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Emanuel Antunes

Atualizações

Beco Awards 2016 – Conheça as Categorias

O dia 29 de fevereiro se aproxima para darmos início à primeira Beco Awards 2016, que consiste em: Uma votação pública para escolhermos as melhores séries, melhores filmes, atores, atrizes, cantores e cantoras de 2015. Em contagem regressiva lançamos a lista de categorias em suas devidas seções (Literatura, Cinema, Música e Séries) abaixo:

 

  • LITERATURA
  • Melhor Livro NACIONAL (6 Indicados)
  • Melhor Autor ou Autora NACIONAL (6 Indicados)
  • Melhor personagem em Literatura NACIONAL (6 Indicados)
  • Melhor Livro ESTRANGEIRO (6 Indicados)
  • Melhor Autor ou Autora ESTRANGEIRA (6 Indicados)
  • Melhor Personagem em literatura ESTRANGEIRA (6 Indicados)

 

  • CINEMA
  • Melhor filme NACIONAL (6 Indicados)
  • Melhor atuação em filme NACIONAL (6 Indicados)
  • Melhor Trilha-sonora de filme NACIONAL (6 Indicados)
  • Melhor filme ESTRANGEIRO (6 Indicados)
  • Melhor atuação em filme ESTRANGEIRO (6 Indicados)
  • Melhor trilha-sonora de filme ESTRANGEIRO (6 Indicados)

 

  • MÚSICA
  • Melhor álbum NACIONAL (6 Indicados)
  • Melhor cantor ou cantora NACIONAL* (6 Indicados)
  • Melhor show NACIONAL (6 Indicados)
  • Melhor álbum ESTRANGEIRO(6 Indicados)
  • Melhor cantor ou cantora ESTRANGEIRO(A) (6 Indicados)
  • Melhor video-clipe ESTRANGEIRO (6 Indicados)

* Nesta categoria estão inclusos e inclusas cantores, cantoras e interpretes. 

  • SÉRIES
  • Melhor Série ESTRANGEIRA (8 Indicadas)
  • Melhor atuação Feminina em série ESTRANGEIRA (8 Indicadas)
  • Melhor atuação Masculina em série ESTRANGEIRA (8 Indicados)
  • Melhor minissérie ESTRANGEIRA (8 Indicadas)
  • Melhor roteirista em série ESTRANGEIRA (8 Indicados)
  • Melhor fotografia de série ESTRANGEIRA (8 Indicadas)

Eis todas as categorias da Beco Awards 2016. Ao todo são 156 indicados que serão divulgados ainda esta semana, nesta ordem:

Quarta-feira (17/02)– Anúncio dos indicados em LITERATURA

Quinta-feira (18/02) – Anúncio dos indicados  em CINEMA

Sexta-feira (19/02) – Anúncio dos indicados em MÚSICA

Domingo (21/02) – Anúncio dos indicados em SÉRIES

Em breve mais detalhes sobre a Beco Awards e você que está ansioso pela votação assim como nós, comece a cogitar os indicados e torça por seus favoritos.

Autorais

Crônica: O poeta é filho do desprezo e irmão do orgulho

Por muito foi difundido que o escritor, o poeta, o produtor da arte era um ser iluminado, nutrido de boas intenções e energias pertencentes à seres avançados, de que o poeta consegue captar aquela parcela invisível do ser humano, parcela essa que se transforma em concreto aos olhos do bom e velho escritor. Existe verdade nisso tudo, mas pouca, um terço pequenino entre tantas mentiras espalhadas por charlatões e iludidos com a arte da escrita.

Vinícius de Moraes escrevera “Abre teus braços, meu irmão, deixar cair, pra que somar se a gente pode dividir”. Belo não? O mesmo Vinícius também colocara no papel a seguinte frase “Ai quem me dera ter-te, morar-te, até morrer-te”, sentiu a diferença de sintonia entre uma e outra? Não? Vou usar outra como exemplo prático: “Não há você sem mim, eu não existo sem você” também escrita por Vinícius, e seja sincero, é impossível não notar as ideias contrárias entre uma e outra. Moraes na primeira é o homem apto a semear, a espalhar bondade, a dividir amor, já na segunda deixa um plano de fundo dominador, de que este é necessário para outrem e que esta outra pessoa nada seria se não fosse ele. Egoísta e usurpador da liberdade alheia, enquanto em outro local, em outro universo poético, é o sinônimo de igualdade, fraternidade e liberdade. Pois bem, meu irmão, deixa cair, e note, o poeta é traiçoeiro, é bicho estranho para os olhos e ouvidos desavisados. Entendeu onde desejo chegar? Se não, vamos para outro exemplo.

Dessa vez senhor Caetano Veloso, mundialmente conhecido por suas poesias encharcadas de fé e tradição, nutridas de um simbolismo e misticismo fora do normal, não acredita em tudo que escreve. Não acredita porque não é preciso acreditar, mas sim produzir. Em “Iansã”, composição sua junto a Gilberto Gil ele cria uma hino à dona dos raios e ventos, faz uma evocação à Oyá, mas o próprio Caetano declarara que não acredita em Deus. Perceba, existe uma linha que divide o que o poeta é e o que o poeta produz, nem tudo que o escritor coloca no papel seria o próprio, mas tudo que está no papel é produto do escritor. O que o personagem fala, é o personagem que dita, não o escritor. O que está presente na poesia pode ou não ser a verdade daquele autor, PODE, eu disse, mas não é necessário que seja. É essa a diferença do poeta para o homem comum. O poeta é uma metamorfose constante, é animal que consegue se transformar mil e uma vezes se for preciso.

O que está presente no papel, acredite, na maioria das vezes não foi vivenciado pelo autor ou sentido por este. Escritor é falso, traiçoeiro, uma mistura de ódio aglomerado e felicidade crônica, diabo em pessoa quando questionado sobre sua obra e Deus do novo testamento se elogiado e colocado em pedestais. Não se engane, meu irmão, quando ouvir de um escritor ou escritora: É, o dia está lindo hoje. É mentira, é falsa modéstia, pois escritor sabe, que lá no fundo, poderia produzir um dia mil vezes mais belo que aquele. Sobre o papel o autor é Deus e não existe sensação mais confortante e satisfatória do que ser dono de seu destino, do que ser o homem que puxa as cordas das marionetes desenfreadas.

Tenho medo das palavras ditas por seres como esses. Homens e mulheres que convivem com demônios diariamente, sem proteção alguma, apenas sua força e talento transcendente. Consigo mentalizar a batalha que ocorre sobre as folhas e folhas de papeis usadas para produzir livros que por décadas ficarão cobertos de poeira e serão por sorte atravessados por traças desnorteadas. Na mão um lápis sujo, úmido por conta de pingos de café e com ponta grosseira, simbolizando trabalho duro que não passa de ma página por dia, caso seja este produtivo, na mesa um amontoado de vergonhas e solidões. No fim, após sofrimentos internos e palavras soltas na mente, o escritor se debruça no chão frio e espera. Aguarda o fim de sua vida inútil, baseada em mentiras e sobre tudo, guiada por um narcisismo disfarçado.

Atualizações

Crítica: O quarto de Jack (2015)

Não estou nas melhores condições para iniciar essa crítica, mas penso que mesmo que passem horas e horas, não conseguirei escreve-la do mesmo modo, esse é o efeito que “Room” provoca nas pessoas que o assistem. Um filme feito para devastar e provocar no ser humano as piores sensações, leva-lo aos seus maiores pesadelos, deixa-lo estagnado no chão, sem saber para onde ir ou o que fazer, é uma obra-prima em cada segundo, uma mistura de medo e esperança que engana em seu cartaz, em seu trailer e em toda sua propaganda. Quem leu a sinopse de “O Quarto de Jack”, surpreendeu-se ao assistir o filme, que leu o livro de Emma Donoghue, inspiração para o longa, também ficou atônito ao ver toda a produção. No mais, qualquer pessoa, independente de sua bagagem vital, cairá aos prantos após o primeiro minuto de “Room”, lidará com seus preceitos e visões, será confrontado a encarar o modo que encara o mundo. O mundo e o espaço, sim eles são diferentes, não é, Jack? O quarto, o mundo, o espaço, a árvore. Jack conhece todos eles ao mesmo tempo que não os reconheça, Jack é um pequeno garoto com seus cinco anos de idade. Jack tem uma mãe. E um cachorro que não existe chamado Lucky. Jack é toda a verdade invertida, colocada em um pequeno quarto. Em um pequeno e tenebroso quarto que serve como prisão para Jack e sua mãe, mas não, ele não sabe, ele sabe de muitas coisas, menos dessa, por hora.

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O filme relata a história de Jack e sua mãe, Joy, ambos vivem aprisionados em um “barraco” no quintal daquele que Jack conhece como “Velho Nick”. Todo o longa se passa pela visão de Jack, ou seja, nós vamos descobrindo as coisas aos poucos, junto à criança, mesmo supondo e tendo algumas certezas antes que ele tome conhecimento do que realmente ocorre. Não falarei mais sobre o enredo pois não quero lançar spoilers sobre o filme, você não pode perder as diversas sensações que este provoca só porque não consegui segurar minha ansiedade de querer falar mais e mais sobre tão fantástico filme. O que posso adiantar é que temos uma visão totalmente inocente em primeiro momento sobre o quarto, pois é apenas isso que transparece ser para Jack, todo seu encantamento pela história fantasiosa criada por sua mãe para evitar que ele tome conhecimento do que realmente está acontecendo invade nossa experiência e em certos momentos nos encantamos juntos ao garoto, mas isso são raras oportunidades, pois o real, o bruto, o medo e o terror se espalham na tela a partir que a porta se abre e o “Old Nick” invade o lugar. Causa náuseas e nos faz tremer de ódio certos momentos do longa.

“Room” é indicado nas seguintes categorias pela Academia: Melhor filme, Melhor Atriz, Melhor Direção e Melhor Roteiro Adaptado. Comecemos pelo último quesito. Emma Donoghue publicou “Room” em 2010, de lá para cá o livro da escritora irlandesa só arranca elogios da crítica, concorrente em diversas premiações, a obra de Donoghue é um achado da literatura contemporânea, o que provoca um clima de tensão na produção do filme. A adaptação poderia arruinar a narrativa literária, poderia ser um erro adaptar livro tão complexo e pregador de artimanhas naqueles que o interpretam. O livro encontra-se indisponível em todas as livrarias e sites do país (ISSO MESMO), de repente “Quarto”, publicado pela Record, some das prateleiras e estantes virtuais. O filme causou um pandemônio nas vendas, primeiro, por que é uma releitura fiel da obra, segundo, por que só deixou os fãs da arte ainda mais curiosos. Não é surpresa termos “Room” sendo indicado a Melhor Roteiro Adaptado. Aqui, em nosso Especial Oscar rasguei elogios ao filme “Carol”, tendo colocado tal como principal favorito nesta categoria, mas errei, e errei bruscamente. “Carol” encara “Room” com olhos estranhos, pois ambos apresentam um potencial incrível para levar a estatueta, mas existe um diferencial no modo como as histórias foram adaptadas: Carol decola da metade do filme para o fim, enquanto “Room” é intenso do início até sua conclusão, chegando a ser desafiador assisti-lo sem tentar fechar os olhos em algumas cenas por medo, nojo, ou impaciência. É revoltante e o roteiro conseguiu captar isso do livro.(Detalhe: A roteirista do filme é a própria Emma Donoghue, ou seja, facilita bem as coisas…) Através da inocência de Jack somos lançados em um mundo totalmente desumano e cruel. Mundo esse que dilacera o telespectador, que se encarrega de nos oferecer um choque de realidade e medo. No minúsculo quarto da tortura e do sofrimento somos reféns da incapacidade, de vermos aquilo acontecer diante de nós e não pudermos fazer nada, absolutamente nada. Inúteis somos a cada cena e nenhum ser humano gosta de se sentir assim.

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A atuação do garoto e de sua mãe são arrebatadoras, comecemos a listar os acertos do pequeno Jacob Tremblay. A voz narrativa do filme é de Jacob, e este oferece toda fragilidade de sua idade para compor o clima de inocência referente a Jack. Seus momentos de felicidade, de surpresa ao encarar os fatos, de ira. É de uma habilidade incrível o modo como Tremblay interpreta, colocando cada sentimento em seu devido lugar, lidando com certas situações que outros atores não conseguiriam encarar. O garoto mereceu o SAG que levou para casa na semana passada, e merece bem mais que uma só estatua, tem um futuro brilhante e podemos ver isso graças ao produto de seus esforços em “Room”. Vibramos com o garoto, choramos, damos as melhores risadas contidas, sonhamos com os gestos da criança e caímos em uma abismo chamado ilusão. Ilusão de que tudo está harmônico, de que se mudar estraga, de que a verdade é o que nos contam e nada mais. Jacob deixou de ser Jacob para encarnar Jack e de uma forma singular, o ator perfeito para um papel desafiador.

Sobre Brie Larson, bem, é indescritível o que a atriz fizera em “Room”, mas vamos devagar e quem sabe conseguimos falar um pouco sobre a brilhante interpretação de Brie. Antes de mais nada, você não reconhecerá Brie Larson de primeira, não achará a atriz no papel, a única parcela de Larson que encontramos neste filme é seu talento, ela está completamente transfigurada, é a garota que passou sete anos enclausurada sendo estuprada diariamente. É a mulher que teve seu filho dentro de um minusculo quarto, que lidou com isso todo miserável dia, que questionou aos céus, única coisa que conseguia ver do mundo por meio de uma claraboia. É o rosto do sofrimento que vemos em cena e isso coloca Larson bem a frente de todas as candidatas à melhor atriz. Dona do SAG 2016, de tantas outras premiações, Brie Larson chega forte na briga e por justa causa, por ser a Joy que o filme exige, temos uma vencedora, senhoras e senhores, temos?

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Todo o cenário, não exclusivamente do quarto, mas principalmente deste, foi pensado de uma forma espetacular. Os desenhos de Jack refletem muito o que ele sente diariamente referente a tudo aquilo, temos, graças aos planos escolhidos pelo diretor, algumas cenas que evidenciam apenas estes, desenhos feitos entre acontecimentos que qualquer criança desejaria esquecer. Entre uma espiada pela claraboia até sequência de estupros bem ali, ao seu lado, mas a mente pura do garoto deixam isso passar, o que nos deixa ainda mais aflitos.

A fotografia de “Room” é excelente. Em alguns momentos ela brinca conosco, por exemplo: Temos várias visões do quarto. Em algumas cenas ele é enorme, pois é assim que Jack o vê, em outras, tornar-se o menos lugar do mundo, tudo isso varia de acordo com o roteiro, produzindo sensações mistas no telespectador, nos jogando naquele lugar. É bela graças a sua realidade extrema. A direção de Lenny Abrahamson também merece elogios, pois cada tomada foi corretamente utilizada, não existe cena desnecessária, não vemos falhas, nada de mais e mais coisas apenas para encher fita até o ápice, nada disso em “Room”, tudo que aparece no longa é altamente necessário para a compreensão da história e a direção de Abrahamson surge para afetar diretamente nisto.

Este é “o filme” da Academia. É aquela obra em que a Academia assiste e sugere logo de cara para melhor filme, não me surpreenderia se levasse a estatueta, ou melhor, tendo assistido todos os indicados a Melhor Filme, aposto em “Room” para vencedor da mais cobiçada categoria da premiação, é merecedor de tal prêmio. É um longa desafiador, que busca em cada cena transmitir mensagens diferentes, que mostra o horror, o que tais situações podem causar na vida de pessoas e mais pessoas. Parece ser pequeno, coisa pouca, por sua propaganda e sinopse, mas é grandioso segundo após segundo, é emocionante e avassalador como nenhum outro é. Entre todos os filmes que a Academia indicara este é aquele que podemos assistir daqui a vinte anos e saberemos o que acontece em cada cena, pois marca todo ser humano, produz sensações agonizantes em quem assiste. É arte brutal o que vemos, arte que imita a tão desafiante vida, um retrato de casos e mais casos mundo a fora. Você não será o mesmo após “Room”, não encarará as pessoas do mesmo jeito, não olhará para o céu como o faz todo dia. “Room” nos arremessa, nos faz deitar no chão frio e chorar, por indignação e repulsa, nos faz comemorar junto ao garotinho em seu momento de glória e por fim, dar adeus. Adeus.

Atualizações

Feliz aniversário, Donadone

Hoje o recôncavo vai parar, todos nós sabemos disso, e não, não me mande “Calabok” porque hoje não vai funcionar, Dona Rafaela, ou chamo de Sra Donadone? Hoje é o dia da nossa Meredith Grey, da meia-médica do Beco, da dona da estante mais organizada de toda a Bahia, eleita por anos consecutivos Miss Beco e quase uma Weasley, detentora do título “Louca do Viber” por justa causa e na Escola de Samba do Beco Literário é nossa velha-guarda, e por isso mesmo amamos em dobro (Todo respeito e admiração pelos idosos). Hoje é dia de gritar: VAI SAFADONE!

Agora vamos parar de brincadeira, porque o assunto é sério. Temos imagens da nossa escritora Rafaela Donadone, aniversariante e estrela do dia, diretamente de Salvador para o mundo. Confiram o estado desta hoje:

Nós entendemos, Rafa, nós entendemos como é chegar nessa etapa da vida (mas não sabemos mesmo…) e sobre tudo queremos te parabenizar, por ser uma escritora fantástica, por conseguir ultrapassar as barreiras do Wifi com tua paciência (as vezes essa paciência some, mas é melhor ficar calado…) e também por ter uma parcela italiana, igual nosso amigo Joey ali. O Beco não seria o mesmo sem Donadone, uma lacuna ficaria ali, exposta sem que existisse alguém para preenche-lá, e convenhamos, nós temos a pessoa que já leu mais de metade do mundo literário, é até a queridinha de uma Editora (Quero ver quem tem esse título, ninguém tem…). É por ser essa amiga que sempre responde ao chegar do plantão, que senta a mão em quem ficar de mimimi, que não para nem que seja por um segundo, que te parabenizamos, por mais um ano sendo essa pessoa incrível que consegue ofuscar até a estreia de Deadpool. Te desejamos o que de melhor a vida tem para oferecer, vários e vários outros aniversários e muitos, mas muitos livros, mas vamos parando por aqui porque sei que você não tem paciência para quem está começando. Parabéns, Rafa, e obrigado por tudo, em nome do Beco, em nome da minha avó que acabou de te convidar para o grupo de ginástica dela e por ser a chata que de tanto falar sobre Greys Anatomy me fez assistir tão assassina série. Abre a garrafa e levanta o copo que teu dia chegou!

Música

Música: Os 5 melhores sambas-enredo de 2016 (RJ)

Não tem tristeza ou desilusão nesta quarta-feira de cinzas, mas claro que não, tem é muito samba, frevo e axé para quem quiser. Nós do Beco Literário ouvimos todos os sambas do grupo especial do Rio de Janeiro e assim como no ano passado, escolhemos os cinco melhores. Você confere a lista abaixo das mais belas composições e arranjos desse ano que mal começou mas já amamos por demais. Liga o som bem alto ai e faça o que todo e qualquer brasileiro sabe fazer de melhor: Sorrir em meio ao caos.

  • 5º LUGAR

G.R.E.S. Unidos de Vila Isabel

Samba-enredo: Memórias Do “Pai Arraia” – Um Sonho Pernambucano, Um Legado Brasileiro.

Com um grupo de compositores como esse (Mart’Nalia, Martinho da Vila, Arlindo Cruz e outros…) o selo “bom samba” de garantia estava garantido. Narrando um pedacinho de Pernambuco por meio da história de Miguel Arraes, um dos maiores nomes da política nacional, a Vila Isabel nos ofereceu um samba maravilhoso, tendo como refrão-marca o “Silenciar jamais” tão abordado nas luta que teve como farol Arraes. Sente o samba:

  • 4º LUGAR

G.R.E.S São Clemente

Samba-enredo: “Mais de mil palhaços no salão!”

A Agremiação que para muitos não duraria no Grupo Especial por muito tempo, surpreendeu. Com um tema que aparentemente é simples, a São Clemente fincou bandeira no grupo das tão admiradas 12 e grita com seu enredo que não, não vai sair tão fácil deste. Um sensacional samba que fica fácil na mente, que não enjoa, é filho daquelas composições antigas que há tempos não vemos semelhantes.

  • 3º LUGAR

G.R.E.S Acadêmicos do Salgueiro

Samba-enredo: A Ópera dos Malandros  

Em homenagem aos malandros de todo o país e à obra gigantesca de Chico Buarque, a escola adentrou na sapucaí com um samba nutrido daquilo que o compositor já citado e dono da peça que inspirou tal enredo mais utiliza: Detalhismo. Aproveite a maravilha e o misticismo da composição.

  • 2º LUGAR

G.R.E.S.E.P. De Mangueira

Samba-enredo: Maria Bethânia, A Menina Dos Olhos De Oyá

Eparrei, bela Oyá. Que samba singular foi esse. Lembro bem que no fim do ano passado, conversando com um amigo meu que acompanha carnaval faz uns dez anos, colocamos o samba da Estação Primeira em discussão, e não deu outra, chegamos ao consenso de que seria esse o mais belo e bem produzido samba do ano, mas alto lá, tínhamos esquecido do que vem por ai em primeiro lugar, tínhamos deixado passar um detalhe pequeno até demais que separa a Mangueira de sua co-irmã escolhida por nós como a dona do melhor samba de 2016. No samba da Mangueira nada falta, é completo em tudo, tem um arranjo incrível, consegue relacionar músicas da homenageada, que é ninguém mais, ninguém menos que a mais aclamada cantora da música brasileira. Dona Maria Bethânia, com seus cinquenta anos de carreira recebeu, assim como nós, uma imensa canção para apreciar. Bravo, Mangueira, como nós antigos e gloriosos carnavais, lado a lado com sua concorrente histórica.

  • 1º LUGAR

G.R.E.S. Portela

Samba-enredo: No Vôo Da Águia, Uma Viagem Sem Fim

Cá estamos, novamente, com a dona do melhor samba do ano, NOVAMENTE. Ano passado coroamos a azul e branco de Madureira com o primeiro lugar e sim, o raio de Oyá cai duas vezes no mesmo lugar. A Portela consegue lançar mais um samba DIGNO DE PORTELA. Quem não conhece o acervo de composições incríveis dos senhores e senhoras de Madureira? Quem não recorda da história imensa da escola neste e em muitos outros sentidos? Pois bem, se não lembra, faz mal não, pois está acontecendo novamente, graças a meu bom Deus, a Portela ocupa seu lugar de direito é reafirma seu posto de Majestade, dona do Carnaval, digna de mil elogios por um samba que retrata a história do homem em busca do homem. É um samba para ouvir, e ouvir, e ouvir mais uma vez e não cansar, sambar, ouvir e por fim, adotar tal como hino. E até para aqueles não portelenses, o grito de “Eu sou a águia” ecoa, vai lá no fundo e desperta aquela vontade de ser azul e branco, de poder falar “Fale de mim quem quiser”, de ter o melhor samba do carnaval.

Livros

“Harry Potter and the Cursed Child” será publicado como livro

Sim, agora está mais que confirmado. O Pottermore divulgou há alguns minutos que o roteiro da peça “Harry Potter and the Cursed Child” será publicado como livro, logo após a estreia da mesma em Londres. Teremos o livro em mãos a partir do dia 31 de Julho. Preparem os bolsos e o coração, pois vem o mais uma história do menino-que-sobreviveu por ai.

O site também garantiu que diversas novidades serão divulgadas em 2016 sobre o universo bruxo. Nos resta aguardar e comemorar essa grande notícia.

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Fonte: https://www.pottermore.com/news/ww-publishing-cursed-child-script-book-announcement

Filmes

Crítica: Joy (2015)

Mimi é uma senhora esperançosa, que sempre procura observar o lado bom da coisa. O lado bom da vida (Você se lembra bem desse filme, não é JLaw?). Mimi é a narradora da fantástica e imprevisível vida de Joy, uma dona de casa que faz de mil e uma coisas para deixar seu lar na perfeita harmonia, mesmo que ele nunca tenha ouvido falar essa palavra. Harmonia. Joy mora com seus dois filhos, a mãe que não larga o controle remoto e nem levanta da cama, com o ex-marido que habita seu porão, o pai que volta e meia está por ali e sua avó, a nossa amada e primeira conhecida, Mimi. A história de Joy é confusa, para nós e para a própria. O filme é inspirado na história real de Joy Mangano, e por ser um longa biográfico aceitamos algumas técnicas que em um filme de outro gênero não conseguiríamos nem ver. Comumente apontamos os acertos da trama nas críticas por aqui, comumente. Mas hoje começaremos pelos erros, pelos graves erros de “Joy”, indicado pela academia em apenas uma categoria, essa fora a de melhor atriz, pois não deveria ter ganho nem esta indicação, mas acredito que a Academia observou a tentativa de Jennifer Lawrence de trazer uma boa personagem para as telas, a massante tentativa de encorporar alguém resiliente quando a própria fora muito resiliente para fazer esse papel. Imagino Lawrence nos bastidores, pensando, pensando… como isso é ruim.

Comecemos por nosso amigo, David O. Rusell. O diretor tentou repetir a dose de “O lado bom da vida”, chamou De Niro, Lawrence, Cooper, todos aqueles com quem vem trabalhando habitualmente em diversos filmes, Rusell sabia que poderia produzir um belo filme com esse elenco, com essa história, infelizmente correu em direção ao pote com muita sede. Nem se convocasse um batalhão de medalhões e revelações do cinema mundial ele conseguiria transformar “Joy” em um novo “O Lado bom da Vida”, mesmo que esse segundo não tenha sido grande coisa, mas para a Academia fora. Oito indicações não é para todos. Para “Joy” uma já é de grande valor. Rusell só não peca, como foi mostrado no início, na escolha de elenco, ao menos supervisionou bem esta parte junto à Mary Vernieu , mas em todo o processo do longa você simplesmente se perde no labirinto criado pelo diretor, labirinto esse que nem ele teve consciência de ter fabricado.

O enredo de “Joy” falha bruscamente em várias cenas, vou dar um exemplo. Existe um momento, em que Joy e sua amiga, Jackie (Dascha Polanco) estão conversando, e bem ai, no meio da conversa o diálogo congela, não propositalmente, mas porque ali, bem no roteiro que foi revisado milhões de vezes, tenho certeza, houve um intervalo longo sem falas, um intervalo que prejudica o desenrolar da história e deixa a coisa toda artificial demais. O rosto de Lawrence muda totalemente, e nem falemos de Polanco, você não acredita primeiramente. Volta a cena, duas, três vezes, enfim cai em si que não é técnica ou expressão adicional das atrizes, mas sim um tremendo buraco no roteiro que deveria nos emocionar, deixar explícito o desespero da personagem. Falho até demais. Quando pensamos que o filme vai engrenar, lá pelos setenta minutos, ele nos decepciona. É uma cena que tem tudo para dar certo, Joy está se mostrando para o mundo por meio da televisão, ela e seu produto, você deve pensar: AGORA VAI. Não, não vai. Aquele era o momento de superação da personagem, ela iria vender enfim sua maior invenção até aquele dia, iria por fim deslanchar, mas a própria JLaw, com seu rostinho bonito e todo crédito que o cinema mundial lhe oferece, não consegue efetuar isso. Não a culpo por tudo, longe disso, falaremos mais a frente como a atriz carregou o filme nas costas, por hora continuemos no roteiro, que em todo caso é o maior culpado aqui. Nesta cena vemos o sangue nos olhos de Joy, sentimos que está se aproximando aquele ápice que tanto aguardamos, aquela cena que pode salvar o filme inteiro. Se fui tolo? Ah, foi por horas. Não vem, não aparece, Joy fala mais do mesmo e fim, acaba ali toda a emoção contida para o clímax da produção, acaba ou não? Bem, segura essa informação, todas essas na verdade, sobre o roteiro trágico e vamos para o próximo quesito.

A bela fotografia, obrigado senhor, odoyá Iemanjá, um ponto que comentarei feliz e sorridente como criança que vê Harry Potter pela primeira vez. Que incrível fora a fotografia de Joy, e junto à ela a mixagem de som, tudo isso ficou bem encaixado. Sobre a fotografia guardo na mente dois momentos incríveis, um desses é a cena final, a que aparece no poster divulgado para divulgação, imagem essa em que Joy está olhando para cima, não sabemos para onde até assistir o longa. Belíssima cena (UMA LUZ NO ROTEIRO) e mais um acerto da fotografia. Em todos os indicados do Oscar vemos lindas produções na fotografia, Mad Max, Sicario e O Regresso nem se falam, mas se observamos a sutileza de Carol, Joy, Brooklyn e A Garota Dinamarquesa ficamos surpresos, por tanta delicadeza e sentimentalismo nas tomadas e ângulos usados.

Sobre JLaw, exclusivamente neste filme, prometo que não citarei nenhum outro (novamente). É uma atuação esforçada, uma constante de tentativas que fazem da atriz uma heroína, sem exagero algum, nesta produção. Lawrence consegue se destacar mesmo o longa tendo diversos problemas, ela carrega, como falei, o filme nas costas. Todo o tom cômico e sarcástico que tentaram empregar na obra, não funciona bem, mas Lawrence arruma um jeito de consertar isso, colocar o trem nos trilhos, que pena que ele não chega na última estação inteiro. Os vagões de “Joy” vão se perdendo estrada a fora, cai roteiro de um lado, atores coadjuvantes do outro, enredo no meio do caminho, direção, bem, nem chegou a embarcar.

Um filme biográfico geralmente nos trás mensagens claras, ou de superação ou de avisos alarmantes, sempre foi assim e sempre vai ser. “A Teoria de Tudo” ano passado foi claro quanto a isso, o mesmo com “O Jogo da Imitação”, “Selma” foi uma explosão de bom filme desta categoria, agora “Joy” não atinge o que tanto esperamos, atrai o fã do cinema, o leva a se preparar totalmente para um bom filme, mas decepciona. No meio desta crítica falei que vocês deveriam guardar uma informação, ou melhor, uma pergunta: Acaba a emoção ali? Quase na segunda metade do filme? Não, a pouca emoção ainda ressurge no fim da obra. Por incrível de pareça, “Joy” começa a ficar bom no final,  inicia sua largada na última curva da corrida e nos deixa palpitando e com raiva por só ter melhorado ali. É um filme que não deveria se fazer presente na lista dos indicados pela Academia, mas como está, o que temos para hoje é assistir e conseguir sair vivo após a exibição do longa, vivo e sem traumas.

Autorais

Crônica: A voz de Janaína

Um moço, muito amigo de um amigo meu, sempre contara que em seu tempo de pescador, ouvira, lá no mais escuro lugar do oceano, a voz de uma moça. “Se nem gaivota passava por riba de minha cabeça, aquilo só podia vir debaixo, lá do fundo, bem dentro do mar”, dizia o homem com medo e orgulho nos olhos. Orgulho por ter saído vivo de lá, medo por nunca ter voltado, ah, pensava muito em voltar o rapaz, mas junto a tantas declarações também dizia: “Quem me dera chegar lá de novo, mas não sei, José, não sei que lugar era aquele. Só lembro da voz de mulher, sabia mesmo que pela voz ela tinha pele escura, de carvão, sabia sim”. Esse homem morreu há alguns dias e fui ao seu enterro, junto ao amigo meu, centenas de pessoas, ele era popular, um nome conhecido na cidade. Todos ofereciam bom dia ao homem nas manhãs em que levantava teso ao sol para ir comprar pão, leite e cigarro. Tudo que poderia comprar na noite anterior, mas pela manhã é diferente, é a manhã. Nessas idas à mercearia, padaria e outros lugares, trombava com o ma chocando-se ao calçadão. Olhava para aquele amontoado de água e se perdia nos pensamentos. Sei de tudo isso por conta de meu amigo, que como disse, era muito amigo do falecido.

Hoje ele lamenta, em seu limitado caixão, em sua pouca morte, os tempos que não aproveitara, mas ainda diz, entre aqueles lábios frios e transformados em carniça por conta da doença que o levara, ainda fala com seu silêncio sobre a voz que ouvira. Fico surpreso como tudo isso me cerca em meio à tanta gente, olho para o morto, ele me olha com seus algodões e flores. As pessoas vão chegando e lotando o lugar, já não bastava o odor saindo do corpo, já não bastava essa morte inutilizada, enorme preguiça tenho para velórios, preguiça que chega a atingir ânsias de tão enfadonho que é essa coisa. Mais pessoas. Gente imprensando gente. A curiosidade só não mata ninguém hoje porque o cigarro já tomara conta do primeiro. Um senhor senta ao meu lado, ele e uma mulher. O homem do lado direito, a mulher ao meu lado esquerdo. Ela chega e já me pergunta o que está acontecendo. Como assim?

“Como assim o que está acontecendo?” Mas que mer…

“Ele morreu?” Continua com suas perguntas

“Não, não, está deitado, observando o teto. E essas pessoas aqui também vieram para admirar o teto, bonito não?”

Ela ergue a cabeça para encarar o teto. Ela está encarando o teto, meu santo deus. E nessa de ficar observando teto e mulher, acabo por ficar preso na segunda. Seus olhos são negros, assim como sua pele, escura como a minha. Olho bem no desenho de seu pescoço, pintura perfeita. Seu rosto se admira com cada pedaço do teto, enfim, quando ela realmente sentiu que o tempo me foi dado, voltou a tona:

“O que está acontecendo?” Me pergunta novamente com uma gentileza que poucas possuem. Gentileza de mãe.

Olho para o teto e sei bem o que está acontecendo, mas não preciso responder. Levanto-me, dou uma última olhada no caixão e saio da casa esgueirando-me entre as pessoas. A mulher vem logo atrás. Ando, e ando, faço todo o percurso que o falecido fazia, passo pela padaria, mercearia e enfim me dou admirando o mar. As palmeiras entrecortando a imagem perfeita idealizada por uma artista imenso, maior que todos os outros. A água vai e vem como um prelúdio, a água carrega todas minhas mágoas e medos, não posso ficar apenas observando, vou ao seu encontro. O primeiro pé, o primeiro toque e sinto a necessidade de me ajoelhar. Peço licença para adentrar em templo tão grandioso e vou, navego entre a água gelada que em instantes fica morna e reconfortante. Sinto-me em casa.

Bem atrás de mim, a mulher, seu vestido azul não é atingido pela água, seu semblante inerente a qualquer diversidade. Ela olha para mim, olho para ela e me perco no tempo e espaço, quando percebo estou no mais afastado lugar do mar, no fundo e vazio mar. A mão da mulher comanda meu destino dentro daquela vastidão de mar e confirmo, por fim, que estou mais vivo que nunca. Estou de volta ao lugar que sempre sonhei, lugar meu para ela, dela para seus filhos. Inaê se despede dançando entre as ondas, desponta para o fundo do mar, provocando alvoroço nos quatro cantos, luz que brilha nas noites sombrias, dona de meu barco, voz que canta a mais bela canção, Senhora das águas, senhora de mim.

Me sumo, entre ciranda e areia. Volto para meu lugar de rebento, não, eu não sou daqui. Eu sou de lá.