, é inovador, não só por apresentar um personagem gay como principal, mas por fazê-lo da forma mais acolhedora possível.

O filme, dirigido por Greg Berlanti, retrata a vida do adolescente Simon Spier, que está se descobrindo como homossexual. Ele encontra uma postagem anônima no blog do colégio de um outro menino que usa o nome fictício de “Blue” e diz sentir-se aprisionado por guardar o segredo de ser gay. A partir daí, Simon começa a trocar emails com esse garoto, que estuda em seu colégio, mas esconde sua identidade. Ambos encontram conforto em ter alguém para conversar e para compreender seus questionamentos acerca de suas sexualidades e problemas diários adolescentes.

“Sou exatamente como você. Eu tenho uma vida completamente comum. Tirando o fato de que eu tenho um enorme segredo. Eu sou gay”  diz o protagonista, logo no começo da história. Simon é, de fato, exatamente como se espera que um garoto branco e estudante de um ensino médio americano seja: inteligente, com grandes amigos (os quais conhece a vida toda), pais incrivelmente compreensíveis, uma irmãzinha adorável e um cachorro. Simon é o protagonista estrela de qualquer filme High School americano. Mas, ele é gay. E, apenas com essa premissa, espera-se um grande drama, com muitos acontecimentos trágicos e problemas familiares. “Com amor, Simon” não é assim.

O filme, que foi adaptado do livro Simon vs the Homo Sapiens Agenda (Becky Albertalli), traz a questão da sexualidade de um modo simples. Não é sobre a aceitação das pessoas em ter um garoto gay no colégio, na família ou no círculo social. É sobre um personagem que está se descobrindo e aprendendo a lidar com suas próprias questões, da forma mais natural possível – como todos os adolescentes comuns fazem.  O filme é uma comédia romântica indicada para toda família e serve bem o propósito para o qual foi feito. É uma produção representativa em seus personagens, diálogos e questões abordadas.

“Com amor, Simon” traz o frescor do filme de high school americano atualizado para uma nova geração. O filme trata, acima de tudo, de amor adolescente. Vale a pena conferir nos cinemas.

 

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Crítica: Amador (2018)

SINOPSE: Ao ser recrutado para uma escola preparatória de elite, um fenômeno do basquete de apenas 14 anos se depara com o ambiente corrupto e ganancioso do esporte amador.

É preciso que o verdadeiro sentido da palavra amador seja entendido, para que possa haver um entendimento da conexão que há entre história e título. A palavra Amador não é, como muitos pensam, um adjetivo que podemos usar para definir alguém inexperiente. A palavra, em sua verdadeira essência, se refere à alguém que ama algo, que anseia por algo.

No filme podemos conhecer a história de Terron Forte (Michael Rainey Jr), um garoto de quatorze anos que é apaixonado pelo basquete. Além de se destacar por suas habilidades no esporte que ele tanto ama, o jovem Terron também se diferencia por sofrer de um transtorno de aprendizagem chamado discalculia.

A discalculia é uma desordem neurológica específica que afeta a habilidade de uma pessoa de compreender e manipular números. Ela ocorre em pessoas de qualquer nível de QI, mas significa que têm frequentemente problemas específicos com matemática, tempo, medida, etc.

Terron tem uma mãe professora, e um pai que é ex-atleta. Nia – a mãe – tenta ao máximo entender e contornar o problema do filho com a aprendizagem, enquanto o pai – Vince – está sempre incentivando que o filho siga carreira no basquete, que ele vê como u único modo de saírem da pobreza.

A história desperta um novo olhar para os problemas à nossa volta, nos faz enxergar que as pessoas não são boas em tudo – como Terron, que é um ótimo atleta mas um aluno não muito bom.

É feita também uma crítica ao esporte norte-americano quando um colega de Terron diz “Nós jogamos para as marcas e nada mais.”.

O filme Amador toca por sua história interpretada de forma simples e realista. Ele talvez pareça só mais um filme sobre um garoto pobre, que deseja subir na vida e passa por muitas dificuldades para isso, mas não é. É um filme que trás lições, que nos ensina à olhar de uma forma diferente para o outro, e também à nos esforçarmos para superar nossos problemas.

Amador sem dúvidas foi um grande acerto da Netflix, e é um filme que vale muito à pena.

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Crítica: Uma dobra no tempo (2018)

Uma dobra no tempo é o novo lançamento da Disney que o Beco foi assistir hoje em uma exclusiva para a imprensa e traz tudo para vocês. O filme é uma aposta infanto-juvenil com público alvo para crianças de 8 a 12 anos e tem como focos a autoaceitação, o amor próprio, a esperança e os laços de amor entre a família e os amigos.

Meg Murry (Storm Reid) é a filha de dois cientistas brilhantes que buscam provar que é possível viajar milhões de anos-luz só com o poder da mente. É o que eles chamam de tesseract. Imaginem: você só precisa encontrar a frequência certa e pronto! Estará em outro planeta em questão de segundos. Qualquer lugar, não há limites! O problema é que nem todos acreditaram neles, então, o Dr. Murry (Chris Pine) teve que tirar a prova por si só, e ele conseguiu. Mas se perdeu pelo Universo, deixando sua família abandonada e sem notícias durante 4 anos.

Nesses 4 anos, Meg se tornou uma menina hostil, desconfiada, sem amigos e vítima de bullying na escola. A típica adolescente complicada e problemática. Seu irmão adotivo que era só um bebê quando seu pai sumiu, Charles Wallace (Deric McCabe), é visto como um doido esquisitão por ser inteligente demais. A certeza de que seu pai nunca mais irá voltar fica cada vez mais concreta, até que três mulheres bem esquisitas cruzam a vida de Meg e Charles, reacendendo a esperança em seus corações.

Essas mulheres nada mais são do que Sra. Quem (Mindy Kaling), Sra. Qual (Oprah Winfrey) e Sra. Queé (Reese Whitherspoon), as guardiãs do bem do Universo que trabalham em um exército que busca ajudar a todos, seja em auxílio ou resgate, como é o caso do pai de Meg. Elas receberam um chamado do Dr. Murry e, junto com Charles Wallace, Meg e Calvin (Levi Miller), um colega de classe de Meg por quem ela tem um leve crush, buscam por ele através dos vários planetas nos quais passou, seguindo suas pistas.

 

Como é esperado de um filme com público alvo infantil, a trilha sonora não é muito rica, mas os efeitos especiais são excelentes. Muitas cores, seres fantásticos e cenários surpreendentes podem ser esperados. Além de muita ação, artifício típico para prender a atenção das crianças. Também não é um filme muito longo e a história se desenvolve rápido de forma simples e eficaz, com diálogos curtos e poucos personagens, o que é muito comum no seguimento.

A primeira coisa que chama a atenção em Uma dobra no tempo é a mensagem. Tendo em vista o público alvo e o alto índice de bullying nas escolas, fica claro o objetivo do filme de valorizar as diferenças, a autoaceitação e o valor de cada um com seus defeitos e qualidades. A protagonista é uma menina negra com cabelos cacheados e óculos e não se acha muito bonita, além de sofrer bullying de outras meninas da escola, meninas estas que são brancas, magras e tem cabelo liso. Ela ainda se acha estranha e desajeitada, tendo até dificuldade em “tesserar” porque não gosta de si, o que faz a Sra. Qual comentar que até parece que ela quer reaparecer como outra pessoa.

Ao longo do filme, vemos Meg lidar com suas inseguranças, principalmente a dificuldade em confiar. Vemos ela acolher seus defeitos como parte de si, além de reconhecer suas inúmeras qualidades, principalmente sua habilidade com a física e a matemática. Com isso, ela descobre que é a junção destes que a faz ser quem é e que foi preciso milhares de combinações do Universo ao longo de vários milênios para que ela fosse gerada exatamente desse jeito, o que a torna algo extremamente especial.

Temos também o poder feminino da história. O livro que originou o filme é o primeiro da série Uma dobra no tempo escrita por Madeleine L’Engle, a direção é de Ava DuVernay e o elenco é predominantemente feminino. Coincidência? Eu acho que não. Não podemos esquecer que temos no elenco ninguém mais, ninguém menos do que Oprah Winfrey e Reese Whitherspoon, reconhecidas ativistas pelos direitos humanos, igualdade social e racial e defesa das mulheres. É notório que o filme tem o objetivo muito maior do que ser uma história de fantasia para crianças, pois há também um caráter humanitário e até ativista convocando as crianças a serem guerreiros pelo Bem, atuando em suas escolas e comunidades como uma luz que dissipa as trevas.

Outra coisa interessante no filme é uma protagonista negra sem o enfoque da história ser esse. Em era de Pantera Negra, vemos como aflorou nas pessoas a luta por representatividade e eu achei algo magnífico a representatividade apresentada nesse filme. Não só pela protagonista, mas pela família interracial, o irmão adotivo, o crush branco de olhos azuis, a bully asiática e por aí vai. Isso também é visto nas três entidades ajudantes representadas na forma humana como três mulheres totalmente diferentes entre si. Criar uma identificação com as crianças fará não só elas conseguirem se ver em um ator ou uma atriz em um filme, mas se relacionarem com a história e as situações apresentadas ali, conseguindo entender melhor a mensagem que é passada: você é a junção perfeita de qualidades e defeitos que te fazem um ser único e especial e, enquanto tiver amor e esperança, sempre haverá uma solução. Basta ser corajoso e nunca deixar de lutar pelo o que acredita.

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Crítica: Três Anúncios para um Crime (Three Billboards Outside Ebbing, Missouri, 2017)

A premissa de Três Anúncios para um Crime já é incômodo e indigesto. Ao saber o que está escrito nos outdoors colocados pela protagonista Mildred Hayes (Frances McDormand), o filme embrulha o estômago desde o começo. E assim prossegue suas duas horas de produção.

A obra conta a história de Mildred que teve sua filha estuprada e assassinada, quando sete meses passados não há nenhum indício de evolução do caso pela polícia, liderado pelo xerife Bill Willoughby (Woody Harrelson), da pequena cidade conservadora de Ebbing, Missouri. A raiva e a dor de uma mãe frustrada, que também é uma mulher forte, sem piegas, executada com maestria por McDormand, é o que faz o filme apaixonante e obscuro.

Completando o elenco incrível com o sem escrúpulos e racista policial Jason Dixon (Sam Rocwell), o filme trata todo o drama com um humor negro, te fazendo rir em momentos inadequados. Assim, o diretor Martin McDonagh se destaca por contar uma história onde o ódio não é a solução, muito menos uma explicação para os preconceitos apresentados no filme. Assim, ódio, ressentimento e redenção são as três palavras para definir a obra.

E McDonagh conta a história de um modo diferente já visto, apresentando a loucura, mas também momentos de vulnerabilidade em todos os personagens. Um grande exemplo disso é o tratamento de Mildred com os animais, quando em uma das primeiras cenas, ela ajuda um besouro ao reorientá-lo. Isso torna a jornada do espectador muito mais interessante, pois ao mesmo tempo, o filme te leva a odiar e amar os protagonistas.

Entretanto, a redenção de Dixon sem nenhum tipo de justiça incomoda. Além disso, com a atual situação política nos Estados Unidos, contra o porte de armas e a violência, tornam o final questionável. Ainda assim, McDonagh completa a obra sem focar especificamente no crime e sim, nas conseqüências dele e todo o sofrimento que o persegue, revelando uma essência original e digna de Oscar.

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Crítica de Cinema: Pantera Negra (2018)

Uma década inteira se passou desde a estreia de Homem de Ferro (2008), que deu início ao Universo Cinematográfico Marvel – hoje, a maior franquia cinematográfica da história. E, para começar esse ano especial em grande estilo, chega aos cinemas Pantera Negra (Black Panther, 2018).

A história segue os eventos narrados em Capitão América: Guerra Civil (2016). Após perder seu pai num atentado, T’Challa (Chadwick Boseman) retorna ao reino de Wakanda para assumir seu posto como rei. E como primeiro desafio do seu reinado, o Pantera Negra precisa combater uma ameaça que pode comprometer o futuro da sua nação e do mundo.

Divulgação/Marvel Studios

O filme dirigido por Ryan Coogler (Creed: Nascido Para Lutar, 2015) se destaca entre as produções do gênero em muitos aspectos. É a primeira superprodução escrita, dirigida e estrelada por uma equipe formada predominantemente por negros. É também uma das mais maduras e responsáveis. Sem abrir mão do escapismo e de todos os ingredientes que um filme de herói precisa ter, Pantera Negra consegue abordar temas relevantes. O roteiro faz uma crítica interessante e genuína ao momento político e social que estamos vivendo mundialmente.

A história de Wakanda é contada de maneira verossímil e bem detalhada. Uma nação africana, próspera e muito evoluída tecnologicamente, graças ao vibranium abundante em suas terras.  Sua política é isolacionista, escondendo do resto do mundo seus recursos e deixando que acreditem ser apenas um país subdesenvolvido.

O filme desenvolve muito bem os seus personagens, e o elenco é impecável. O T’Challa de Chadwick Boseman é um herói carismático, que entende sua responsabilidade como líder de uma nação, mas que não é livre de medos e incertezas. Em contrapartida, o antagonista Erik Killmonger, interpretado por Michael B. Jordan, traz consigo uma motivação autêntica e um discurso social realista e poderoso, entregando o melhor vilão da Marvel até o momento.

Divulgação/Marvel Studios

Divulgação/Marvel Studios

O elenco feminino é outro ponto forte em Pantera Negra. Okoye (Danai Gurira) é a personificação da força, da lealdade. A princesa Shuri (Letitia Wright) representa a inteligência, dando todo o suporte tecnológico ao irmão T’Challa. Naki (Lupita Nyong’o) transmite generosidade, demonstrando preocupação com os mais carentes. Mesmo estando sob comando do rei de Wakanda, a relação é sempre de respeito e nunca de submissão. E na hora que o bicho pega é que elas mostram realmente o significado de girl power.

A construção de Wakanda impressiona. Figurinos, cenários, maquiagem, adereços e a belíssima trilha sonora celebram a cultura africana com louvor. Há espaço aqui para observar uma nação que, mesmo fictícia, tem sua sociedade, suas tradições, sua crença e seus valores. Tudo muito bem delineado. Pantera Negra faz por Wakanda em apenas um filme o que Thor não conseguiu fazer por Asgard em três.

Abordando política, igualdade de gênero e opressão, entre outros temas, Pantera Negra comprova que é possível fazer um filme de herói ser divertido e relevante ao mesmo tempo.