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Emanuel Antunes

Atualizações

Oscar 2016: Em quem apostamos

Faltando poucas horas para a maior cerimônia do cinema mundial, abaixo você confere em quem apostamos de acordo com todo o Especial Oscar que durou um mês e meio. Tivemos críticas, colunas e detalhes de cada filme sendo expostos aqui, para ler enquanto dá tempo, é só procurar aqui no Beco colocando na lacuna de busca o título do longa. Enfim, em negrito estão os escolhidos por nossa equipe para receber a premiação, saiba quais são:

MELHOR FILME

“A grande aposta”

“Ponte dos espiões”

“Brooklyn”

“Mad Max: Estrada da fúria”

“Perdido em Marte”

“O regresso”

“O quarto de Jack”

“Spotlight: Segredos revelados”

 

MELHOR DIRETOR

“A grande aposta”, Adam McKay

“Mad Max: Estrada da Fúria”, George Miller

“O regresso” Alejandro G. Iñárritu

“O quarto de Jack” Lenny Abrahamson

“Spotlight” Tom McCarthy

 

MELHOR ATOR

Bryan Cranston, “Trumbo”

Matt Damon, “Perdido em Marte”

Leonardo DiCaprio, “O regresso”

Michael Fassbender, “Steve Jobs”

Eddie Redmayne, “A garota dinamarquesa”

 

MELHOR ATRIZ

Cate Blanchet, “Carol”

Brie Larson, “O quarto de Jack”

Jennifer Lawrence, “Joy”

Chartlotte Rampling, “45 anos”

Saoirse Ronan, “Brooklyn”

 

MELHOR ATOR COADJUVANTE

Christian Bale, “A grande aposta”

Tom Hardy, “O regresso”

Mark Ruffalo, “Spotlight”

Mark Rylance, “Ponte dos espiões”

Sylvester Stallone, “Creed”

 

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE

Jennifer Jason Leigh, “Os oito odiados”

Rooney Mara, “Carol”

Rachel McAddams, “Spotlight: Segredos revelados”

Alicia Vikander, “A garota dinamarquesa”

Kate Winslet, “Steve Jobs”

 

MELHOR FILME  ESTRANGEIRO

“O abraço da serpente” (Colômbia”

Cinco graças” (França)

“O filho de Saul” (Hungria)

“Theeb” (Jordânia)

“A war” (Dinamarca”

 

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL

“Ponte dos espiões”, Matt Charman, Ethan Coen e Joel Coen

“Ex Machina”, Alex Garland

“Divertida mente”, Pete Docter, Meg LeFauve, Josh Cooley; História original de Pete Docter, Ronnie del Carmen

“Spotlight”, Josh Singer e Tom McCarthy

“Straight Outta Compton”, Jonathan Herman and Andrea Berloff; História original de S. Leigh Savidge & Alan Wenkus e Andrea Berloff

 

MELHOR ROTEIRO ADAPTADO

“A grande aposta”, Charles Randolph and Adam McKay

“Brooklyn”, Nick Hornby

“Carol”, Phyllis Nagy

“Perdido em Marte”, Drew Goddard

“O quarto de Jack”, Emma Donoghue|

 

MELHOR ANIMAÇÃO 

“Anomalisa”, Charlie Kaufman, Duke Johnson and Rosa Tran

“O menino e o mundo”, Alê Abreu

“Divertida mente”, Pete Docter and Jonas Rivera

“Shaun the Sheep Movie”, Mark Burton and Richard Starzak

“When Marnie Was There”, Hiromasa Yonebayashi and Yoshiaki Nishimura

 

MELHOR DOCUMENTÁRIO EM LONGA METRAGEM

“Amy”, Asif Kapadia e James Gay-Rees

“Cartel Land”, Matthew Heineman e Tom Yellin

“The Look of Silence”, Joshua Oppenheimer e Signe Byrge Sørensen

“What Happened, Miss Simone?”, Liz Garbus, Amy Hobby e Justin Wilkes

“Winter on Fire: Ukraine’s Fight for Freedom”, Evgeny Afineevsky e Den Tolmor

 

MELHOR DOCUMENTÁRIO EM CURTA-METRAGEM

“Body Team 12”, David Darg e Bryn Mooser

“Chau, beyond the Lines”, Courtney Marsh e Jerry Franck

“Claude Lanzmann: Spectres of the Shoah”, Adam Benzine

“A Girl in the River: The Price of Forgiveness”, Sharmeen Obaid-Chinoy

“Last Day of Freedom”, Dee Hibbert-Jones and Nomi Talisman

 

MELHOR FOTOGRAFIA

“Carol”, Ed Lachman

“Os oito odiados”, Robert Richardson

“Mad Max: Estrada da Fúria”, John Seale

“O regresso”, Emmanuel Lubezki

“Sicario”, Roger Deakins

 

MELHOR EDIÇÃO

“A grande aposta”, Hank Corwin

“Mad Max: Estrada da Fúria”, Margaret Sixel

“O regresso” Stephen Mirrione

“Spotlight” Tom McArdle

“Star Wars: O despertar da Força”, Maryann Brandon e Mary Jo Markey

 

MELHOR TRILHA SONORA ORIGINAL

“Ponte dos espiões”, Thomas Newman

“Carol” Carter Burwell

“Os oito odiados”, Ennio Morricone

“Sicario” Jóhann Jóhannsson

“Star Wars: O despertar da Força”, John Williams

 

MELHOR CANÇÃO ORIGINAL

“Earned It”, de “Cinquenta tons de cinza”, música e letra por Abel Tesfaye, Ahmad Balshe, Jason Daheala Quenneville e Stephan Moccio

“Manta Ray”, de “Racing Extinction”, música por J. Ralph e letra de Antony Hegarty

“Simple Song #3”, de “Youth”, música e letra por David Lang

“Til It Happens To You”, de “The Hunting Ground”, música e letra por Diane Warren e Lady Gaga

“Writing’s On The Wall”, de “Spectre”, música e letra por Jimmy Napes e Sam Smith

 

MELHOR EFEITOS VISUAIS

“Ex-Machina”

“Mad Max: Estrada da Fúria”

“Perdido em Marte”

“O regresso”

“Star Wars: O despertar da Força”

 

MELHOR EDIÇÃO DE SOM

“Mad Max: Estrada da Fúria”, Mark Mangini e David White

“Perdido em Marte”, Oliver Tarney

“O regresso”, Martin Hernandez e Lon Bender

“Sicario”, Alan Robert Murray

“Star Wars: O despertar da Força”, Matthew Wood e David Acord

 

MELHOR MIXAGEM DE SOM

“Ponte de espiões”, Andy Nelson, Gary Rydstrom e Drew Kunin

“Mad Max: Estrada da Fúria”, Chris Jenkins, Gregg Rudloff e Ben Osmo

“Perdido em Marte”, Paul Massey, Mark Taylor e Mac Ruth

“O regresso” Jon Taylor, Frank A. Montaño, Randy Thom e Chris Duesterdiek

“Star Wars: O despertar da Força”, Andy Nelson, Christopher Scarabosio e Stuart Wilson

 

MELHOR CURTA-METRAGEM

“Ave Maria”, Basil Khalil e Eric Dupont

“Day One”, Henry Hughes

“Everything Will Be Okay (Alles Wird Gut)”, Patrick Vollrath

“Shok”, Jamie Donoughue

“Stutterer”, Benjamin Cleary e Serena Armitage

 

MELHOR CURTA-METRAGEM DE ANIMAÇÃO

“Bear Story”, Gabriel Osorio e Pato Escala

“Prologue”, Richard Williams e Imogen Sutton

“Sanjay’s Super Team”, Sanjay Patel e Nicole Grindle

“We Can’t Live without Cosmos”, Konstantin Bronzit

“World of Tomorrow”, Don Hertzfeldt

 

MELHOR FIGURINO

“Carol”, Sandy Powell

“Cinderella”, Sandy Powell

“A garota dinamarquesa”, Paco Delgado

“Mad Max: Estrada da Fúria”, Jenny Beavan

“O regresso”, Jacqueline West

 

MELHOR DESIGN DE PRODUÇÃO

“Ponte dos espiões”

“A garota dinamarquesa”

“Mad Max: Estrada da Fúria”

“Perdido em Marte”

“O regresso”

 

MELHOR MAQUIAGEM E CABELO

“Mad Max: Estrada da Fúria” Lesley Vanderwalt, Elka Wardega e Damian Martin

“The 100-Year-Old Man Who Climbed out the Window and Disappeared” Love Larson e Eva von Bahr

“O regresso” Siân Grigg, Duncan Jarman e Robert Pandini

Resenhas

Resenha: A Instrução da Noite, Maurício de Almeida

É raro conseguir ler literatura brasileira no Brasil, principalmente a atual literatura. É difícil encontrar Brasil nos livros lançados nos últimos anos. Resultado de toda uma transformação do mercado literário, isso é óbvio, mas na contra-mão vem outro movimento, um vestígio de mudança, mostrando que ainda se escreve sim a literatura que de tanto sonharmos tornou-se utopia, é de uma coragem fora do normal a adotada por Maurício de Almeida em “A Instrução da Noite”. O leitor corre o risco de ser atingido a cada frase bem calculada, de se perder em tamanho labirinto lógico criado pelo autor, tudo isso para ao chegarmos no fim da obra nos sentirmos os mais enérgicos e culpados seres humanos. Existe uma troca intensa de esforços, entre o leitor e a história e isso é água no deserto que estabeleceu-se em nosso cenário.

“… na sua boca cabe um inferno inteiro.” – página 104

O livro retrata a volta de um pai e como a família reage frente ao acontecimento. Temos como guia a visão do filho, aquele que ficou com toda a carga da família como sua responsabilidade, que tomou conta da mãe e da irmã, Teresa, a qual este dita cada erro e acerto que transpassa em sua mente. Teresa se fora e assim um novo vazio criou-se no íntimo do homem, duas partidas, a da irmã e de seu pai, que fazem do personagem uma pintura meticulosamente planejada, que o coloca na posição de qualquer leitor, que o transforma em narrador e espectador, fazendo de nós, desavisados, vítimas dessa história que utiliza uma poesia impecável. Se perde o ar entre as páginas de “A Instrução da Noite”. O álcool e a nicotina são essenciais para o desenvolvimento da trama, estão lá, presentes como oxigênio e hidrogênio, causando as mais variadas reações. Os acontecimentos seguem uma linha não convencional, somos jogados para um lado, para outro e estamos felizes com isso, ficamos encantados com a forma com que o autor se apropria do tempo e espaço e nos deixa próximos até demais do personagem, nos colocando naquela situação e nos fazendo em alguns momentos julgar, em outros apenas ouvir e obedecer. O livro sacode o ingênuo leitor e o transforma em sentinela constante, dos atos e dos homens, é mar bravio entre barcos desnorteados e isso torna a obra algo breve mas impactante, pequena mas de uma imensidão literária que nos espanta, já que acostumados com a escrita padronizada, vemos tal regresso autoral e nos espantamos.

“… e aquele baque que deveria ser rápido e seco reverberou num longo impacto que denunciou o insensato de minhas expectativas e explicou ser assim que as coisas se resolvem: caindo.” – página 27

É um livro que vai até o mais profundo pensamento humano e revela o que nele existe, que não tem medo de se apossar de temas desconcertantes muito menos de invadir o inabitável do ser, é belo e massacrante e o modo como isso é posto por Maurício de Almeida transforma a história em um marco. A obra é dividida em três partes: Alcoólica, Baldio e Noturno. Entre essas vemos o talento do autor ao colocar tanto significado nos espaços, no que sobra para alguns, para a escrita de Almeida é lacuna necessária para se preencher. Nós sabemos que o livro é de uma singularidade sem tamanho ao notarmos, quase no meio deste, que entre um “tudo bem?” e um “sim, pai.” existem oceanos a serem explorados, e isso é feito com uma maestria dificilmente vista. O comando principal da obra consegue nos transportar para lugares nunca vistos, incrível e poética é a história retratada.

“… o fato de que fui vítima de uma esperança risível: acreditar que estava prestes a algo que jamais terei.” – página 23

A caracterização dos personagens ocorre de forma gradual, não encontramos aquela feição pré-estabelecida, jogada para o autor abarcar e só, nada disso, vemos personagens flutuando frente a visão do ledor e nós conseguimos captar a medida em que o livro transcorre características, vícios e desejos. Uma redoma se cria no enredo de “A Instrução da Noite”, cobertura de realidade e receio, de medo e bravura, de um misto de sentimentos que acaba por deixar o leitor embriagado, por tanta verdade exposta em um só lugar.

“… o tempo é hiperbólico no abandono.” – página 24

Os anseios humanos desfilam e castigam os personagens, os temores e tais vontades são combustíveis necessários para termos tamanha narrativa. Reafirmo, Maurício de Almeida nos presente-a com o novo calcado no passado, a forma de se fazer literatura inspirada nas Clarices e Buarques marca-ponto na forma como o livro foi estruturado e isso agrada qualquer admirador da arte crua e verdeira, sem os modismos impostos pela indústria ou seu modelo pré-fabricado, é uma obra isenta de medos, mesmo os tratando, não apresenta falhas evidentes, ao mesmo tempo que invado o íntimo do homem e o estraçalha. Impecável e brilhante, uma teia de histórias que ao se unirem transformam o livro em algo inesquecível.

 

MONTGOMERY, AL – MARCH 25: Dr. Martin Luther King, Jr. speaking before crowd of 25,000 Selma To Montgomery, Alabama civil rights marchers, in front of Montgomery, Alabama state capital building. On March 25, 1965 in Montgomery, Alabama. (Photo by Stephen F. Somerstein/Getty Images)
Atualizações, Colunas

The Epic Battle: Diz que fui por aí (Deixa girar)

Então não pude seguir,

valente em lugar tenente
E dono de gado e gente,

porque gado a gente marca
Tange, ferra, engorda e mata,

mas com gente é diferente

DISPARADA –  Geraldo Vandré e Théo de Barros

Vou lhe contar o que está ocorrendo com esta “sociedade cheia de mimimi”. Até algum tempo, sim, não percebíamos, mas ocorrera, há alguns meses tudo parecia normal. Ser revolto era de uma normalidade que espantava, era só mais um no meio de tantos, mas hoje as coisas mudaram, não foi? Pararam de te chamar de comunistazinho, de “gente de esquerda”, esses são apelidos extintos, hoje a coisa vai além. Chegou o dia em que ser mais que desprezado é eufemismo, hoje gente que defende bicha, negro, traveco, mãe solteira, prostituta, macumbeiro, gente como nós, bem, é apedrejada ainda com mais força porque virou a era do “não se pode fazer uma piada que mil cairão a tua esquerda”. Ao inferno seus acostumados com não retaliação, que queimem todos esses que passaram anos praticando todas as barbaridades possíveis e impossíveis sem ter alguém para dizer: Ei, boy, tá errado. Não chegamos na época do mimimi, muito menos na da falta de humor, claro que não, perceba, agora mesmo estou rindo desses que se dizem defensores da democracia enquanto desejam estabelecer uma vontade própria para todo um país, estou gargalhando daqueles que chamam candomblé de seita e não aceitam ocupar o mesmo espaço de um negro. Morro de rir e de ira, e minha raiva e minha felicidade se transformam em palavras e tome cuidado seu mísero autoritário, dono da verdade, tome bastante cuidado pois minhas palavras, a voz de meu povo, o clamor que surge entre os milhões de oprimidos, bem, ele é maior que a discórdia que você deseja causar. Já dizia a música: “Avante, xavante, cante”, e cantamos a mais bela música. Música de quem vai para guerra e sabe que não se aceita derrota.

 “O proletariado atravessa diversos estágios em seu desenvolvimento. Sua luta contra a burguesia começa com sua própria existência.” – Manifesto do Partido Comunista, Karl Marx e Friedrich Engles, página 118.

Senhoras divulgando suas histórias, vi nesta madrugada em um dos filmes que estava em minha lista de “Preciso ver antes de morrer para ter opinião sobre”. Histórias Cruzadas é o título do longa, premiado em diversos festivais há alguns anos e com um elenco incrível. Provedor desta coluna (a última desse autor por essas terras) e inspirador para outros momentos. Fiquei atônito com algumas situações, pois já presenciei diversas daquelas (Não em outras vidas, não sei, vai saber…), mas nesta inútil existência e não me orgulho em nada. Presenciei e fiquei calado, não sei se por conta da idade (sete, oito na época) ou porque nasci para ser silenciado, mas lembro-me bem, vi senhoras de cor preta, com voz negra e orgulho contido, sendo humilhadas por puro luxo e prazer de suas patroas. Em pleno século XXI a história de Mississippi (Goddam) se repete e o tema é recorrente no cinema, tendo representando maior o longa “Que horas ela volta?” em território nosso. Obra incrível com Mardila e Casé, o filme é um aviso urgente aos brasileiros e para os de fora apenas mais um filme de comédia extravagante. Interessante não é, o tal ponto de vista? Como as coisas podem mudar de acordo com localidade, língua, ou cor. Hoje o seu ponto de vista é negro, pobre e escanteado. Hoje você é o X, e não, não morrerá por hora. Por hora.

“Se os tubarões fossem homens… Eles seriam ensinados de que o ato mais grandioso e mais belo é o sacrifício alegre de um peixinho, e que todos eles deveriam acreditar nos tubarões, sobretudo quando esses dizem que velam pelo belo futuro dos peixinhos…” – Se os tubarões fossem Homens, Bertold Brecht.

Será fragmentado todo esse texto, tendo como valiosos faróis dizeres de mestres, ícones, senhores do conhecimento, homens e mulheres que garantiram sua parcela de bandeira na lua de nós todos, é necessário, por ser o encerramento de uma ciclo, ter tantos em um só lugar. Ainda sobre nossa condição, cá estamos em nosso bairro pobre, que tem como ponto de encontro uma igreja sem luxos e uma praça marcada por sangue de jovens assassinados em brigas de gangues. Isso não tem nada de cenário hollywoodiano, é imagem que se repete nas periferias de todo o país. Hoje é o grande dia, você sairá de sua casa com toda a ansiedade do mundo, suas inseguranças palpitando, sendo expostas ao mundo por conta de uma cor, elemento que lhe persegue desde o primeiro grito dado. Sua primeira entrevista de emprego, que chega a ser o ápice do estresse em qualquer adolescente ou adulto quando se apresenta como primeira experiência, independente de cor ou moradia, mas existem divisões, não existem? Claro que sim, é óbvio que entre um negro e um branco o dirigente de tal empresa, em sua grande maioria, vai optar por contratar aquele branco de “boa feição, de boa família, de boa persona”. Um muro mental corta seu cérebro, divide as pessoas. Se você vê um negro vindo em sua direção a noite, já começa a imaginar mil e uma coisas, se um garoto negro vai atravessar a rua bem em frente ao seu carro (que está parado na faixa) você já pensa que ele vai pedir esmola. Vamos fazer um jogo, coisa rápida. Eu falo uma profissão e você imagina o perfil do profissional, okay? Okay. É só imaginar de uma vez, sem pensar muito, começando: Um engenheiro. Um CEO de multinacional. Um escritor. Um jornalista. Um designer. Okay, pensou em todos? Quais eram negros? Precisa nem responder nos comentários pois eu sei que se você for sincero vai confirmar tudo falado até agora, infelizmente. É algo que está impregnado em qualquer um, negro, branco ou índio.

E existe um povo que a bandeira empresta
P’ra cobrir tanta infâmia e covardia!…
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!…
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?!…

Navio Negreiro – Castro Alves

 Por isso meu amigo: cota sim. Cota sim porque não se trata apenas de questão histórica, sim, é por conta desta que estamos assim hoje, com alerta para negro, para pobre, para gente diferente, mas só existe essa história engraçada de cota porque vocês que tanto ousam reclamar, tanto defendem a “não existência de um preconceito”, são os mesmos que negam educação a uma criança por ter determinada cor, que se recusam a empregar um homem ou uma mulher por não estarem tão bem vestidos. São vocês, percussores de preconceitos que são obrigados a aturar cotas, pois até que essa sociedade ofereça uma educação igualitária, elas existirão. Mas quero enviar uma mensagem direta não para preconceituosos ou racistas, quero falar com você, que aguenta toda essa pressão diariamente, que olha nos olhos do ofensor e sorri, que oferece educação e recebe maldade, é com você que desejo conversar. A cada ofensa, devolva com orgulho e luta, encorpore o sangue daqueles que morreram por serem iguais a você, aproveite os momentos preciosos de sua vida para fazer a mudança, para não ouvir e ficar calado, mas sim receber o que é seu por direito. Não existe ira maior do que a do oprimido, e que ela exista, que exploda, que leve consigo os preceitos, que mostre quem somos e para que viemos. Vai ter escritor negro e pobre, vai ter ator com cara de escravo, vai ter dono de empresa da cor de carvão, vai ter presidente escurinho, vai ter gente com dread sim. Se vai ter neguinho batendo tambor, louvando à Oxum e Iansã? Ah, meu bem, em todo lugar vai ter. Se negro vai entrar na igreja para rezar para Nossa Senhora e beijar os pés do menino Jesus? Vai sim. Vai ter negro de toda religiosidade, ou negro com religiosidade nenhuma. O que vai ter mesmo é negro participando de todos os lugares, exigindo seu espaço, mostrando que é dono de seu corpo e espírito. E no fim disso tudo, se alguém perguntar por mim, bem, “diz que fui por ai”.

Aqui jaz.

Atualizações, Críticas de Cinema, Filmes

Crítica: 45 years (2015)

Teu passado não te condena, não mesmo. Teu passado só vai perturbar todo um futuro incerto, vai ser constante de temores, uma corda-bamba entre os dias nauseantes. Essa é a principal mensagem de 45 years. Uma lição obscura que nem todos gostariam de receber.

O filme gira em torno de um casal que em alguns dias estaria por completar 45 anos de casamento. Kate e Geoff vivem suas vidas na normalidade cabível para o interior do Reino Unido, a mulher todas as manhãs caminha com seu cachorro, o marido cria entretenimentos entre os cômodos da casa e assim os dias se passam, até chegarmos à última semana para grande comemoração. Kate começa os preparativos para a festa de seu quase meio século de casada. Contrata gente pra isso, para aquilo, e por ai vai. Todo o clima de uma pré-festa é criado até que um carta acaba por invadir a residência dos Mercer. Em um alemão culto a mensagem da carta é a seguinte: Encontramos ela.

Nesse momento tanto Kate quanto Geoff se mostram atônitos. “Ela” seria o primeiro amor de Geoff, seu principio de paixão que morrera em uma escalada nos alpes suíços. Segundo o documento o corpo da ex-namorada de Geoff está intacto, congelado no alto de uma montanha. A partir daí a vida do casal não é a mesma. Os cinco dias que o filme faz questão de contar massantemente são cheios de desconfiança, traumas e diálogos que chegam ao ápice do arrependimento. Primeiro que Geoff não contara tudo à sua mulher sobre seu relacionamento com a sumida e morta amiga, o homem deixara permear várias camadas de verdades não postas a mesa e a medida em que estas camadas são jogadas fora Kate se transforma. Da mulher simpática que caminhava com o cachorro, Kate torna-se a ciumenta e insegura esposa e Geoff, com o que resta de sua paciência e consciência, apenas prossegue com a sua narrativa da história.

O filme de certa forma fora criado para Charlotte Rampling, que interpreta Kate Mercer. Grande parte do longa é um monologo silencioso da personagem. Suas caminhadas matinais, suas saídas para encarar rios e árvores não incomodam o espectador, ao contrário, só o deixa mais íntimo da situação. As expressões de Charlotte são um banquete para o admirador da interpretação. Cada detalha colocado pela atriz nas telas é de uma preciosidade gigantesca, mas não faz de Charlotte a melhor entre as atrizes indicadas ao Oscar. Tivemos grandes interpretações esse ano sendo indicadas pela Academia, tanto com papeis principais quanto coadjuvantes, e Rampling fora uma dessas, mas creio que não consiga tirar a estatueta de Brie Larson (Room), mesmo se sobrepondo à Saoirse Ronan (que deu o seu melhor em Brooklyn, mas não fora isso tudo) e JLaw (Joy). Se fossemos criar um ranking (já criando), Charlotte Rampling estaria empatada com Cate Blanchett, ambas teimando por um pedaço da estatueta, mas no fim de tudo não vejo motivos para o prêmio não ser entregue à Larson, que transformou Room em uma experiência ainda mais trágica e angustiante.

Uma das cenas em que vemos Charlotte Rampling em sua melhor forma é quando a personagem vai até o sótão procurar algumas partituras. Depois de encontrar uma de Bach, vemos Kate se debruçar no piano e retirar uma das melhores sinfonias do compositor alemão. É belo observar todos os sentimentos presentes no filme envolvidos em uma única situação, com apenas uma personagem guiando-os. Magistral a interpretação de Rampling. Encantadora como a junção de notas de Bach com o enredo simples e desafiador do filme. O mesmo podemos falar de Tom Courtenay como Geoff, dono de uma carreira gigantesca (assim como sua parceira), Courtenay nos conduz para situações inusitadas com seu personagem, é o modo cru de se interpretar que faz da atuação uma vitrine para iniciantes. Depositando mágoas e desejos, Courtenay intercala os momentos de seu personagem com uma dignidade que aquele senhor exige. O que vemos em 45 years são dois titãs do cinema britânico reforçando suas posições, colocando à exposição suas habilidades singulares. Não se observa isso todo dia.

A fotografia de 45 years tem suas particularidades. Passamos quase duas horas com tons claros, variando do verde para o azul e em alguns momentos chegando ao amarelo dos campos interioranos da Inglaterra. Somos presenteados com ângulos maravilhosos, que tomam toda a paisagem para si e colocam na tela. Esses momentos em que observamos todo um plano paisagístico se repetem em várias tomadas e só deixa o filme ainda mais digno de interpretações; essa lacunas oferecidas pelo diretor são propositais. Deixam o espectador observar e criar uma verdade sobre aquilo. O filme inteiro nos coloca nesta posição, não de apenas ouvinte ou espectador, mas de interpretador de algumas situações. O drama do fim da vida é retratado visceralmente, com diálogos que se encaixam perfeitamente. De uma realidade brusca e sem entremeios, 45 years nos leva a refletir sobre um tema básico, simples e que com o passar dos minutos se torna denso. Uma obra admirável e com mil significados, virando de pessoa por pessoa.

Críticas de Cinema, Filmes

Crítica: Winter On Fire: Ukraine’s Fight for Freedom (2015)

Desprenda-se de tudo e de todos, lance no mais profundo rio seus prazeres e seus fetiches, não se vista com o orgulho ou soberba que por dias lhe consomem, por ser quem é. Desista dessa falível encenação e pare, pense sobre tudo isso e por fim aperte o play. Só assim, se martirizando de início você não sofrerá o que todos nós sofremos ao assistir “Winter on Fire”. Minto, você sofrerá, mas não portará esse sentimento de incompetência e inutilidade que aquele que assiste o documentário comumente carrega. Não sei quando o efeito do filme irá passar, não faço a mínima ideia, mas tenho toda a certeza que levarei lições concretas para a toda vida depois que vi tremenda produção.

A Ucrânia encarou sua independência em 1990, de lá para cá o país enfrenta mudanças drásticas e uma delas é o tema central do documentário “Winter on Fire”.  Quando o então presidente  Viktor Yanukovytch assume seu cargo de comandante do país as expectativas caiam justamente na questão de que tal assinaria o acordo que colocaria a Ucrânia na União Europeia. Que tornaria de fato o país em um país europeu. Mas Yanukovytch não ascendera ao poder com tal objetivo, o imã deste era atraído pelo outro lado da história. O presidente negara tal acordo e mostrou sua real face ao se esgueirar para cumprimentar com toda alegria e satisfação a Rússia de Putin. A partir deste momento as coisas começaram a acontecer na Ucrânia. Milhares de jovens se reuniram na Praça da Independência em 2013, estes carregavam bandeiras do país e da União Europeia, simbolizando o anseio popular por tal junção. Esses mesmos estudantes acompanhados de outras esferas populares foram brutalmente agredidos pela polícia, mesmo estando desarmados, mesmo estando protestando da forma mais pacífica possível.

Após o ocorrido em “Maidan” (A Praça da Independência) o perfil das manifestações foi se fortificando, até chegar a um número gigantesco de mais de um milhão de pessoas juntas naquele lugar, tudo isso por conta da atitude ditatorial do estado frente aos protestos . Estamos falando deste quantitativo de pessoas:

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A partir dai uma guerra toma conta de Kiev e de toda a Ucrânia. Conflito marcado pela covardia militar em atacar pessoas que até então estavam desarmadas, marcado por ser o estopim de uma das atuais revoluções e representar toda a revolta do povo Ucraniano, na verdade, esta é a personificação da ira causada pelos anos de repressão encoberta que acabou por atingir níveis inimagináveis a medida em que o povo saia às ruas. O documentário é de nacionalidade Ucraniana, mas tem a Netflix como detentora e produtora, este concorre com outros dois documentários da netflix (Amy e What Happened, Miss Simone) e com Cartel Land e The Look of Silence. Esta é uma categoria perigosa, a de Melhor documentário em longa-metragem, porque ao assistirmos cada longa acabamos por adentrar naquela situação, acabamos por sentir uma parcela mínima do que aquelas pessoas sentiam, e todos os indicados se encarregaram de fazer isso de uma forma espetacular. No filme que conta a história de Nina Simone observamos aquela loucura, aquela delírio provocado por sua dedicação extrema à arte e à luta. Isso se repete em Amy, em The Look of Silence e em Cartel Land, mas em minha humilde opinião, Winter on Fire consegue provocar o espectador de um modo que os outros documentários não conseguem. É de uma mortalidade que nos transporta para outros lugares, para a Ucrânia, para Maidan e nos faz erguer a bandeira bicolor e gritar “Glória aos heróis”. A forma como as imagens foram captadas transparece isso. Estamos em uma zona de conflito onde viver é a menor das certezas e perder sangue em prol da nação é ato inquestionável.

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A luta ucraniana posta em cena só nos causa vergonha profunda, nos deixa desnorteados pois reclamamos de pouca coisa, não agimos por grandes mudanças e achamos que dedicar nossas forças em coisas muitas vezes inúteis se constitui em atos de heroísmo. Um misto de sensações se apossam de quem vê tamanha barbárie, tamanha coragem dos filhos de um país recém-liberto que não admitem serem escravizados à leis desumanas. O mundo presencia novas ondas de liberdade, igualdade e fraternidade, novos homens e mulheres que não se satisfazem com assistir o acontecimento e apenas isso. Eles precisam ir para o centro de tudo, precisam ser agentes de seu próprio destino. “Winter on Fire” traduz tudo isso em quase duas horas de filme. É um filme que nos lança para o inferno chamado totalitarismo, para ao chegarmos lá, vermos que não existe outro caminho a não ser lutar e mostrar as garras. É impossível não se emocionar com o documentário, impossível assistir “Winter on Fire” e continuar a mesma pessoa, com mesmos conceitos e medos. Quando o longa acaba um pedaço do espectador se encontra modificado, atônito e sem ar.

Glória à Ucrânia

Glória aos Heróis

Atualizações

Beco Awards: Conheça os Indicados em “CINEMA”

E demos a largada à primeira Beco Awards, que se iniciou com a divulgação dos indicados na categoria “Literatura”. Agora, para defender a sétima arte, abaixo se encontra aqueles que concorrerão na seção “Cinema” desta premiação. Todos sabem de fato que 2015 foi um ano repleto de filmes ícones que trará um grande reconhecimento a cultura POP, nerd, cult, cinéfila. Com filmes, atores e trilhas sonoras, nesta categoria resumimos os melhores e de mais destaque, mas é você que escolherá o melhor entre os melhores. A Beco Awards tem toda a honra de anunciar os concorrentes que serão por fim consagrados como ganhadores por todo o público durante março, ou melhor, a partir de 29 de fevereiro. Faça sua pipoca e assista, ou melhor, vote em seu favorito!

Confira a lista dos indicados:

Melhor filme NACIONAL
Que Horas Ela Volta?
Beira-mar
Boi Neon
Entre Abelhas
A História da Eternidade
SOS – Mulheres ao Mar 2
Melhor atuação em filme NACIONAL
Maurício Barcellos por “Beira-Mar”
Juliano Cazarré por “Boi Neon”
Irandhir Santos por “A História da Eternidade”
Regina Casé por “Que Horas Ela Volta?”
Camila Márdila por “Que Horas Ela Volta?”
Marcélia Cartaxo por “A História da Eternidade”
Melhor trilha sonora original de filme NACIONAL
Boi Neon
A História da Eternidade
Beira-mar
Entre Abelhas
Cássia Eller
Melhor filme ESTRANGEIRO
Mad Max
O Regresso
Star Wars: O Despertar da Força
O Quarto de Jack
A Garota Dinamarquesa
Os Oito Odiados
Melhor atuação em filme ESTRANGEIRO
Eddie Redmayne, por “A Garota Dinamarquesa”
Jacob Tremblay, por “O Quarto de Jack”
Leonardo DiCaprio, por “O Regresso”
Samuel L. Jackson, por “Os Oito Odiados”
Brie Larson, por “O Quarto de Jack”
Cate Blanchet, por “Carol”
Emily Blunt, por “Sicario: Terra de Ninguém”
Charlize Theron, por “Mad Max”
Melhor trilha sonora original de filme ESTRANGEIRO
Os Oito Odiados
Carol
Suffragette
O Regresso
Sicario: Terra de Ninguém
Mad Max

A primeira edição da Beco Awards começa no dia 29 de fevereiro.

Atualizações, Colunas, Filmes

Coluna: Spotlight e sua denúncia sobre o silêncio

Fui ensinado de que existem três coisas que devem e merecem permanecer intocáveis: Política, futebol e religião. Você com toda certeza já recebeu esse conselho, não? Não mexe ai, isso é assunto seleto. Pois bem, eis aquele momento em que cai por terra todos esses costumes e bloqueios e você nota que política é assunto primordial para a vida de qualquer ser humano, futebol é facultativo e religião, bem, religião está por toda parte e a pessoa que se preze deve construir nem que seja um fragmento de opinião sobre isso. Já falamos por meses e meses sobre política aqui, debatemos sobre manobras, modos de se fazer política e sobre tudo o jeito como este país está sendo governado. Hoje não fugiremos da política, infelizmente (ou felizmente?), pois existem aqueles que desejam se apropriar da religião para se alavancar no meio citado. Hoje iremos nos aprofundar nos erros grotescos que ocorrem nas mais variadas religiões, falaremos sobre atos que nunca deveriam ter acontecido, e sobre os que acontecem e continuam por ser varridos para debaixo do tapete. Nossa inspiração? O longa “Spotlight”, indicado pela Academia em 6 categorias no Oscar 2016. Nosso embasamento? A falta de fé e palavra de alguns líderes.

O filme “Spotlight” trás para as telas uma investigação realizada por determinada equipe de uma jornal norte-americano sobre crimes sexuais cometidos por membros do clero da igreja católica de Boston. A partir de poucos casos descobertos de estupros e assédios cometidos por sacerdotes, os repórteres se aprofundam no caso, revelando um escândalo gigantesco, onde mais de cem vítimas foram totalizadas, isso repercutiu mundo a fora e todos nós sabemos a profundidade dos casos, até onde chegaram, como tais atos desumanos invadiram as paredes sagradas da cidade farol do catolicismo, como padres, bispos, cardeais estupraram crianças e passaram despercebidos, foram encobertos pela Igreja. Hoje temos em mente que a praça de São Pedro não só foi lavada por sangue das guerras santas, mas por lágrimas de crianças mundo a fora. O filme é de uma realidade que aterroriza, mas iremos nos conter por hora pois neste sábado uma crítica sobre o longa irá ao ar com detalhes cruciais do filme. Indicamos um outro filme com esta temática, e de certa forma avassalador assim como “Spotlight”. “O Clube” é o título do longa lançado também ano passado que conta como se dá “a punição” destes padres estupradores e criminosos perante a Igreja. Você confere o trailer abaixo:

Antes de nos aprofundarmos neste tema, é preciso dar destaque a algo: A religião é falha. Isto é fato. Não digo que suas escrituras são falhas, que pecam em cada frase, longe disso, ainda iremos falar sobre os livros sagrados pois é necessário de toda forma, mas o que desejamos passar é que a religião, por ser administrada por homens consequentemente encontra um caminho falho, já que homem nenhum é perfeito. No fim das contas, a religião é o reflexo de seus seguidores, e acima de tudo, daqueles que se dizem “Líderes” e comandantes de tal legião. Sobre os abusos sexuais até hoje são contabilizados mais e mais casos semelhantes aos descobertos em Boston, mas o ápice ocorrera durante o papado de Bento XVI. Fora lá que o mundo conseguiu encarar a face manipuladora da Igreja, novamente. O Papa sobre tal situação primeiramente proferiu declarações duvidosas, parecidíssimas com o que tanto fora repetido décadas após décadas sobre os crimes abafados. Após receber acusações de que estava por acobertar ainda mais os criminosos, o Papa remodelou seu discurso, o deixou apresentável ao público: Resumindo, falou o que os fieis e os não-fiéis desejavam ouvir, mas as ações que realmente deveriam ser tomadas só vieram emergir no papado seguinte, com o atual pontífice, Francisco, que por meio de mudanças drásticas na cúpula da religião está encaminhando uma onda de modificações no modo como a igreja reage frente a assuntos como esse. Que fique claro também outro quesito: Não se fala aqui da fé ou dos dogmas da religião, mas sim de seus representantes. Não é intensão nossa reivindicar mudanças nos dogmas religiosos, pois caso isso ocorresse deixariam de ser dogmas. Isto é assunto da Igreja para a Igreja, de determinada religião para esta e só, não cabe as pessoas que estão fora de tal âmbito querer interferir na fé alheia. Mas quando o assunto extrapola e atinge as áreas judiciais e cidadãs, bem, é dever de qualquer um, ateu, espírita, católico ou protestante, agir. Estupros que ocorrem sob o teto sacro não ficam apenas neste, eles em algum momento surgem para aqueles que procuram saber sobre e nenhuma proteção, nenhum abrigo deve ser dado para pessoas que cometem tão horrenda ação. Justiça, é a palavra-chave neste caso e nenhuma batina tem como serventia defender estrupidadores nos tribunais, pelo menos assim deveria ser.

A partir de agora colocaremos o assunto acima, que serviu como guia para onde acabamos de chegar, de lado. Spotlight é uma obra prima e nos apareceu como a ponta do iceberg. Se mergulharmos bem mais fundo veremos uma montanha grotesca de hipocrisias e atos que vão de contra ao que as seguintes religiões pregam. Sem querer, pois estava ouvindo música no youtube, deparei-me com um vídeo interessante e que me causou vergonha alheia de principio, mas após alguns segundos pude observar a gravidade de tudo aquilo. Lá está no vídeo o pastor Marco Feliciano, presidente da Assembleia de Deus Catedral do Avivamento, pregando em mais um dos rotineiros cultos da Igreja. Até ai, tudo bem, nada mais normal que isso, não? Um pastor pregando? Mas o tema até que é engraçado, aos poucos o pastor vai introduzindo uma narrativa cheia de entremeios, com algumas (várias) mentiras nas suas frases, até chegar no cantor e compositor Caetano Veloso. O pastor simplesmente acusa Caetano Veloso de ter recebido auxílio de satanás, o próprio, para a venda de um disco seu que continha a música “Sozinho” (as vezes no silêncio da noite... você conhece). Feliciano neste vídeo que é antigo (2013) mas que comprova a pessoa do pastor, usa dados que para ele e seus fiéis são verídicos para destinar todo o sucesso de Caetano a pactos realizados em terreiros de candomblé. Em uma das partes do vídeo ele faz uma interpretação digna de Oscar para revelar o segredo de Caetano Veloso ter conseguido vender um milhão de cópias, e por fim fala que a força do cantor vem de uma mãe de santo, nomeada Mãe Menininha do Patuá. É ai meus amigos que a coisa começa a virar uma piada completa (já era). Quem conhece o candomblé, ou ao menos um pouco sobre a religião, sabe que um dos expoentes da mesmo é Mãe Menininha do Gantois (que na pronúncia fica Gantuá), veja, Marco Feliciano só precisaria fazer uma simples pesquisa para deixar sua fantasia ainda mais convincente, mas não, é muito trabalho para enganar milhares de fiéis. Esse discurso de Feliciano, ao colocar a Iyálorixá como servidora do demônio, e transformar os Orixás em o próprio satanás adentra na mente das pessoas, chega no ouvido de crianças, pais e mães e as deixa completamente desnorteadas. Em uma sociedade onde o negro é associado a escravidão, e religião negra é associada ao submundo por questões históricas que se transvestem nos dias de hoje para reproduzir o maior nível de preconceito possível, tais palavras vindas de um líder só pode repercutir em algo maior. E infelizmente aconteceu isso. Além do preconceito habitual gerado pelas diversas religiões em relação as de matrizes africanas (que não deve existir), um caso chocou o país há algum tempo. Uma garota, vinda do culto de candomblé, foi apedrejada. Os presentes relataram que os agressores portavam bíblias. Perceba, todo o discurso de ódio reproduzido por Felicianos nas mais diversas igrejas, independente da religião, resultam em atos fanáticos que tiram vidas ou deixam pessoas gravemente feridas. É certo que, como falei, não devemos agir no que condiz a ações internas das religiões, mas é um erro grotesco ficar parado ao ver que os atos de tais religiões em seus templos resultam em uma guerra constante nutrida de palavras de ódio e violência. O amor ao próximo, o respeito, a fraternidade ensinada por Jesus transformou-se em “desrespeitai, odiai e matarás” o teu próximo. Atingimos um estágio de alienação popular que deixa qualquer um bestializado. Voltamos a época em que negros não podem cruzar pontes, em que qualquer cidade do interior ou da capital transformou-se na nova Selma. Sobre esse processo de uso da oratória para enganar milhares com tão pouco, indicamos o filme “A Onda”, que para muitos já é clichê, mas pode servir como um “alerta” sobre determinadas coisas. Confira o trailer abaixo:

Realizando uma quebra no assunto “Intolerância religiosa”, vamos para um tópico que se enquadra muito bem nesta questão de se contradizer. Em Uberaba, centro do Espiritismo no Brasil, ano passado, presenciei uma cena que deixaria qualquer um entendedor da Doutrina revoltado. Nos foi informado que nenhuma loja da cidade estava autorizada a vender material que estivesse estampado com qualquer que fosse a figura relacionada a Chico Xavier (Grande nome da religião não só no país, mas em todo o planeta), até ai tudo bem, os responsáveis estariam preservando a imagem do médium, mas o que ocorreu, neste mesmo dia fomos até o museu destinado a Francisco Cândido Xavier e encontramos de tudo. Bolsa, chaveiro, camisa, caneca, copo, tudo que um bom capitalista iria adorar ver se encontrava no local estampados com o rosto sorridente e sereno de Chico Xavier. O que aconteceu em Uberaba (e ainda deve está acontecendo, não sei, quem for de Uberaba ou passara por lá há pouco, conte-nos nos comentários, estamos curiosos) fora nada menos que um monopólio comercial; realizado por REPRESENTANTES, eu disse, do legado do médium. Homem que pregara o desprendimento das coisas materiais. Trabalhadores de uma religião que tem como eixo principal a caridade e valorização dos bons atos, doutrina que nada necessita materialmente, mas oferece espiritual e fisicamente. Também em Uberaba, nos foi informado que em alguns centro espíritas (entre os mais de sessenta da cidade) falsos médiuns fingiam incorporar o espírito de Chico Xavier, trazendo mensagens descaradamente comerciais, e os homens e mulheres, nauseados por uma fé cega, acreditavam e atendiam as exigências demandadas pelos charlatões. No distrito central da religião no país, atos como esses se repetem e nos perguntamos: O que a religião faz sobre isso? Vou melhor formular minha pergunta: O que os representantes da religião fazem sobre isso?

Recentemente presenciamos a festa de Iemanjá em Salvador e em outras cidades do país. Milhares de pessoas enviando suas oferendas à Dona Janaína. Junto a festa também surgiu um questionamento que há tempos se vem fazendo presente mas que desta vez ganhou maior evidência: Para onde vão esses barcos e oferendas maiores? Vão para o fundo do mar que acaba por ficar poluído com uma demanda gigantesca de material que não dissolve fácil, que vai passar anos vagando por ai ou regressar para a praia. O candomblé tem seu Deus maior, Olorum, criador de tudo e todos. Fora Olorum que criara os Orixás e esses se fazem presente como entidades ligadas à natureza, eles são a natureza. Sendo assim é necessário no candomblé todo um respeito imenso para com a natureza. “Kosi Ewé, Kosi Òrìsà”, em Iorubá significa “Sem folha não há Orixá”, ou seja, sem folha não há nada, sem natureza não existe candomblé, então porque, para o culto a determinado Orixá tanto dano se causa à natureza? Líderes da religião tentam ao passar dos anos transformar os rituais, adapta-lós para a atualidade. Um filme que pode ajudar a compreensão de tal tema é “Jardim das folhas sagradas”. Nele, além da questão já levantada anteriormente, vemos o debate religioso interno sobre o sacrifício de animais nos cultos, assunto esse que não adentraremos pois não nos cabe, como já deixamos claro diversas vezes nessa coluna, modificar dogmas que não afetam a sociedade como atos ilegais e/ou possam causar danos futuros por conta de discursos de ódio ou repressão. Para dar uma olhada rápida no trailer do filme citado acima, clique no vídeo:

Como foi demonstrado, a religião é falha, por ser guiada por homens que em sua plenitude não condizem com as escrituras que seguem, ou nem mesmo em poucas parcelas são o retrato daqueles ensinamentos. Não falamos da fé, pois isso é íntimo, mas é preciso que as pessoas “orem e vigiem”, notem o que está acontecendo de errado e falem, coloquem um basta em certas atitudes que só perpetuam o ódio e o preconceito. A constituição vigente permite o culto livre, então que se faça, sem precisar ser apedrejado por adorar seu Orixá, sem ser ridicularizado por acreditar em fenômenos mediúnicos ou ter como guia milagres relatados em escrituras que para aquela pessoa é sagrada. Não se pode julgar as pessoas por suas vestes ritualísticas ou por comemorarem natal ou Hanukkah. A fé, a crença ou a descrença são pertencentes aqueles que destinam suas energias para tais, não para pessoas que em nada pertencem aquilo, mas existe um limite que não deve nem ser extrapolado por quem está fora, nem por quem está agindo em determinada situação. Não podemos fechar os olhos para estupros só porque existe uma religião envolvida, é ai que todo cidadão deve reunir forças para combater atos criminosos. Ouvir discurso de ódio, na igreja ou fora dela e ficar calado é contribuir para a proliferação deste. Escutar pastor, sacerdote, palestrante ou rabino falar que gay, negro e mulher são seres inferiores e ficar calado é fazer parte do insulto, do preconceito e da monstruosidade nutrida por determinados representantes religiosos. O longa “Spotlight”, nosso amigo que nos fez chegar até aqui, também deixa explícito uma questão básica que muitos de nós temos em mente desde que eramos um feto, e é o seguinte: Não se aposta contra a Igreja. Essa frase é repetida mil vezes durante o filme. Não se aposta contra a Igreja. Não se aposta contra a religião. Bem, amigos, é onde chegamos e por aqui nos despedimos, mas quero dizer: Quando a religião, por meio de seus representantes se mostra errática, bem, se aposta contra sim. Quando se nota que em determinado momento estado e religião são a mesma coisa e que estamos em um labirinto que de “Laico” só tem a placa, é o momento de ir contra qualquer que seja o culpado por tal erro ocorrer.

Neste sábado (10/02) nossa crítica do filme “Spotlight” entrará no ar, enquanto isso você pode ver o trailer e dar aquela conferida no filme.

Atualizações

Beco Awards: Conheça os indicados em “LITERATURA”

Iniciando a divulgação dos indicados na primeira edição da Beco Awards, abaixo estão aqueles que concorrerão na seção “Literatura”. Autores, seus livros e personagens, juntos em uma lista que reúne o que tivemos de melhor na literatura mundial. Desde o janeiro cheio de promessas até o dezembro idealizado por todos, as obras e seus geradores estão inclusos nesta lista. A Beco Awards tem toda a honra de anunciar os concorrentes que serão por fim consagrados como ganhadores por todo o público durante março, ou melhor, a partir de 29 de fevereiro. Confira se seu livro preferido está entre os indicados, se não, pode reclamar, perguntar, ligar para o PROCON, afinal a votação é totalmente, do início ao fim, de vocês.

Confira a lista dos indicados:

Melhor livro NACIONAL

  • A realidade devia ser proibida – Maria Clara Drummond
  • O senhor agora vai mudar de corpo – Raimundo Carrero
  • O Vilarejo – Rafael Montes
  • Destinado – Carina Rissi
  • A de Mar – A História de Domar Della – Ana Clara Medeiros
  • A-LII – Ana Macedo

Melhor personagem em livro NACIONAL

  • Maria – A de Mar – A História de Domar Della
  • A-LII – A-LII
  • Isabela – Não se iluda, não
  • Ian Clark – Destinado
  • Belzebu – O Vilarejo
  • Domar Della – A de Mar – A História de Domar Della

Melhor autor ou autora NACIONAL

  • Raimundo Carrero por “O Senhor agora vai mudar de corpo”
  • Ana Macedo por “A-LII”
  • Ana Clara Medeiros por “A de Mar – A História de Domar Della”
  • Rafael Montes por “O Vilarejo”
  • Maria Clara Drummond por “A realidade devia ser proibida”
  • Carina Rissi por “Destinado”

Melhor livro ESTRANGEIRO

  • Por lugares incríveis – Jennifer Niven
  • Toda luz que não podemos ver – Anthony Doerr
  • Revival – Stephen King
  • Assim começa o mal – Javier Marías
  • Career of Evil – J.K. Rowling
  • Difamação – Renee Knight

Melhor personagem em livro ESTRANGEIRO

  • Celaena – Herdeira do Fogo
  • Catherine Ravenscroft – Difamação
  • Theodore Finch – Por Lugares Incríveis
  • Laia – Uma Chama Entre as Cinzas
  • Jamie Morton – Revival
  • Cormoran Strike – Career of Evil

Melhor autor ou autora ESTRANGEIRO(A)

  • Jennifer Niven por “Por lugares incríveis “
  • Anthony Doerr por “Toda luz que não podemos ver “
  • Stephen King por “Revival”
  • Javier Marías por “Assim começa o mal”
  • J.K. Rowling por “Career of Evil”
  • Renee Knight por “Difamação”

A primeira edição da Beco Awards começa no dia 29 de fevereiro.

 

Atualizações, Críticas de Cinema

Crítica: The Big Short (2015)

A economia mundial preserva sua estabilidade dia após dia, assim enxergavam todas as pessoas durante 2007 e 2008, mas sempre, acredite, sempre existirá aquele que conseguirá prever o caos em meio a tanta tranquilidade. “The Big Short” conta a história de poucos homens que conseguiram prever a crise que estava se apossando do mercado, tudo isso por poucos números, visíveis a todos. Mas não adentraremos na questão econômica da coisa, falaremos aqui exclusivamente do filme e por acidente acabaremos por cair em algumas explicações sobre o assunto recorrente do longa. É um filme que precisa ser esculpido com o passar dos minutos, ele não vem pronto, explícito para quem assiste, é difícil de se achar filmes assim, e ainda mais complicado conseguir entende-lo por completo.

“The Big Short”, como o próprio título diz “A Grande aposta” coloca nas telas a história de algumas pessoas que conseguiram se movimentar e se aprofundar na magnitude da crise que estava por vir, quando ninguém mais visualizava aquilo. Era algo arriscado, que envolveria milhões e milhões de dólares, mas eles acabaram apostando. Aguardamos o momento da “verdade” com grande ansiedade, loucos para encararmos os personagens após tantos obstáculos e comemorarmos a vitória prevista. Nada disso ocorre. Mas comecemos do começo. Temos o investidor Michael Burry, interpretado por Christian Bale (que por sinal está gigantesco neste filme, falaremos daqui a pouco sobre isso), ele acredita que o sistema imobiliário dos EUA vai despencar gradativamente e em determinado momento enfrentará um abismo quase que sem fim. Ninguém acredita em Burry, por esse motivo e tantos outros ele saca o dinheiro das pessoas que investem em sua empresa e aposta tudo contra o sistema. Ninguém antes fizera isso e tinha se saído bem. A empresa de Burry entra em colapso e ele sustenta sua aposta por entre os meses, isso reflete em todo o sub-mercado, pessoas começam a saber dos atos de Michael Burry e outros empresários como Mark Baum (Steve Carell) e Jared Vennett (Ryan Gosling) junto a dois iniciantes nos negócios, adentram no tal “esporte” de apostar contra o mercado. Vemos ai uma teia formada pelo roteirista que funciona muito bem mesmo quando esses personagens não acabam por se encontrar, cada qual em seu lugar, poucos são aqueles que se relacionam com os outros. Temos polos divididos em toda Wall Street, mas ao mesmo tempo correlacionados por estaremos envolvidos em um mesmo investimento, isso deixa o filme com um elenco principal gigantesco e um elenco secundário três vezes maior, porque não só se fala de economia. Temos os relacionamentos pessoas de ambos personagens. Vemos Michael Burry se envolver drasticamente com a situação e acabar por encorporar uma loucura maior que a já presente, encaramos Mark Baum enfrentando o suicídio do irmão e os dois jovens estreantes tentando gravar seus nomes na parede gigantesca do mercado norte-americano.

A caracterização dos personagens é de um detalhismo fora de série. Começando por Michael Burry vemos que os roteiristas ( Adam McKay e Charles Randolph) conseguiram adaptar a obra de Michael Lewis fantasticamente, e além de tudo acrescentaram características aos personagens, isso é somado as grandes atuações de todo o elenco e temos um filme que passa rápido até demais, um filme encharcado de teorias e jargões economicistas que só nos aproximam do ambiente ao invés de deixar o longa enfadonho. “The Big Short” é indicado a Melhor Roteiro Adaptado e concorre com o incrível “Room”, não temos toda a certeza sobre essa categoria, mas que os roteiristas fizerem um trabalho descomunal, não existe certeza maior. Michael Burry, o personagem que há pouco falávamos recebeu como interprete Christian Bale, que está em sua melhor forma neste filme. Com um olho falso, uma atuação inquietante e diversos momentos de êxtase irracional, frente à uma bateria ou na mesa do escritório, Bale consegue fazer de seu personagem um dos mais bem produzidos do longa, junto ao de Steve Carell. Bale concorre na categoria “Melhor ator coadjuvante”, enfrentando Tom Hardy que vem acompanhado do frio e as estatuetas já ganhas por “O Regresso”. É uma briga que acompanharemos até o grande dia como espectadores frenéticos. Devemos falar também de Steve Carell, que já se mostrou ser um bom ator para interpretar psicóticos em “Foxcatcher”, e faz o mesmo em “The Big Short” só que mil vezes melhor. O personagem oferecido a Carell tem muitas faces, é o senhor da teoria da conspiração e prova que no fim das contas está certo, é o típico apostador do contra. Depois do suicídio do irmão ele reforçou suas teorias, e é aqui que vemos os dois lados de Wall Street, a loucura que está impregnada nos prédios, no ato de se fazer economia, isso transpira dos mais variados personagens, mas exclusivamente em Mark Baum (Steve Carell) e Michael Burry (Christian Bale) temos a exemplificação de como os negócios podem transformar o homem, assim como toda forma de trabalho onde se é dedicada vida e morte. É desumano em certos momentos, o filme, e isso, para o fã do cinema, é maravilhoso de se ver.

“The big short” é indicado a melhor filme, mas convenhamos, não é para tanto. É um incrível filme, mas sozinho, sem concorrentes, tem tudo que é preciso para um longa que prende, que te deixa semanas pensando sobre, mas não é o ápice da sétima arte para conquistar a tão desejada estatueta. Não se aproxima de “Room” nem “O Regresso”, nem consegue ofuscar “Spotlight” com seu enredo desafiador. É um filme nutrido de técnicas não vistas em outros, como algumas tiradas e ângulos usados para captar os sentimentos de alguns personagens e o panorama central do enredo, mas não é o topo do “fazer cinema” e por isso mesmo não merece levar tal categoria, mas está nesta por mérito, diferentemente de Brooklyn (o que aquele filme está fazendo ali?). No mais, consegue suprir as expectativas e coloca as cartas necessárias para um jogo arriscado como esse, que é narrar economia frente ao grande público, misturar drama familiar com mercado mundial, transformar problemas mínimos em um amontoado de desastres. É bem feito e pensado para leigos econômicos ou conhecedores do mercado, mas nem de longe para desacostumados com o cinema, é longa para quem já viu centenas de filmes sobre o assunto, estreantes se perdem no labirinto de “The Big Short”.

Atualizações

Conheça os ganhadores do BAFTA 2016

Faltando 12 dias para o Oscar, um dos termômetros mais aguardados lançou seus vencedores. A “British Academy of Film and Television Arts” consagrou na noite de ontem “O Regresso” e “Mad Max” como os donos de mais estatuetas, isso vem ocorrendo nas diversas premiações, e pode, eu disse PODE, acontecer o mesmo no Oscar, mas sobre a Academia duvidamos de tudo e todos. Confira a lista completa dos vencedores do BAFTA 2016 abaixo:

Melhor Filme
O Regresso

Melhor Filme Britânico
Brooklin

Melhor estreia de um diretor, produtor ou roteirista britânico
Naji Abu Nowar (escritor e diretor) e Rupert Lloyd (produtor), O Lobo do Deserto

Melhor Filme em Língua Não Inglesa
Relatos Selvagens

Melhor Documentário
Amy

Melhor Filme de Animação
Divertida Mente

Melhor Direção
Alejandro G. Iñárritu, O Regresso

Melhor Roteiro Original
Spotlight – Segredos Revelados

Melhor Roteiro Adaptado
A Grande Aposta

Melhor Ator
Leonardo DiCaprio, O Regresso

Melhor Atriz
Brie Larson, O Quarto de Jack

Melhor Ator Coadjuvante
Mark Rylance, Ponte dos Espiões

Melhor Atriz Coadjuvante
Kate Winslet, Steve Jobs

Melhor Trilha Sonora
Os Oito Odiados

Melhor Direção de Fotografia
O Regresso

Melhor Montagem
Mad Max: Estrada da Fúria

Melhor Direção de Arte
Mad Max: Estrada da Fúria

Melhor Figurino
Mad Max: Estrada da Fúria

Melhor Maquiagem e Penteado
Mad Max: Estrada da Fúria

Melhor Som
O Regresso

Melhores Efeitos Visuais
Star Wars – Despertar da Força

Melhor Curta-Metragem de Animação Britânico
Edmond

Melhor Curta-Metragem Britânico
Operator

Melhor Astro ou Estrela em Ascensão
John Boyega